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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



SÂNZIO DE AZEVEDO
 

Rafael Sânzio de Azevedo , nascido em Fortaleza, Ceará (1938) é um poeta, ficcionista e, especialmente, ensaísta brasileiro. Filho do poeta e pintor Otacílio de Azevedo, foi desenhista de rótulos de aguardente, foi revisor no jornal O Estado de São Paulo. Doutor em Letras pela Faculdade de Letras da UFRJ, sua tese versou sobre A Padaria Espiritual e o Simbolismo no Ceará e teve, como orientador acadêmico, Afrânio Coutinho. Em 1973, ano que ingressou, através de concurso, no magistério da UFC, foi eleito para ocupar a Cadeira nº 1 (cujo Patrono é Adolfo Caminha) da Academia Cearense.

Várias vezes premiado com signifícativas láureas literárias (...), teve a obra poética elogiada por nomes conhecidos nacionalmene como os de Carlos Drummond de Andrade, Guilherme de Almeida, Fernando Jorge, Artur Eduardo Benevides, destacando seus sonetos, de fino lavor, Antonio Girão Barroso e Otacílio Colares.” Assis Brasil

Poemas extraídos de

CANTOS DA ANTEVÉSPERA

Fortaleza: UFC; Casa de José de Alencar, 1999

 

MEMÓRIA III

 

                            Para Carlos Augusto Vianna

 

 

                   Outro longe, mais perto mas não tanto:

                   era São Paulo; há luz em cada canto

                   na noite azul de frio e de garoa

                   molhando sonhos. De repente ecoa

 

                   uma sirena. O céu é um vasto manto

                   que reflete os anúncios. Como um pranto

                   de desespero, cai a chuva, e troa

                   o trovão, que ribomba e que reboa!

 

                   Turitando de frio, o forasteiro

                   vê que se escoa mais um ano inteiro

                   sem saber se algum dia voltará.

 

                   São Paulo agora é sonho, é névoa, é vento

                   a soprar leve, sob um céu cinzento

                   que promete chover no Ceará.

 

 

                   SONETO PARFA O POETA FRANCISCO DE CARVALHO

 

                   Dos tempos de menino te ficaram

as tardes de sol quente onde os lamentos

dos velhos bois que a morte ruminvam

se esvaíam nas túnicas dos ventos.

 

Na gleba de teu pai ainda há frutos

das árvores regadas pelos sonhos;

os alpendres, porém, e os altos muros

não deixaram vestígios nem escombros.

 

Mas tens o verso, com que todo dia

fazes viver um mundo de utopias

com a antiga crença de um profeta hebreu.

 

E vês que a hora do poema é a hora da lavra

em que ficas à espreita da palavra

que há de queimar como o êxtase de Deus.

 

 

EM LISBOA

 

         Para Linhares Filho

 

Há no Chiado um café

que se chama “A Brasileira”

e tem à porta um poeta

sentado numa cadeira.

 

Na verdade é uma estátua

de poeta consagrado,

tendo bem limpa e vazia

outra cadeira ao lado.

 

Uma foto ali sentado

a viagem me coroa,

pois a estátua de que falo

é de Fernando Pessoa.

 

Só não sei se estou ao lado

dele ou de um dos outros três:

o mestre Alberto Caieiro,

Campos ou Ricardo Reis... 

  


Extraído de
POESIA CEARENSE DE HOJE
Compilação de Carneiro Portela
Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1973.
 

 

                            SE PROCURO ... 

Se procuro no cérebro as imagens
que em meu olhar, há tempos, embebi,
ouço o ranger de dentes de engrenagens
a triturar os sonhos que perdi... 

o que é que vim fazer nestas paragens?
Que tempestade me arrojou aqui?
Por que não me lancei noutras viagens,
já que deixei a terra onde nasci? 

Tive a ambição dos nômades nos olhos!
Hoje, nem sei, cercado por escolhos,
que tempestade me arrojou aqui! 

E vivo agora assim, perdido e absorto,
entre a saudade do primeiro porto,
e a tentação das terras que não vi!

                                                         (S. Paulo, 1963)

 

                            O REALEJO 

O papagaio traz no bico a sorte
do transeunte da cidade grande;
dragões de ferro andam semeando a morte,
mas o realejo em música se expande.

Fanhoso, ele renasce a velha valsa
que sobe com o barulho da avenida.
Juntas as vozes se afigura falsa
alguma delas na manhã perdida...

Saias-balão, casacas e cartolas
misturam-se aos «blue-jeans» e mini-saias;
gemem sirenas, rangem grafonolas,

cresce o edifício em meio às samambaias.
Rugem motores de hoje antigamente
ou cantam flautas de ontem no presente? 

                                                        (Fortaleza, 1967)

 

AZEVEDO, Sânzio deCarpe Diem. Jabotão, PE: Editora Guararapes, 2015.  18 p.  20x13 cm. Editor: Edson Guedes de Morais.  “Sânzio de Azevedo” Ex. bibl. Antonio Miranda

http://issuu.com/antoniomiranda/docs/sanzio_de_azevedo/1

 

 




Arte gráfica: Edson Guedes de Moraes
– Editora Guararapes – PE - 2016

 

 

ATLAS DA PADARIA ESPIRITUAL. Transcrição e atualização ortográfica por Sânzio de Azevedo.  Fortaleza, CE: Expressão Gráfica e Editora, 2015.   98 p.  21x30 p. capa dura.  Capa: Larri Pereira e Regina Pamplna Fiuza.  ISBN 978-85-420-0706-0   [Apresentação por José Augusto Bezerra, Presidente da Academia Cearense de Letras] Doação de Aricy Curvello. Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.

 

AZEVEDO, Sânzio de.   Sânzio de Azevedo.   Apresentação por Thiara Nogueira.  Editor Editor: Edson Guedes de Morais.  Jaboatão, PE:   Editora Guararapes EGM, 2018.  Folheto artesanal.

 

SE PROCURO...

Se procuro no cérebro as imagens
que em meu olhar, há tempos, embebi,
ouço o ranger de dentes de engrenagens
a triturar os sonhos que perdi...

o que é que vim fazer nestas paragens?
Que tempestade me arrojou aqui?
Por que não me lancei noutras viagens,
já que deixei a terra em que nasci?

Tive a ambição dos nômades nos olhos!
Hoje, nem sei, cercado por escolhos,
que tempestade me arrojou aqui!

E vivo agora assim, perdido e absorto,
entre a saudade do primeiro porto,
e a tentação das terras que não vi!#

 

*

Página ampliada e republicada em março de 2022.


 


 

 

 

Página publicada em janeiro de 2008; ampliada em julho de 2016.


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