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ROGERIO BESSA

 

 

José Rogerio Fontenele Bessa.  Nasceu em Redenção, Ceará, em 15.09.1942.  Doutor em Letras pela UFRJ (1988). Professor do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Ceará.  Membro da Academia Cearense de Letras.

 

 

REVISTA DE LETRAS. Volume 15  No. 1/8 jan. 1990. Dez. 1993. Nímero comemorativo dos 25 anos de fundação do Grupo SIN.  Fortaleza: Departamento de Letras UFC.

 

 

 

                POEMAS DOS MEUS SAPATOS MARRONS


(NOVAMENTE ENGRAXADOS)


Um par de sapatos, que vida não leva!

Ontem, o meu cartou alto
pisou casa de menina lorde
foi acariciado com o mimo
vermelho do tapete.

Inda me lembro como anoitecera
rabugento anteontem.
De manhã, antes de sairmos
lavei-lhe a cara com a escova.

Hoje, foi um dos seus dias tristes
meteu-se numa poça d´água sem querer
e estalou uma barata.

 



                SONETO DA AMADA

vou perdido e achado em ti
em tempo partida do mundo sem tempo
tempo de omissão de todos os cuidados
para o mundo da tua presença

vou achado e perdido de ti
duas vidas solam um só tempo
tempo de omissão de todos os cuidados
para o mundo da tua presença

vou perdido e achado em ti
dormindo no sem tempo
à sombra do eterno

vou durmo esqueço à sombra de ti
a árvore-de-natal está linda
perdido e achado caminho e não ando

 

 

 

            ELEGIA DO COENTRO

            o canteiro não o faz mais verde
namoram-lhe as sementes os pássaros
cuidado de mulher o ajeita
do vento que o entortou

        vegetal de vida útil e breve
que nasce verde e verde morre
não lhe será longa a vida
as folhas amarelecendo

coentro, tempero de alguns
destempero de si próprio
utilidade verde da vida
brevidade verde de si mesmo

 

 

                       

REDESCOBERTA ADE ORFEU


ou


O MUNDO NUNCA ENCONTRADO

 

DO CANTO III

 

ONOMATOPEIA E CIBERNÉTICA: ÓRBITAS DO HOMEM


SUA AURORA E SEU OCASO



no princípio, não era homem,
antes sonossexo, depois vigília,
o não-sono das coisas.

madrugada sono e sonho
com a descoberta do si,
fecha-se ao vir das sombras

 

E se despe homem vassalo
de sua mesma contextura
qual ode passada a limpo

 

 

 

DO CANTO VI

AO REDOR DO HOMEM


A ILHA BUSCA DA SÍNTESE, SUA DIALÉTICA

 

 

 

                        diariamente o homem


caminha para a certeza


quando eventualidades


não o tomem de surpresa.



homem que faz da vida


o seu surreal panar


não se nutre de ambrosia


mas de carrapicho e urtiga.

 

 

                        o homem vive a sua viagem,


faz seu sonho desilusão,


melodia sua exéquias


na ânsia busca de pão.

 

 

 

 

 

 

Página publicada em junho de 2020




 

 

 
 
 
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