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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



PEDRO HENRIQUE SARAIVA LEÃO

Foto:  http://diariodonordeste.globo.com

PEDRO HENRIQUE SARAIVA LEÃO

 

nome do autor em minúsculas como era costume naqueles tempos de concretismo e suplemento dominical do jornal do brasil que animou a geração do poeta. pedro henrique começou com o livro 12 poemas em inglês (fortaleza: imprensa universitária – ufc, 1960). ainda estudante de medicina, era solicitado pelos amigos para traduções do inglês e do alemão (que dominava, além de outras línguas) dos poemas de ezra pound, joyce, mallarmé, apollinaire e cummings, precursores da poesia verbivocovisual que entusiamava que logo partiram para a exposição de seus trabalhos visuais. do grupo

concretista faziam parte poetas e artistas plásticos: antonio girão barroso, josé alcides pinto, estrigas, goebel weyne, j. figueiredo, pedro henrique saraiva leão, zenon barreto e o arquiteto liberal de castro (à época buscava-se a integração das artes pela poesia).

 

Veja também POESIA ERÓTICA

 

 

m o r c e g o
         c e g o

e r r a              r a i o
s o m             o n d a
s o n d a     s e n d a
          c e g o

 

 

v e i a
v á l  < u l a
< e d a
v e i a
> e d a
v i d a

 

a
t  ( erra)
n o
(  eter  )
no

 

a larva

lavra a

árida pa

l a v r a

  

 

Extraídos do livro Concretemas. Fortaleza: Xisto Colona Editor, 1983. s.p.


***

 

e esse prurido, João?

esta azia vaga, este cansaço fácil

este remédio inútil

esta fútil robustez?

 

e esta prisão de ventre

este pé de atleta

este calo no pé

esta falta de fé?

e esta náusea, joão?

esta dorzinha no braço

esta falta de abraço

?

e este medo danado

este desejo incontido

e este peso

na consciência, joão?

 

 

não tenho medo de câncer

temo que canses de mim;

não temo ficar mudo

mas que não fales em mim

temo, que não me vejas

não que me vazem os olhos;

ser decapitado não temo

temo que não me ouças;

não temo o ventre da baleia

nem a cama do faquir, as brumas do passado

ou aquelas do porvir;

não temo a febre amarela,

mas não amar-me um dia

friamente, com calor

ou o marfim do teu dente, temo;

não temo as estatísticas

os riscos que corremos

(de mãos dadas mais que não);

temo que não celebremos o erro certo

o incerto acerto que tecemos,

que como estátuas fiquemos

que para abraços braços não tenhamos

para beijos bocas não mostremos

que não pertençam os sonhos que sonhamos

 

fica sempre um pouco de nós por onde andamos

dos nossos braços naqueles que abraçamos;

fica sempre algum sussurro daquilo que gritamos

fica sempre algum calor no leito onde dormimos,

alguma nódoa daquilo que vertemos;

sempre algo de nós naquilo que largamos,

um resto de pó dos caminhos que trilhamos,

algum senso na loucura que adotamos,

um ganho qualquer naquilo que perdemos;

fica sempre um bem-querer naqueles que sofremos,

e sempre algo por dizer

daquilo que dissemos

 

 

Extraídos do livro Ilha da Canção. Pref. De José Alc ides Pinto. Fortaleza: Edições Universidade Federal do Ceará/ Academia Cearense de Letras, 1983. 64 p.

 

 

 

 

 

 

LEÃO, Pedro Henrique Saraiva.  Meus eus.  Fortaleza: UFC; Casa de José de Alencar, 1994.  143 p.  14,5x22 cm. Col. A.M>  (EA)  

 

para jairo Martins bastos
e rui e carole b. salgueiro

 

na intimidade do tempo que nos resta
enquanto o sonho nos souber a realidade,
e durante esta eternacurta festa
gozamos nosso quinhão de eternidade

deixemos que o sol em um só corpo
nos dissolva, antes que nos cubra a neve
ou mesmo eu perca, por morto,
meu calor, minha fé, minha verve

e que nesta íntima idade perpetremos
o que era para fruir e não fruímos
e amemos como nunca nos amamos;

desconhecidos, afinal nos desnudemos
para possuir o que nunca possuímos
e entregar tudaquilo que guardamos

 

p

para jader de carvalho
e. regis m. jucá e
eliomar de lima

eterno é ter no terno seio da amada
quase tudo, ou quase nada
de menos; eterno é parecer naquele éter
e, de novo, insone, renascer

naquela consentida ternura,
prelibando o amor que vai voltar
e ter, na amada que murmura
a terra, o céu, o mar, o mundo;

eterno é o que dura um só segundo —
é o que passou tão de repente
sem dar tempo amanhecer,

é já ter sido e não mais ser
é grito preso, e não gritar
e ter no corpo, e ter na mente


 

LEÃO, Pedro Henrique Saraiva.  Ilha da Canção.  Fortaleza: Edições Universidade Federal do Ceará, Academia Cearense de Letras, 1983.   64 p.  13,5x21,5 cm.  Projeto gráfico, capa e ilustrações Prof. Geraldo Jesuino e também uma ilustração em papel vegetal transparente.  Ex. col. Antonio Miranda

 

o pobre a sua certeza

é a véspera do não ser

 

seu silêncio o barulho do tear

sua roupa já o trapo que teceu

 

pobre o que ara

é o que lhe era

: não a ira

 

o pobre seu mais é seu menos

sua morte sua sorte

 

pobre de seu só o sexo

(industrial)

sua fêmea sua fábrica

 

o pobre

sua mente sua lente

má(gica

 

sua mão

(sua mão

sua boca seu feijão seu chão sua paixão

 

 

 

na minha bagagem de morto

levarei meu eu certo, meu eu torto

o que eu quis e não fiz,

meus fantasmas, minhas asmas,

as árvores que plantei e os frutos que não colhi,

tua vivência que sofri,

você, que eu não enxerguei;

na minha bagagem de morto,

não irei

 

 

Para MAMÍFEROS. N. 4, 2017 Fortaleza, CE: CTP Impressão e Acabamento, 2017. Editores Glauco Sobreira, Jesus Irajacy, Pedro Salgueiro, Francisco Siqueira, O Poeta de Meia Tijela. Jornalista responsáavel: Nerilson Moreira. ISSN 2176-2805

 

Proposta Juarez Leitão

Que fazer, nesta má drugada?
o que fazer com o poema que nasce de repente
nas caladas da note
como se golpe se foice?
com o sono da pedra, acordá-la?
ou deixar que o orvalho o permeie
at[e surgir a manhã?
o que fazer com a imagem dos vultos,
escaneá-la, ou o que?
o que fazer com aquele rosto
no espelho que não sou eu?
e com o leito do rio!
derramá-lo sobre mim?
e com o dia que desiste de nascer, o que fazer?

 

Para Jose Alcides Pinto

faz anos que não aparecem os faisões
faz anos questas colinas não veem seus verdes
abutres
faz anos que os céus não purgam lágrimas
não há pão pois não há trigo
faz anos que só há pedra
só sol só sal só osso só cal
e cacto e cabra e cobra
escorpião e lagarto
e chão sem fim.

*

 

dedilho os teus tendões como se bordéues
fossem, ou os trilhos daquele trem

estico a tua saia plissada
qual desdobrasse os cantos dá um acordeon
retificando as esquinas da minha vida

agarro-me aos teus cabelos como as
crinas de um alazão, e enquanto esporeio
a memória o tempo foge, e apeio-me.

 

 

 Página ampliada e republicada em fevereiro de 2018

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 
 
 
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