Foto: Marina Thomé
PALOMA RORIZ
Paloma Roriz Espínola nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1979 e reside no Rio de Janeiro. É doutoranda em Estudos de Literatura (área de concentração em Estudos Literários, subárea de Literatura Comparada) na Universidade Federal Fluminense. Possui mestrado em Estudos Lusófonos pelo Departamento de Estudos Ibéricos e Latino-americanos na Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3 (2014), e graduação em Letras pela PUC-Rio com habilitação em Português e Literatura de Língua Portuguesa (2007). Atuou no mercado editorial como revisora técnica de romances históricos (2007-2015). Foi bolsista do programa Bolsa de Criação Literária Fundação Biblioteca Nacional/Funarte 2012, na área de ficção. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em estudos de literatura portuguesa (poesia contemporânea).
RORIZ, Paloma. Marulho. Rio de Janeiro: OrganoGrama Livros, 2015.
56 p. cm. ISBN 978-85-661-35-10-7 Edição e coordenação gráfica: Lucas Viriato. Arte da capa e diagramação: Mariana Castro Dias. Editor: Lucas Viriato. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Encontro
A noite é recebida por cada objeto da sala.
A janela tenta abarcar a cidade.
No retrato, os olhos flagram a infância.
A casa repete suas espumas, os gestos perseguem o corpo.
A noite se espalha; toca com a ponta dos dedos
o papel em branco.
Caligrafia
Ninguém via,
mas aqueles siris na praia
correndo, de toca em toca,
com as patas (pinças, remos, estilógrafos)
riscando a arei lisa, lousa em grânulo —
escreviam.
Marulho
Do tempo receber os dias: o rosto lavado,
a maquiagem pronta, a camisa abotoada.
Ser ainda capaz de um verso sem suspeita.
Confiar ainda, uma vez mais, na imagem que te delata:
das mãos perceber a pedra, banhada ainda pelo mar
(as mãos que dançam em gesto simples, dedilham caracteres).
Tecer pronúncias, ouvir o ritmo — o pulso insurgente de cada
palavra.
Conter o mar.
Canto
Certas palavras brilham.
Abertas em voo,
encostam velozes nos objetos.
Entram nos rostos,
desenham linha ao redor da boca,
tocam na ponta dos dedos,
como se vertessem azeite antigo.
Palavras fibrosa, que curam as horas.
Palavras pétreas, que antecipam o silêncio.
Elemento
Palavra nenhuma existe.
Existem o fogo, a pedra, a água, o ar.
E a dor, dissimulada no verso.
Página publicada em março de 2018
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