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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




NILTO MACIEL

(1945-2014)

        Nasceu em Baturité, Ceará, em 30 de janeiro de 1945. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará em 70. Criou, em 76, com outros escritores, a revista O Saco. Mudou-se para Brasília em 77, tendo trabalhado na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do DF. Regressou a Fortaleza em 2002. Editor da revista Literatura desde 91.

Obteve primeiro lugar em alguns concursos literários nacionais e estaduais: “Brasília de Literatura”, 90, categoria romance nacional, promovido pelo Governo do Distrito Federal, com A Última Noite de Helena; “Graciliano Ramos”, 92/93, categoria romance nacional, promovido pelo Governo do Estado de Alagoas, com Os Luzeiros do Mundo; “Cruz e Sousa”, 96, categoria romance nacional, promovido pelo Governo do Estado de Santa Catarina, com A Rosa Gótica; “Bolsa Brasília de Produção Literária”, 98, categoria conto, com Pescoço de Girafa na Poeira; "Eça de Queiroz", 99, categoria novela, União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro, com Vasto Abismo; VI Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 1996, Fundação Cultural de Fortaleza, CE, com o conto “Apontamentos Para Um Ensaio”.

. Tem contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. O Cabra que Virou Bode foi transposto para a tela (vídeo), pelo cineasta Clébio Ribeiro, em 1993.  (Uma biobliografia mais completa ao final da página. Confira)

 

 

 

PERFIS

(Dionísio)

Podem me chamar de Jacus,

assim como Tioneus

ou Dioniso ou Leneus.

Sou mesmo o divino Baco,

deus da plena liberdade,

poderoso excitador

dos mais vis, belos instintos.

 

(Cristo)

Se minhas chagas hebréias

servissem de fantasia,

muito as escolas de samba

me teriam transformado

em negro porta-estandarte.

 

(Pilatos)

Jesus Cristo condenei

e disso não me arrependo.

Se tivesse sido rei,

certamente não seria

filho divino dos padres.

E adeus cristianismo.

 

(Barrabás)

Se não fosse Jesus Cristo,

o que seria de mim?

Talvez tivesse morrido

como ele, crucificado.

 

(Maomé)

Vim depois do bom Jesus,

assim como de Judá.

Após eu nada virá,

a não ser a ditadura

dum vetusto aiatolá.

 

(Américo Vespúcio)

Sou tão-somente Vespúcio,

navegador como tantos.

Não merecia a homenagem

do nome do continente:

sou tão-somente uma ilha.

 

(Galileu)

Se a torre jamais caiu,

se resiste a velha Pisa,

eram muito verdadeiros

meus malucos pensamentos

sobre Deus e sobre a Terra.

 

(Nostradamus)

Muito antes de Robespierre

eu já sabia de tudo:

da sangrenta guilhotina,

da vil morte de Danton,

e também de Bonaparte.

 

(Canaletto)

Ora, meus degradadores,

se pintei nossa Veneza,

se pintei nosso canal,

seus barcos cheios de cores,

sua gente – que beleza! –

foi por pura precisão.

 

(Vidal de Negreiros)

Que tal nascer na Paraíba

e ser governador de Angola?

E preferir a dinastia

portucalesa à holandesa?

Se filho da puta não fui,

bisnetos vocês são do Rui.

 

(Beckman)

Meu desejo principal

era ter muito dinheiro,

possuir o Maranhão,

se possível o Brasil.

Se me chamam Bequimão,

se me chamam brasileiro,

que se danem Portugal

e a puta que o pariu.

 

(Pasteur)

Mil coelhos adorei,

todos os bichos do mundo,

sobretudo nós humanos.

Toda a vida dediquei

aos estudos mais profundos.

Entretanto quem se lembra

do que fiz, do que farei?

 

(Valentino)

Por que choram as mulheres,

as raparigas em flor?

Sou apenas mais um morto,

mais um tipo que se vai.

Se me vou, é que acabou

a vida de sedutor,

de bárbaro cavaleiro

do apocalipse cristão.

 

(Italo Balbo)

Quem se recorda de mim?

Levei ao poder o Duce,

pratiquei mil peripécias,

fui ministro, marechal,

da Líbia governador.

E quem se lembra de mim?

Pois acabei derrubado

pelos meus próprios soldados

 

(Judas)

Não tenho pena do boneco

que homens pequenos queimam.

Ele é de pano, insensível.

Tenho pena daqueles

que nada queimam na vida.


Extraído de: http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/

 

 

 

LAGARTIXA

De cima do muro

mundo inteiro avista.

Inseto voando,

comida na pista.

Cabeça balança,

como se negasse

a própria esperança

de viver assim.

 

CABRITO

Pula daqui, pula dali,

 nunca pára de berrar.

Procura a mãe a ruminar,

comer capim, bem distraída.

E nisso cresce, passa a vida,

até que salta mais e passa

a ser um bode e a ter raça.

 

GALO

Quase não dorme

e, quando acorda,

se faz enorme,

feito uma corda

que se esticasse.

E solta o canto,

qual se soltasse

o desencanto.

No seu terreiro

só ele canta.

E o galinheiro

já nem se espanta

de madrugada.

Mas se alvoroça

quando o sultão,

por qualquer nada,

corre e se roça,

qual dom joão,

na franga nova.

 

RATO

Ódio a gato, unhas e patas,

dentes pontudos, mortais.

Amor à noite, às ratas,

aos queijos sensuais.

Vida perigosa,

susto atrás de susto,

morando em tocas,

a qualquer custo.

Vida curta

de quem furta.

Vidinha

daninha.

 

 

Extraídos de: http://niltomaciel.blog.uol.com.br/

 

 

 


SE ME CHAMARES FOGO

 

Se me chamares fogo

eu te labaredas.

 

Se me quiseres água

eu te correntezas.

 

Se me julgares vento

eu te tempestades.

 

Se me disseres pedra

eu te porcelanas.

 

Se me chamares chão

eu te profundezas.

 

Se me quiseres noite

eu te estrela Vésper.

 

Se me julgares pássaro

eu te vendavais.

 

Se me disseres corvo

eu te Allan Poe.

 

Se me chamares serpe

eu te paraíso.

 

Se me quiseres corda

eu te Tiradentes.

 

Se me julgares diabo

eu te tentações.

 

Se me disseres anjo

eu te candelabros.

 

Se me chamares deus

eu te eternidade.

 

Se me quiseres louco

eu te poesia.

 

Se me julgares santo

eu te crucifixos.

 

Se me disseres vida

eu te funerais.

 

Se me chamares mito

eu te tecelões.

 

Se me quiseres pródigo

eu te ancestrais.

 

Se me julgares hoje

eu te amanhã.

 

Se me disseres sempre

eu te nunca mais.

 

Se me chamares vem

eu te seguirei.

 

(28.12.1999)

 

 

 

PROGRESSO

Meu pai pastorava
os rebanhos de um coronel.
Dizem que morreu em paz
e subiu aos céus.

Eu vigio os carros da burguesia
pequena, média e grande.
Tenho fé em Deus
que tudo vai ser igual.

 

Extraídos de: http://www.usinadeletras.com.br/exibelotextoautor.phtml?user=niltofm

  

 


Livros publicados:

Itinerário, contos, 1.ª ed. 1974, ed. do Autor, Fortaleza, CE; 2.ª ed. 1990, João Scortecci Editora, São Paulo, SP.

Tempos de Mula Preta, contos, 1.ª ed. 1981, Secretaria da Cultura do Ceará; 2.ª ed. 2000, Papel Virtual Editora, Rio de Janeiro, RJ.

A Guerra da Donzela, novela, l.ª ed. 1982, 2.ª ed. 1984, 3.ªed. 1985, Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, RS.

Punhalzinho Cravado de Ódio, contos, 1986, Secretaria da Cultura do Ceará.

Estaca Zero, romance, 1987, Edicon, São Paulo, SP.

Os Guerreiros de Monte-Mor, romance, 1988, Editora Contexto, São Paulo, SP.

O Cabra que Virou Bode, romance, 1.ª ed. 1991, 2.ª ed. 1992, 3.ª ed. 1995, 4.ª ed. 1996, Editora Atual, São Paulo, SP.

As Insolentes Patas do Cão, contos, 1991, João Scortecci Editora, São Paulo, SP.

Os Varões de Palma, romance, 1994, Editora Códice, Brasília.

         Navegador, poemas, 1996, Editora Códice, Brasília.

Babel, contos, 1997, Editora Códice, Brasília.

A Rosa Gótica, romance, 1.ª ed. 1997, Fundação Catarinense de  Cultura, Florianópolis, SC (Prêmio Cruz e Sousa, 1996), 2.ª ed. 2002, Thesaurus Editora, Brasília, DF.

Vasto Abismo, novelas, 1998, Ed. Códice, Brasília.

Pescoço de Girafa na Poeira, contos, 1999, Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, Brasília.

A Última Noite de Helena, romance, 2003. Editora Komedi, Campinas, SP.Os Luzeiros do Mundo, romance, 2005. Editora Códice, Fortaleza, CE.Panorama do Conto Cearense, ensaio, 2005. Editora Códice, Fortaleza, CE.


PARTICIPAÇÃO EM ANTOLOGIAS (até 2005) 

Queda de Braço: Uma Antologia do Conto Marginal, seleção de Glauco Mattoso e Nilto Maciel. Clube dos Amigos do Marsaninho, Rio de Janeiro e Fortaleza, 1977. Contos: “As Fantásticas Narrações das Meninas do São Francisco” e “Sururus no Lupanar”. 

Conto Candango, coordenação de Salomão Sousa. Coordenada Editora de Brasília, 1980. Conto: “As Pequenas Testemunhas”. 

Horas Vagas (Coletânea 2), organizada por Joanyr de Oliveira. Coleção Machado de Assis, volume 42, Contos, Senado Federal, Brasília, 1981. Conto: “Detalhes Interessantes da Vida de Umzim”. 

O Prazer da Leitura, organizada por Jacinto Guerra, Ronaldo Cagiano, Nilce Coutinho e Cláudia Barbosa. Editora Thesaurus, Brasília, 1997. Conto: “Ícaro”. 

Almanaque de Contos Cearenses, organizado por Elisangela Matos, Pedro Rodrigues Salgueiro e Tércia Montenegro. Edições Bagaço, Recife, PE, 1997. Conto: “Apontamentos para um Ensaio”.

 

VIA VERSO. III Concurso Nacional de Poesia.  Ourinhos, Prefeitura Municipal de Ourinhos, Departamento Municipal de Cultura, Biblioteca Municipal Tristão de Athayde, 1995.  98 p.  15 x21 cm.   Coordenação do Projeto:  Marco Aurélio Gomes.  Capa: Dany Eudes Romeira.

Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 Desvario

Não identificados objetos
passeiam voadores pelo vão
da larga sala de meus velhos tetos.
Talvez mosquitos pré-maquiavélicos,
talvez besouros pós-psicodélicos
— almas de bêbados medievais
fugidos das masmorras clericais,
das toscas mãos da Santa Inquisição.

Olho para a pequena acesa lâmpada
e é como se revisse a lua límpida,
e feito lobo nas estepes gano,
meus olhos fitos no sidarta Hesse.

Mas há no céu qualquer estranha messe,
há no horizonte  em tempestade, insano,
as negras nuvens pandas de terror,
um corpo doído em belo rodopio,
minha alma tonta em claro desvario.

 

 

      *

 

 VEJA E LEIA outros poetas do DISTRITO FEDERAL (Brasília)  em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/distrito_federal.html

 

Página publicada em junho de 2021

 



 

 

 

 

 
 
 
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