NATERCIA ROCHA
Natercia Carmen de Sales Rocha nasceu em 1971, em Fortaleza, Cearaá. Foi criada em Juazeiro do Norte, mas suas raízes estão na região Norte do Ceará. Fez parte da segunda tauarma da Escola de Dramaturgia do Museu da Imagem e do Som (MIS), na década de 90, sob a direção do cineasta Orlando Senna. Formada em Jornalismo pela Universidade de Taubaté, SP. A autora é repórter do Caderno 3, no Jornal Diário do Nordeste.
ROCHA, Natercia. Rumo norte. 2ª edição. Fortaleza, CE: 2011. 84 p. ilus. capa dura, sobrecapa e caixa de papelão protetora. ISBN 978-85-62464-01-0 “Prêmio Otacílio de Azevedo – Reedição”. 30 textos e 31 fotografias. Obs. O livro um poema póstumo dedicado ao poeta José Alcides Pinto, falecido em junho de 2008, com a imagem do momento em que os filhos acompanham o enterro do pai, no sopé do Morro dos Rocha, no Estreito. Col. A.M.
carcará
Um Pássaro Azul me visitou esta noite.
Displicente, em minha janela,
Cantou dos campos por onde tem voado:
Entoou a força das flores
O mel das marés
A larva das matas
A grandeza dos vulcões
E cantarolou mistérios de serenos e tempestades.
Voou para perto da cama, a certa altura da madrugada.
E, de sua cabeça perfumada,
Refletiam cores em arco-íris.
Entrei em seus olhinhos redondos, encantados
E fui embora por sua retina dourada
Passear pelo elo do tempo que nunca acaba.
anima
A cabeça está cortada
Mas a Alma não sangra
E a batalha ainda nem começou.
Esqueço a luta
E caminho indiferente,
Caminhos diferentes.
Posso ouvir sussurros vociferados em silêncio
E, dentro do barro, multiplicar-se a carne tenra
Pequenos fragmentos de Luz
Sem prismas coloridos.
Olho para trás e sorrio
Rio... rio...
Para onde vai se rio?
Para onde vai esse rio?
passarada
Desperto sob a calma do caos
Equilibrando desordens quase na escuridão.
Corpo lento
Forças machucando ossos e alma.
Respiração curta
Punhos presos
Mente cativa.
Enquanto migram,
Saio do casulo apertado e vil.
ao poeta josé alcides pinto
* 1925 + 2008
Enquanto tuas mãos delineiam o corpo
Os pensamentos contornam outros lábios
E solto a respiração ofegante de repulsa.
Olho, com desprezo, teu desejo masculino
Aquecendo a lâmina crua de entranhas,
E toco, sem delicadeza, o orgulho fingido do amor.
Terno e fálico é nosso riso no umbral da fantasia.
Página publicada em dezembro de 2013
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