MARLY VASCONCELOS
Marly Sales Vasconcelos nasceu em Fortaleza no dia 5 de julho. Bacharel em Direito e ltcenciada em Letras pela Universidade Federal do Ceará, ministrou conferências e aulas de Literatura Brasileira e Literatura Infantil na UFC.
Poetisa que possui "o toque mágico e simples dos grandes poetas, com sua
linguagem própria que chega e conquista o leitor, também apaixonado" (Fagner).
Colaborou com os jornais O Povo e jornal de Cultura da UFC e com as revistas Pássaro, e Revista da Academia Cearense de Letras. Publicou os seguintes livros de poesias: Agua insone, 1973; Cãtygua proençal, 1985; Sala de retratos, 1998; e Azulcobalto,2002, (obteve classificação especial na categoria Literatura Juvenil, no Concurso Nacional de Literatura João-de-Barro, Belo Horizonte). Romancista, publicou em 1982 o livro Coração de areia, o qual recebeu Menção Honrosa do Prêmio Graciliano Ramos, da União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro.
O celebrado poeta cearense Francisco Carvalho também teceu expressivos comentários sobre a poetisa: "De 1973 a 1985, Marly Vasconcelos publicou apenas dois livros de poemas. Isto foi o bastante para colocá-la entre o reduzido grupo daqueles que fazem da poesia um exercício permanente de beleza e de aceitação das nossas fragilidades existenciais".
Ingressou na Academia Cearense de Letras no dia 22 de março de 1990, ocasião em que foi saudada pelo romancista João Clímaco Bezerra. Ocupa a vaga deixada pelo escritor Nertan Macedo, cadeira número 7, cujo patrono é o jurisconsulto Clóvis Beviláqua. Foi a primeira a tomar posse no Palácio Luz como sede da academia. Pertence à Academia de Letras e Artes do Nordeste. Fonte: http://www.academiacearensedeletras.org.br
RETRATOS
Alguma coisa antiga habita a página.
A morte do cão com sua lealdade
um trem apagando a noite
o domingo mais triste, .
a lembrança de um amor na pétala da dalza.
Coisas que o tempo não desfolha
e nos engasgam.
MARLY. SALA DE RETRATOS. FoRTALEZA: UFC/ CAsA JosÉ DE ALEN - FoNTE: VASCONCELOS, .(COLEÇãO .ALAGADIÇO Novo, n. 6).
Extraído de
O SACO – 4º. CADERN0 – No. 4 – SETEMBRO – 1976. p. 9
Revista mensal de cultura. Fortaleza, CE: OPÇÃO Editora Promoções e Publicidade Ltda.
BAILADO
Que venham os pavões
e substâncias diáfanas, livres,
nas areias sejam jatos de vida.
Que venham os pavões
e como chamas em equilíbrio
aos pares levitem.
Que avence esse bando de aves
de carne malva
e faíscas.
YEMANJÁ
Antiga como a vaga
adornada de brumas e carne clara
atravessas o porto despida de veneno.
Fosforescentes peixes habitam a ardência de teu seio
e o coral de tua mão.
Tomba a chuva sobre a maresia de teus cabelos
e na inquietude do vento
recolhes os náufragos que ficaram cegos
e varrendo os destroços do veleiro
caminha contra a cerração.
GALOPE
O cavalo corre na estrada
e rumores de aço estalam nos arreios.
Tambores ressoam sob seus cascos
e uma baba cheia de amargura
cobre seu flanco suado
de tempestades e fúrias.
Das sombras escapam tramas.
Densa e espessa a noite é escura.
E encrespando as crinas onde dormem cigarras
ele segue abismos,
caminhos rubros.
|
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS. FORTRI NIHIL DIFFICILE Divisa de Beasconsfield. Ano CXVII – N. 73, 2012. Fortaleza, Ceará: edições Demócrito Rocha, 2012. 344 p.
Ex. bibl. de Antonio Miranda
Ciganos
ao Francisco Carvalho
Feitos de ânsias e velocidades
parecem profanos
com seus punhais de prata,
metais que tilintam.
Nuvens errantes que acompanham a lua,
bebem a liberdade, bebem o sonho
e embriagados com o riso forte
festejam o frio
***
Vivi a primavera, o outono
o holocausto, a angústia.
Aguardo ainda o toque do clarim.
A longa espera é maior que o dilúvio.
***
A longevidade desce no arquipélago,
luzente é teu nome que não finda.
Bebeste na taverna hinos, tercetos,
enquanto a areia na ampulheta caía.
Um dia cantarás para mim
a estrofe de uma canção renascentista.
***
Vivi a primavera, o outono
o holocausto, a angústia.
Aguardo ainda o toque do clarim.
A longa espera é maior que o dilúvio.
*
Página ampliada e republicada em janeiro de 2023.
Página publicada em junho de 2018
|