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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

MAJELA COLARES

 

 

Cearense de Limoeiro do Norte, nascido em 26 de julho de 1964, radicado em Recife desde 1992.  Bacharel em Direito. Estreou na literatura em 1993, com o livro Confissão de Dívida, Biblioteca O Curumim Sem Nome Editora – Fortaleza, CE, poesia. Em 1994 publicou Outono de Pedra, Editora Giordano, São Paulo, SP, poesia. Participou em 1996 da Antologia O Talento Cearense na Poesia, Editora Maltese, São Paulo, SP. É membro Desaconselhador de O PÃO, jornal literário editado em Fortaleza.

 

Encontramos um exemplar da obra O SOLDADOR DE PALAVRAS (São Paulo: Ateliê Editorial, 1997), de Majela Colares, entre os muitos livros doados pelo poeta Aricy Curvello para a Biblioteca Nacional de Brasília. Curiosamente havia uma anotação, a lápis, ao final informando: “Fábio Lucas destacou”. Entendemos serem os poemas que mais agradaram ao grande crítico, ensaista e contista mineiro. Decidimos seguir esta orientação: 

 

POEMA ANÔNIMO

 

O poema que não fiz

(mas sempre canto)

está mais em mim

que muitos...

         (pouco que escrevi)

é o mais inconstante

         indefinido

dos poemas que vivi

 

o poema que não fiz

traduz meu mundo

está implícito...

         único

         em meu verso

já não sei quem sou

         quem ele é

— fundiram-se todos os limites

 

o poema que não fiz

sorri comigo e sofre

e dorme e finge...

pensa a anônima forma

só para não ser,

         enfim, subjuntivo

 

o poema que não fiz

surge do nada

e conspira a relatividade de tudo

(é a razão variável do verbo)

não  há palavras

não há gestos

         metáforas

         tinta

que o descreva

 

o poema que não fiz

(mas sempre canto)

fecunda a própria poesia

que me seduz a vida inteira

 

 

A DEDUÇÃO PELA PEDRA

 

         a João Cabral de Melo Neto

 

granito, calcário, seixo...

 

— caminhos de Cabral em pedra morta?

 

A pedra revolvida

         lapidada

pelo gene da palavra

 

         pedra

não a geologia estrutural da forma

 

         pedra

                   morfológica

                   pedagógica

 

esculpida pelo verbo

(geometria complexa da metáfora0

 

Granito, calcário, seixo...

 

         silente sopro de rocha

         na fenda rude do magma

 

         nasceram flores e versos

         homens, cantigas e mágoas

 

         pousaram rastros e ventos

         passaram rios em águas

 

         fingiram olhares cegos

         ficaram cortes e chagas

 

         tingido sol amarelo

         em faces secas e magras

 

Granito, calcário, seixos...

 

— caminhos de Cabral em pedra morta?

 

         pedra

                   palavra

                            verso

 

dimensões quanto infinitas...

muito além da configuração abstrata das pupilas.

 

 

O PASTOR E SUA ALDEIA

 

         A Altino Caixeta de Castro

 

         Eu creio que a eternidade nasce na aldeia

                                      LUCIAN BLAGA

 

O ladrido infinito de um cão morto

nas vozes de outros cães é repetido

 

muito além, incessante ao nosso ouvido

mais além, muito além da voz de um cão

 

trago a luz no bolso e o sol na mão

e um rebanho de cabras e de estrelas

 

no desejo incomum de sempre tê-las

na distante lembrança de uma aldeia

 

pervagando a memória das areias

onde estrelas e cabras pastam sonhos

 

trago à sombra de alpendres breve sono

pressentido o rangido da tramela

 

despertado ao contorno da janela

no silêncio imortal da noite fria

 

canta o galo, outra vez, e denuncia

(se cantar tem a cor da lua cheia)

 

o prenúncio de um dia em outro dia

da eterna solidão — eterna aldeia.

 

 

AQUI JAZ UM SONETO

 

Uma idéia conspirada  — um soneto —

que, ao certo, sangraria minha vida,

desprendeu-se da memória suicida

morrendo nos limites de um quarteto.

  

 

RES NULLIUS

 

Na rua um vira-lata morde flores

 

— socorro!

Gritam as rosas, os cravos, as papoulas,

os girassóis... apavorados

 

— cadê a jardinagem?

 

... um vira-lata morde flores

 

— o problema é grave,

as flores já sentiram nas próprias pétalas.

 

 

COLARES, Majela.  O Soldador de Palavras.  Apresentação crítica de César Leal.  Ilustrações Maria Carmen.  São Paulo: Ateliê Editorial, 1977.  91 p. ilus. 12x18 cm.    ISBN 85-85851-27-9  Col. A.M. 

 

O MAMULENGO

 

Sentir o mundo - movimento e graça -

bordar sorrisos, encarnar em pano.

(Esta emoção ao morto-vivo abraça)

gesto ilusório. Sábio? Não. Profano?

 

Irreal vida exsurge, incerto plano

de ser boneco e homem, palco e praça

ao projetar-se voz, trejeito - engano...

confuso rito que no olhar disfarça.

 

O mamulengo finge o rosto e tinge

de rubra cor os lábios, flor-esfinge,

erguida, efémera, na instável face

 

incontroversa (esta anónima peça)

que no teatro de boneco expressa

o homem louco sem nenhum disfarce.

 

 

 

COLARES, Majela.  As cores do tempo.  2ª. ed.  Rio de Janeiro: Calibán, 2009.  214 p.  15,5 x 22,5 cm.    ISBN 978-85-87025-38-8    Col. A.M. 

 

 

Murmúrio que sorri atrás da porta

desmantelo de noites e sigilos

povoado na brisa que transporta

 

os zumbidos de estrelas e de grilos

que mergulham as noites em segredos

desvendados no sopro dos cochiles

 

sob a mira dos risos e dos dedos

contornando destinos presumidos

em caminhos de fugas e de medos

 

feito passos em sombras esculpidos

 

 

 

Feito passos em sombras esculpidos

simulados no mármore ou na areia

esses rumos sem volta são contidos

 

no quadrante solar, na lua cheia

e na planta do pé são reescritos

musicados em cantos de sereias

 

por milénios em sons tecendo ritos

conspirando contendas, passo errante

e por ser algo mais que voz de mitos

 

se confunde nos versos que fez Dante

 

 

 

ANTES DA ORIGEM E DEPOIS DA ORIGEM

 

nos confins das cores a cor se assusta

com os possíveis movimentos quando

 

nem mais do tempo se percebe o instante

 

não existe antes, nem depois existe

um ponto neutro - supõe ser o tempo

 

indefinido, amordaçado, um caos

 

onde se finda e tem começo o impulso

o movimento que define as cores

 

antes da origem e depois da origem

a luz, a sombra, a imagem, o susto

 

 

 



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