Foto e biografia:
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JOSÉ TELLES
José Telles da Silva nasceu em Bitupitá, Ceará, no dia 12 de março de 1943, e faleceu em Fortaleza no dia 2 de junho de 2016. Graduado pela Faculdade de Meidicina da Universidade Federal do Ceará, em 1970, fez residência médica em anestesia no Hospital dos Servidores do Estado, curso de Especialização na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-RJ, e o curso Post Graduating in Anesthesiology, Nova York, 2000 e 2001. Autor de vários trabalhos científicos publicados em revistas da especialidade e detentor do prêmio Laringoscópio de Ouro como responsável pela melhor residência médica em anestesiologia no Brasil.
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Não à toa, em sua poesia, as imagens marítimas são recorrentes, da mesma forma como as fontes do passado estão sempre abertas às diversas possibilidades temáticas. O seu livro anterior, também de poemas, “O solo das chuvas” recebeu o Prêmio Osmundo Pontes – um dos mais cobiçados pelos escritores cearenses. É membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames – CE); da Academia de Letras e Artes do Nordeste – CE, de que já foi, por dois mandatos, presidente; e da Academia Cearense de Letras."
LITERATURA. Revista do Escritor Brasileiro. No. 20. Ano 1999. Publicação semestral da Editora Códice. Brasília, DF: 1999. Diretor: Nilto Maciel. Editor: José Carlos Taveira. Ex. bibl. Antonio Miranda
CAVALGADA DAS VALQUÍRIAS
Esse corpo que ancora meus
defeitos com fornalhas de afeto
esse sorriso sem hálito de matrimónio
esse silêncio de âncora no teu ciúme sem teto
esse vôo de cotovia a vento solto
essa agonia de bolso que só cabe dois
essa montanha de amor onde me deito
essa lassidão que vem depois
esse cansaço paralelo e satisfeito
esse ritmo de bolero no teu colo
o eco do teu alô nos meus poemas
esse halo pornô no teu olhar quero-quero
essa cavalgada suprema das valquírias
essas curvas desejadas e sem risco
são comezinhos pecados onde assisto
o sublime pecar que pouco sabem.
DUVIDANÇAS
Em que porto
eu serei alguma espera
em que festa
eu serei a despedida
em que dorso
repousarão as minhas sobras
em que alcova
se abrirão minhas feridas
em que tragédia
eu serei a dor à mostra
em que circo
eu serei o espetáculo
em que túmulo
estarão minhas mãos postas
em que febre
eu serei o meu delírio
em que tormenta
eu serei minha procela
em que cruz
eu serei o meu martírio
em que boca
eu terei o beijo dela
em que morte
eu serei o meu algoz
em que caminho
eu serei o meu atalho
e em que galho
eu serei a folha a mais?
ENIGMA
No céu
os pássaros parecem
setas vindas de Deus
No bosque
o verde deita nas folhas
que o outono esqueceu
Na penumbra
uma sombra sem parceria
aceita a lua de passagem
No cemitério
um túmulo solitário
estranha o adultério das visitas
No espelho
os meus dias rejeitam
a hipótese de todas as manhãs.
AUTOFAGIA
Minhas
lágrimas à noite,
se escondem nos bares,
onde derramo dores
que escorrem lúpulo
Os meus
sonhos de dia,
eu guardo em retalhos
que embrulham lágrimas
de vários tamanhos
Os meus
anseios acoplam,
consuetudinários,
nos meus escaninhos,
buscando fórmulas de envelhecer
E ainda
agora, a minha aura
esqueceu a hora de avisar
meus sonhos, que se foram
embora sem pedir licença.
Página publicada em setembro de 2019
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