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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA PARNASIANA – PARNASIANISMO

POESIA PARNASIANA – PARNASIANISMO


JOSÉ ALBANO
JOSÉ ALBANO
(1882-1923)


Nascido em Fortaleza, Ceará, em 12 de abril de 1882, José d´Abreu Albano, neto dos Barões de Aratanha, estudou no Seminário daquela diociese, depois em colégios religiosos da Inglaterra, da Áustria e da França. 

"Um poeta brasileiro morreu, solitario, em Montauban, na França,no dia 11 de julho de 1923. Tinha 41 anos, vividos, em grande parte, na Europa: primeiro, ainda menino, entre os 11 e os 18, estudando - em regime de internato - em colégios jesuftas da Inglaterra, Áustria e França; depois, entre os 28 e os 30, funcionário do consulado brasileiro em Londres, emprego que deixou para peregrinar pelo continente, entre 1912 e 1913, estendendo-se a Ásia e a África; por fim, nos últimos cinco anos de vida, desempregado e sem residência fixa.

 

Tornara-se, então - segundo registram as lendas sobre a sua vida, tão inapagáveis na memória dos contemporâneos quanto o estigma da doença mental - um andarilho, capaz de caminhar a pé de Viena a Paris, confessando, ao chegar, maltrapilho, tratar-se de uma homenagem a Jean Jacques Rousseau, que fizera o mesmo trajeto.

 

Verídicas ou não, oito décadas depois que uma gráfica de Barcelona imprimiu, em 1912 - o mesmo ano do Eu, de Augusto dos Anjos - os três pequenos livretos de suas Rimas, tais anedotas biográficas exprimem, frequentemente, pela voz dos próprios narradores, uma semiologia de sanidade e insanidade que o tempo se encarregou de tornar equívoca. A

perplexidade diante da figura do poeta não se limitou aos reiterados retratos em que a barba e a cabeleira a Nazareno contradiziam a antipatia do monóculo: reagiu as roupas exóticas ou apenas muito usadas; acusou o contraste entre a aparente soberba e a falta de dinheiro; amesquinhou-se nos reparos a sua gula e as suas longas contemplações do mar." (Na orelha do livro: RIMAS, 3a. ed. Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 1993

“A poesia de José Albano é complexa com sua língua de tons envelhecidos, mas os Dez Sonetos, por ele próprio escolhidos, são de grande fluência, doçura e religiosidade bastantes para os terem celebrizado."

 

See also: POEMS IN ENGLISH

 

 

TEXTO EN ITALIANO

 

TEXTO EN ESPAÑOL


 

ESPARSA

Há no meu peito uma porta
a bater continuamente;
dentro a esperança jaz morta
e o coração jaz doente.
Em toda parte onde eu ando,
ouço este ruído infindo:
são as tristezas entrando
e as alegrias saindo.


III
*

Amar é desejar o sofrimento
e contentar-se só de ter sofrido,
sem um suspiro vão, sem um gemido,
no mal mais doloroso e mais cruento.

É vagar desta vida tão isento
e deste mundo enfim tão esquecido,
é por o seu cuidar num só sentido
e todo o seu sentir num só tormento.

É nascer qual humilde carpinteiro,
de rudes pescadores rodeado,
caminhando ao suplício derradeiro.

É viver sem carinho nem agrado,
é ser enfim vendido por dinheiro,
e entre ladrões morrer crucificado.

 

*Este, e os seguintes, são dos “Dez Sonetos Escolhidos pelo Autor, cheios de suavidade, fluência e espírito meigamente contrito. Lembram por vezes Camões e Gregório de Matos. Em sua poesia religiosa, Albano ficou sem competidores na geração neoparnasiana.  Péricles Eugênio da Silva Ramos


          V

         Senhor, assim pregado ao duro lenho,
         não negas a ninguém o teu socorro;
         a mim, pois, que de mágoa vivo e morro,
         dá-me o brando sossego que não tenho.

         Em teu amar sempre ponho todo o empenho,
         vendo do puro sangue o frio jorro,
         e com suspiros aos teus braços corro
         e ao pé da santa cruz deitar-me venho.

         Olha como foi triste o meu destino,
         sem esperanças quase e sem venturas,
         apenas com os sonhos que imagino.

         Lembra-e destas dores tão escuras,
         de que tu és o meu Pastor divino
         e de que eu sou a ovelha que procuras.


            IX

         Bom Jesus, amador das almas puras,
         bom Jesus, amador das almas mansas,
         de ti vêm as serenas esperanças,
         de ti vêm as angélicas doçuras.

         Em toda parte vejo que procuras
         o pecador ingrato e não descansas,
         para lhe dar as boas-aventuranças,
         que os espíritos gozem nas alturas.
 
         A mim, pois, que de mágoa desatino
         e, noute e dia, em lágrimas me banho,
         vem abrandar o meu cruel destino.

         E, terminando este degredo, estranho,
         tem compaixão de mim, Pastor Divino!
         que não falte uma ovelha ao teu rebanho!


            X

         Se amar é procurar a cousa amada
         e unir duas vontades num desejo,
         se é ressentir um mal tão benfazejo
         que quanto mais tortura, mais agrada;

         se amar é sofre tudo por um nada
         e a um tempo achar que e pouco o que é sobejo,
         já claramente agora entendo e vejo
         que não há quem de amor me dissuada.

         Ó doce inquietação e doce engano,
         doce padecimento e desatino
         de que não me envergonho, antes me ufano!

         Comigo quantas vezes imagino:
         se é tão doce na terra o amor humano,
         que não será no Céu o amor divino?!

 

SONETO

  

Poeta fui e do áspero destino

Senti bem cedo a mão pesada e dura.

Conheci mais tristeza que ventura

E sempre andei errante e peregrino. 

 

Vivi sujeito ao doce desatino

Que tanto engana, mas. tão pouco dura;

E ainda choro o rigor da sorte escura,

Se nas dores passadas imagino.

  

Porém, como me agora vejo isento

Dos sonhos que sonhava noite e dia,

E só com saudades me atormento; 

 

Entendo que não tive outra alegria

Nem nunca outro qualquer contentamento

Senão de ter cantado o que sofria.

 

 

 

 

SONETOS. v.1.Jaboatão dos Guararapes: Editora Guararapes EGM, s.d.  154 p.  16,5 x 11       cm.  ilus. col.  Editor Edson Guedes de Moraes. Inclui 148 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses.  Ex. bibl. Antonio Miranda





 

 

TEXTO EN ITALIANO

                                                

Extraído de

 

MIRAGLIA, TolentinoPiccola Antologia poetica brasiliana.  Versioni.  São Paulo: Livraria Nobel, 1955.  164 p.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

S O N E T T O

Felice chi fu sempre disamato
E mai godé nell’alma il delizioso,
Che promette lo stato venturoso,
Per poi abbandonarlo in triste stato.

E sono ormai persuaso e consolato
Che non si può aver lieto riposo,
Se l'affetto piú dolce e dilettoso
Genera poi Pamore scontentato.

Non voglio buona sorte o sogno raro,
Perch'essa passa presto e non si acquista;
Si sbozza e lascia poi doiore amaro.

A chi non ebbe mai benigno amore,
Se gli mancò il ben delia conquista,
 Di perderlo non ebbe il gran dolore.

 

TEXTO EN ESPAÑOL
Tradução de ÁNGEL CRESPO

Extraído de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA, desde el Romanticismo a la Generación de           cuarenta y cinco.  Trad. Ángel Crespo.   Barcelona: Seix Barral, 1973.   440 p. 

 

SONETO

 

        Mátame, puro Amor, más dulcemente:
        Sienta yo los dolores que sentiste
        En aquel día tenebroso y triste
        De suplicio implacable e inclemente.

        Haz que la dura pena me atormente
        Y del todo me venza y me conquiste.
        Que el añorante pecho no resiste
        Y el corazón cansado ya consiente.

        Y como te amé siempre y como te amo,
        Déjame ahora padecer contigo
        Para alcanzar después tu eterno ramo,

        Y alzando el vuelo hacia el etéreo abrigo,
        Divino Amor, escucha que te llamo,
        Divino Amor, espera que te sigo.


CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA.  Introd., traducción y notas de Jaime Tello.         Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Instituto de Altos Estudios de        América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983.   254 p     Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Traducción de Jaime Tello: 

 

                SONETO

             
Poeta fui y del áspero destino
             Yo bien pronto sentí la mano dura.
             Conocí más tristeza que ventura
             Y anduve siempre errante peregrino.

             Viví sujeto al dulce desatino
             Que tanto engaña, mas tan poco dura;
             Y el dolor llora de la suerte oscura
             Si pasados dolores imagino.

             No obstante, como ahora véome exento
             De sueño que soñaba noche y día.
             Y solo con saudades me atormento;

             Entiendo que no tuve otra alegría
             Ni nunca otro cualquier contentamiento
             Sino cantado haber lo que sufría.

 

 

 

*

 

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Página ampliada e republicada em janeiro de 2023

 

       

 

 

Republicada em janeiro de 2016. Ampliada em outubro de 2017



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