ISAAC FURTADO
Um belo livro. Um poeta que, pretendendo registrar os Mosaicos da Misericórdia, do hospital de Fortaleza em ciclos de decadência e restauração, foge da mesmice da descrição para envolver-nos em sua emoção. Isaac Furtado é médico cirurgião, artista plástico e poeta, nesta ordem, mas interligadas por sua vivência múltipla, por seu olhar de humanidade e de arte. Caso incomum, mas não necessariamente raro. No caso dele, reforçado pelo talento inegável.
De
Isaac Furtado
MOSAICOS DA MISERICÓRDIA
Arte e reflexão
Fortaleza: Edição do Autor, 2009. 122 p. ilus.col.
Edição bilíngue português - inglês
ISBN 875-85-7915-016-6
Canos ateromatosos
Um longo
corredor a ser
percorrido,
com uma história
passando
desenhada
sob os meus pés.
À direita,
vários vultos
quase despidos,
mas, ao invés
de ódio e revolta,
a esperança se fez.
Acima de minha
cabeça, vejo fios
e canos corroídos
com artérias
ateromatosas e
veias tortuosas de
lembranças reveses.
Atheromatous pipes
A long hall hás been walked,
with a drawn history going by
under my feet.
On the right, several figures
almost naked, but, instead of
hate and disgust,
the hope appears.
Above my head, I see wires
and rusted pipes just like
atheromatous arteries and
tortuous veins of
setback memories.
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Espuma da razão
A espuma do mar não é de ninguém.
O futuro que a todos pertence,
não é cristalino.
Vence somente o veloz nadador
do mais nobre desatino.
A razão emerge ululante
mas logo se desmancha em porquês.
Desaparece nas ondas salgadas
e retorna numa praia serena.
Na maré baixa, surge e se faz plena.
Brevemente da areia molhada é refém.
Eternamente fugaz nesta vai e vêm.
Foam of Reason
The foam from the sea belongs to nobody.
The future which belongs to everybody, it isn´t crystalline.
Only the fastest swimmer wins, from the noblest insanity.
The reason comes out wailing, but soon it dissolves in whys.
It disappears in the salty waves, and it returns at a calm beach.
In the low tide, it comes out again and it makes itself full.
Sooner, the wet sand takes it as a hostage.
Eternally fugacious in the goes and comes.
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Ônfalo infinito
Encurva-te,
Vê sob os teus pés
este antigo mosaico,
original deste abrigo.
Procura-te,
vê o infinito revés
no teu prosaico
e único umbigo.
Para que existe
em Delfos a matriz?
Uma pedra em riste,
centro do mundo,
que foi nossa raiz.
Por que persiste
a primeira cicatriz?
Neste fosso triste,
do corpo Vitruviano
a medida geratriz.
Concentra-te,
segue este condão,
ainda almeja hoje
pela transformação.
Encontra-te,
segue este cordão
que te alimenta,
buscando a perfeição.
Infinity onphalos
Bend over,
look under your feet
this old mosaic,
from the shelter.
Look for yourself,
look at the infinite setback
in your prosaic
and the only navel.
What does a matrix
exist in Delphi for?
A raised stone,
the center of the world
which was out root.
Why does the first
scar persist?
In his sad pit
the generatrix measure
of a Vitarivious body.
Concentrate,
the mind like a tossel today,
still longs for transformation.
Meet up yourself,
follow this chain
that feeds you,
seeking for perfection.
Página publicada em dezembro de 2009 |