HORÁCIO DÍDIMO
Professor do Departamento de Literatura da Universidade Federal do Ceará, Horácio Dídimo Ferreira Barbosa Vieira, é formado em Direito (UERJ) e Letras (UFC), mestre em Literatura Brsileira (UFPB) e doutor em Literatura Comparada (UFMG). Autor de várias obras no campo da poesia, ensaio e literatura infantil. É membro da Academia Cearense de Letrss.
Livros de poesia: Tempo de Chuva , Tijolo de Barro, Passarinho Carrancudo , A Palavra e a palavra, A nave de prata.
Horácio Dídimo
A PALAVRA E A PALAVRA
Fortaleza: Editora UFC, 2020
ISBN 85-7282-125-2
a palavra chave
a palavra chave
já não fecha
nem abre
a palavra amor
muda de cor
a palavra verde
amadurece
a palavra ave
voa no papel
a solução
daqui a cem anos
todos os nossos problemas
nos terão resolvido
As casas
após longa espera
nada aconteceu
as casas continuaram baixas
tão baixas
que muitos de seus habitantes rastejavam
enquanto outros desistiam de antigas reivindicações
As doces meninas de outrora
as doces meninas de outrora
amanheceram
vestiram os vestidos novos
pintaram as unhas de vermelho
por um instante resplandeceram
depois baixaram as cabecinhas louras
e envelheceram como as flores
Triste
triste não é saber que não há
nem que não haverá
triste é saber que nunca houve
e que agora para todo o nunca
choraremos
isso
não sei o que quero
dizer com isso
mas sei que isso
é o que eu quero dizer
as doces meninas de outrora
as doces meninas de outrora
amanheceram
vestiram os vestidos novos
pintaram as unhas de vermelho
por um instante resplandeceram
depois baixaram as cabecinhas louras
e envelheceram como as flores
EIS O QUE VOS DIGO, IRMÃOS:
O TEMPO É BREVE.
(I Cor 7,29
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a palavra chave
a palavra chave
já não fecha
nem abre
a palavra amor
muda de cor
a palavra verde
amadurece
a palavra ave
voa no papel
CALEI-ME, JÁ NÃO ABRO A BOCA,
PORQUE SOIS VÓS QUE OPERAIS.
(SL 38,10)
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identidade
um dia
com a ajuda de Deus
não haverá mais diferença
entre mim e eu
PORQUE É DEUS QUEM,
SEGUNDO O SEU BENEPLÁCITO.
REALIZA EM VÓS
O QUERER E O EXECUTAR.
(FL 2,13)
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o tigre de bengala o leão de peruca e a tartaruga que
era um passarinho disfarçado
todos nós somos iguais
uns menos outros mais
NÃO PODE O OLHO DIZER À MÃO:
NÃO PRECISO DE TI.
(I Cor 12,20)
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REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS. FORTRI NIHIL DIFFICILE Divisa de Beasconsfield. Ano CXVII – N. 73, 2012. Fortaleza, Ceará: edições Demócrito Rocha, 2012. 344 p.
Ex. bibl. de Antonio Miranda
Corvos de Alumínio *1
Para Francisco Carvalho
I
Estes corvos de alumínio
Trafegam na contramão
Anunciam os tsunamis
Com grasnidos de antemão
Relampejam no fascínio
Das asas do furacão
E revoam na rapina
Dos robôs de estimação
Estes são tempos difíceis
Para convencer os mísseis
Das florestas de metal
Tempo de guerras se garras
Tempo de gotas amargas
De aquecimento global
2
Estes corvos de alumínio
São latas de arribação
Ostentam no seu caminho
As cifras da maldição
Misturam o joio e o trigo
Nos campos da negação
Grasnam gritos de domínio
Invertem o sim e o não
Com guirlandas e fanfarras
Patrocinam as amarras
Que prendem cada cristão
Estes corvos de alumínio
Não sabem que o pão se o vinho
São sinais de salvação
*1 Corvos de Alumínio: poema-título do livro homônimo de Francisco
Carvalho. Poesia inédita. Fortaleza: LCR, 2007.
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Página ampliada e republicada em janeiro de 2023
Página publicada em dezembro de 2008
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