FRANCISCO LEITE SERRA AZUL
Francisco Henrique Leite, depois Francisco Leite Serra Azul, que nasceu em Aurora, Ceará, no dia 3 de maio do ano de 1909, e faleceu em 1985 . Era filho de José Henrique dos Santos e de Joaquina Leite dos Santos, sendo seus avós paternos Vitoriano Henrique dos Santos e Isabel Benício dos Santos, e avós maternos Manuel Luciano Teixeira Leite e Maria Leite Félix Soares. Vai este registro para aqueles que gostam de pesquisas familiares e se distraem com registros desse teor, nos locais da origem do biografado. Cedo ganhou mundo, como autodidata, mestre escola e cantador, casando-se no Distrito de Serra Azul, em Quixadá, tornando-se, em Fortaleza, conhecido como poeta Serra Azul, nome pelo qual ficou conhecido e que adotou.
SONETOS V.2. Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, s.d p. 151-302.
16,5 x 11 cm. ilus. col. Editor Edson Guedes de Moraes. Inclui poetas brasileiros e de outras nacionalidades. Edição artesanal, tiragem limitada.
Ex. bibl. Antonio Miranda
OS RADIADOS
Lá nas profundidades dos Oceanos,
seres radiados e fosforescentes
têm como única luz nesses arcanos
os fogos de seus corpos imanentes.
São reservas do Sol que, há milhões de anos,
a Natureza em mágicas correntes,
por instinto ou desígnios soberanos,
secreta aos microscópicos viventes.
Assim também desperto ou adormeço
no oceano da ignorância de usurários
que vedam a justiça que encareço...
E embora sem auxílios peregrinos,
viva o projetar luz como os radiários
nesses profundos vales submarinos.
EXORTAÇÃO A JOÃO HENRIQUE
Não mintas nunca, filho, que a mentira
é um vício mau que degenera tudo...
Eu já sou velho, e, embora me pretira,
quando ignoro a verdade, fico mudo!
No verdadeiro amor teu estro inspira;
da Razão e da Fé faz teu escudo:
A prática do Bem tendo como mira,
e, do Progresso, a Ciência por escudo.
Dá pelo bem de todos quanto valha
teu esforço no fogo das pelejas:
produz, vive, ama, ri, canta e trabalha;
que enquanto o que é trivial me desilude,
meu único desejo é que tu sejas
o que eu quisera ser, porém não pude!
NO DECLÍNIO ...
No ano mil novecentos e cinquenta,
cinquenta e sete anos temos nós, querida;
somos da mesma idade, e, em nossa lida,
cada vez mais o amor em nós aumenta.
Se olhamos para a estrada percorrida
no passado, uma luz nos aviventa,
e nos leva, a sorrir, aos sessenta,
setenta, oitenta ou mais anos de vida!
E haveremos de chegar, assim, velhinhos,
percorrendo as escarpas tenebrosas
da vida, no mais suave dos caminhos,
colhendo nela as messes venturosas:
pois se encontramos pela vida espinhos,
por entre espinhos, apanhamos rosas!
AURORA ( Antiga venda )
À margem do Salgado instalou venda
De comida e bebida Dona Aurora
Que servia de oásis, rancho e tenda
Ao viajante, acolhendo-o a qualquer hora.
Era a ribeira que sulcava a senda
Do litoral ao Cariri, outrora
Vem depois da uma igreja, uma vivenda.
Outra e mais outra e em povoação se enflora.
Não sei se o mais é tradição ou lenda.
Sei que foi vila e que é cidade agora.
E a sua história é trágica e tremenda!
É a terra do meu berço, esta que, embora
Tivesse o nome mercantil de venda,
Tem hoje o nome fúlgido de Aurora.
Página publicada em dezembro de 2019
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