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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



EDUARDO PRAGMÁCIO FILHO

 

Eduardo Pragmácio de Lavor Telles Filho é poeta e advogado cearense.

 

Poesia voltada para temas universais, grandiosos, existenciais, com forte expressão imagética, e que se utiliza do discurso metaliterário para fazer da poesia uma segunda pele, um mistério, um tormento que o poeta , romanticamente, procura domar (...)  RODRIGO MARQUES

 

 

Poemas extraídos da obra

OBLÍVIO DA ILUSÃO.

 

Fortaleza: Edições Poetaria;

Editora Imprece, 2007.

 

 

INVASÃO

 

Essas imagens perdidas na noite

antes me despertavam encanto,

agora me trazem tormento.

 

E quando me tocam,

a rosa arranca o espinho,

a taça rejeita o vinho

e o tempo se cobre,

rapidamente,

com um lençol branco de linho.

 

A imagem

escorrega até a ponta

dos meus dedos,

no íntimo da palavra,

invade o papel.

 

SONHOS E VERMELHOS

 

O outro lado da janela esconde

sonhos e vermelhos,

protegidos por paredes brancas

a sustentar o teto mais que perfeito.

 

O vidro separa o olho

do beijo,

quando a moldura escura envolve

o jeito invisível de pensar.

 

O verso empalhado

revela o único desejo:

é o início do beijo,

sem boca, sem língua,

do abraço sem braços,

da lágrima sem choro.

 

o outro lado da janela esconde

sonhos e vermelhos,

verbos sem conjugação, palavras sem sentido,

às vezes substantivos,

como se fossem em vão.

 

TEMPO

 

O meu tempo é tempo demais para mim.

Escrevo cartas, poemas, recados.

Às vezes acho que não tenho fim.

 

 

DISFARCES

 

A busca

incessante

dessa perfeição

mutante

nada mais

importa.

 

A porta é sempre

(entre)aberta

e quase atinge

o céu

para aqueles que

(ar)riscam

o papel.

 

A angústia,

filha primogênita

da dúvida,

é um dos disfarces

da busca.

 

 

POSSIBILIDADES

 

Um cardápio de sonhos

aberto sobre a mesa

redonda e invisível,

onde o alimento é palavra,

possível chão ou precipício.

 

A escolha é dolorosa

e dela parte uma distância insalubre.

 

É como flutuar

sobre um mar de medos

e espera da queda.

 

É onde os pés afundam,

nas dunas

— que se movem na palidez

dos ventos.

 

 

GERERAÚ

 

I

 

Doeu-me

quando arrancaram

os farpados e os arames.

 

Doeu-me

quando impuseram

um muro de medo e de pedras.

 

 

II

 

Das carnaúbas ficaram

as espadas de seus talos

e a glória imaginada

de batalhas vencidas.

 

As carnaúbas guiavam,

na aridez do solo,

a fertilidade involuntária

das tardes de sábado.

 

As carnaúbas

não sucumbem às parabólicas.

 

 

III

 

Uns carrapichos

agarravam-se nas pernas,

experimentando a urbanidade.

 

Outros carrapichos

defendiam-se,

evitando a invasão,

inevitável,

da modernidade.

 

 

IV

 

A casa

já não é mais velha

nem nova.

 

A casa

se equilibra sobre

os alicerces de tijolos

e contrastes.

 

A casa

guarda um mofo

requintado

e a escrita poderosa dos tempos

(e agora um número na rua).

 

 

V

 

Nas estradas do Gereraú,

os rastros de uma época,

que não se apagam assim com esse asfalto.

 

 

 

Página publicada em outubro de 2007.





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