DIMAS MACEDO
Dimas Macedo (Lavras da Mangabeira, Ceará, Brasil, 14 de setembro de 1956) é um poeta, crítico literário e jurista brasileiro.É professor do Faculdade de Direito de Universidade Federal do Ceará, onde obteve o título de mestre, sob a orientação do professor Paulo Bonavides.
É membro da Academia Cearense de Letras. Integra o Conselho Editorial de vários jornais e revistas culturais: revistas Espiral e Literapia (Fortaleza), revista Literatura (Brasília) e revista Morcego Cego (Santa Catarina), entre outros. Compõe também o Conselho Editorial das Edições UFC, o conselho de publicações da Editora Códice, o Conselho Editorial das Edições Livro-Técnico e o Conselho Editorial do Museu – Arquivo da Poesia Manuscrita.
Nos idos de 1990/1991, participou do Movimento Poesia Plural e, em maio de 1995, com Inez Figueiredo, João Dummar, Beatriz Alcântara, Juarez Leitão e outros escritores cearenses, criou o Grupo Espiral de Literatura, fundando, posteriormente, com José Telles, as Edições Sobrames (2001) e, com Pedro Henrique Saraiva Leão (1998), a Revista Literapia e as Edições Poetaria.
Poemas e textos literários de sua autoria foram vertidos para o francês, o inglês e o espanhol e publicados em Portugal, Espanha, Inglaterra, Argentina e Estados Unidos. É autor também de trabalhos estampados em jornais e revistas do Ceará e do Brasil. Fonte: Wikipédia
A lua e as estrelas
o sol e os alabastros,
as cicatrizes de Deus
e as mulheres nuas
são formas puras de amor
que reconheço,
são como cactos
que me ferem os olhos
na distância,
tais os mistérios densos,
as perdas preciosas,
a dor de não viver a vida
presa na garganta.
MISTÉRIO
Não sei por que destino vago
ou se vegeto.
Minha vida é qual um livro aberto
que atravesso a nado.
Minha solidão tem bases de concreto
e as minhas ânsias claras intenções.
Com as lições da dor eu teço
uma canção ao vento
e reinvento a vida.
A morte é um vendaval e em tudo
o cosmos é uma interrogação.
Meu corpo a fuga. Meu prazer o medo.
E a minha dúvida uma alucinação.
Se vago ou se vegeto, escrevo:
Minha vida é qual um livro aberto.
ENIGMA
O tempo-enigma
é o que enclausurou-se
no fundo da memória
e no sol está gravado.
O tempo-eternidade
é o que fincou-se
no arco dos meus olhos
um pouco fatigados.
Não posso ver o tempo
pois tempo é inespaço
e o espaço que sinto
é sempre o tempo.
Espaço intemporal
tempo inespaço
estão plantados
entre os elementos:
O tempo é fogo.
O espaço é o oceano.
O tempo-espaço
é calmaria e vento.
De
VOZES DO SILÊNCIO
Fortaleza: Imprensa Universitária, 2003
CIRANDA
A luta pela vida
me deu uma úlcera
na garganta
E já não me espanta
que a minha aorta
esteja obstruída.
Sou um pastor de sonhos
e isso me diz tudo:
o lodo, o sangue, a pátina,
a euforia do jogo e da ciranda.
Quem me comanda é a morte,
tais esses cortes fatais
em minha vida:
essas feridas sangrando no esôfago,
esse composto plural em minha cama,
esses cardumes de linho em minha boca.
ESCUDO
Deus mudou de residência
quando eu o procurei no meu corpo.
Eu o quis novamente no cérebro
e ele já se havia plantado na alma.
Ele tinha sossegado o meu busto.
Ele fazia escrituras nos dedos
e acariciava os meus olhos
que viviam completamente tontos de enganos.
As minhas miragens morriam
quando ele chegou muito perto e me disse:
a luz é a que fica gravada na memória,
e o sol é o que nasce brilhando a cada dia,
pois a tua honra e a tua lâmina,
pois a tua glória e o teu escudo
são essas rugas de paz
e essas dálias brancas
e essas tardes mágicas
e essas plantas nobres
que se deixam cair na correnteza.
E Deus já se havia chegado
por entre os fios do sonho
e se havia anunciado leve
como as espumas e os cristais de rocha,
mas ainda não se havia desnudo,
porque as marcas ficam na alma,
porque o vórtice e as vértebras
às vezes me levam para a morte.
Mas a luz de Deus chegou
para ficar dançando no silêncio
e o silêncio
para ficar gravado nas palavras
e as palavras para serem
faladas para o próximo,
porque no próximo o instante,
porque no próximo o quadrante
e as sarças de fogo da espera.
O amor não se compraz no pranto.
A alma é como a música do bosque.
Porque maduro e belo é o encanto
dos que se vão serenos pela vida.
E Deus mudou de residência na mente.
E ficou comigo na frente do espelho.
Deus e suas vestes toscas de cambraia.
A carregar nos braços minha sombra
e a carregar a nuvem dos meus passos.
A me vestir de linho na varanda.
A me jogar confete no espírito.
A me fazer escravo do seu jogo.
A me dizer que o mundo é uma festa
quando se tem a paz e a dor é branda.
Quando se vive sozinho no deserto
buscando o amor / sentindo a esperança.
MACÊDO, Dimas. Estrela de pedra. Brasília: Editora Códice, 1994. 46 p. 13x20,5 cm. Capa e arte final: Arlene Holanda. Foto do autor na contracapa. Col. A.M. (EA)
Partilha
Para isto a vida:
o sopro dos contrários.
O fogo dos presságios
queimando as nossas mãos.
Para isto o corpo:
o dorso maduro dos afagos.
O mar. O impossível
oceano no qual nos afogamos.
Para isto a morte:
o ócio das palavras.
A paixão. O desejo.
E o conflito de quem sentiu o beijo.
27.05.1991
Banquete
Entre ostras e pêssegos eu bailo
e bêbedo
beijo o frutal das tuas algas.
Entre aspargos e vinhos
adivinho o apelo dos teus lábios.
Carnais como os teus gestos
e os meus desejos
são os potros do sonho onde resvalo.
Eu me revelo e me calo
fingindo que te esqueço.
Eu me acontece em teu perfume.
E te possuo entre ostras e aspargos.
Entre vinhos e pêssegos te consumo
e te presumo mar absoluto e furioso.
17.07.1990
MACEDO, Dimas. A distância de todas as coisas. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1980. 74 p. 16x22 cm. Capa: Boqueirão de Lavras, foto de Egidio Oliveira. Col. A.M. (EA)
POEMA — II
Devasso no fanático
pervago a crença,
persigo a prece
em mãos pedintes.
Curvado em mim
mergulho no absurdo,
entre o tédio que devasta
o quarto surdo.
Impõem-se as réstias,
retraio-me ao recinto
e novamente contemplo
a solidão que sinto.
Divago em caos
solvendo o obscuro,
inclino-me ante
o meu raciocínio,
recurvo-me perante
a lógica que concluo.
14.03.78
MACEDO, Dimas. A distância de todas as coisas. 3ª. edição. Posfácio de Paulo de Tarso Pardal. Fortaleza, CE: Imprensa Universitária,, 2001. 80 p. 14,5x21,5 cm. ISBN 978-85-7485-012-8 Ex. bibl. Antonio Miranda
POEMA TRÊS
Em torno, pensa,
liberto o homem busca,
passo ante passo, e luta.
No espelho
liberta a angústia,
o homem, de tédio feito,
em si converte a ânsia.
Consome a ausência,
lacera a dor que dói.
Precário tempo,
devasso em luto,
reluta e curva a face,
distende as mãos de si.
Lúcido, demente,
postos que é ser, e sente.
01.03.1978
ESPELHO
O corpo avança
apalpo a busca
tateio o labirinto.
Em mim
a dor lacera,
dói a solidão.
Em tudo o ser
reage aos passos
pousados no silêncio:
concluo a exatidão
da minha ausência.
No espelho
a meta se assemelha,
reajo à magia, ao perfil,
afasto a sombra.
12.03.1978
MACEDO, Dimas. Mulher. Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, 2015. 16 p. ilus. col. 20x13 cm. Editor Edson Guedes de Moraes. Edição limitada, impressora digital doméstica. Ex. bibl. Antonio Miranda
Poesia brasileira. Veja o e-book: https://issuu.com/antoniomiranda/docs/dimas_macedo
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS. FORTRI NIHIL DIFFICILE Divisa de Beasconsfield. Ano CXVII – N. 73, 2012. Fortaleza, Ceará: edições Demócrito Rocha, 2012. 344 p.
Ex. bibl. de Antonio Miranda
TEJO
Brisa no Tejo soprando,
cosendo meus rios d´ouro;
Brisa do Tejo é tesouro
dos meus olhos de cigano.
Brisa do Tejo o galope
dos meus cavalos da infância.
Brisa do Tejo a fragrância
dos meus moinhos de vento.
Brisa do Tejo os meus dedos
nas rosas de teus mamilos.
E os teus cavalos selvagens
e o aroma de teus beijos.
Brisa do Tejo o desejo
de desejar os teus braços
pousando os meus olhos baços
na copa de teus cabelos.
Testamento
Não quero mais escrever. Vou encerrar
Minha carreira de historiador.
Não faz sentido mais ser escritor,
se a estética da dor
não para de sangrar.
Quando o inverno chegar, vou mergulhar
nas terras do sem fim do meu avô.
Vou lavar as minhas mãos
e nunca mais voltar:
vou aprender a ser agricultor.
Meu pai e minha mãe,
me digam por favor:
por que plantaram
a leitura para mim
e me ensinaram um ofício sem valor?
Ser escritor, enfim,
ser escritor
é muito pouco pesado para mim:
melhor seria se eu fosse agricultor.
*
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Página publicada em janeiro de 2023
Página publicada em dezembro de 2008, ampliada e republicada em novembro de 2012; ampliada em janeiro de 2018. Ampliada em abril de 2018
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