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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DIMAS MACEDO

DIMAS MACEDO

 

 

Dimas Macedo (Lavras da Mangabeira, Ceará, Brasil, 14 de setembro de 1956) é um poeta, crítico literário e jurista brasileiro.É professor do Faculdade de Direito de Universidade Federal do Ceará, onde obteve o título de mestre, sob a orientação do professor Paulo Bonavides.

 

É membro da Academia Cearense de Letras. Integra o Conselho Editorial de vários jornais e revistas culturais: revistas Espiral e Literapia (Fortaleza), revista Literatura (Brasília) e revista Morcego Cego (Santa Catarina), entre outros. Compõe também o Conselho Editorial das Edições UFC, o conselho de publicações da Editora Códice, o Conselho Editorial das Edições Livro-Técnico e o Conselho Editorial do Museu – Arquivo da Poesia Manuscrita.

 

Nos idos de 1990/1991, participou do Movimento Poesia Plural e, em maio de 1995, com Inez Figueiredo, João Dummar, Beatriz Alcântara, Juarez Leitão e outros escritores cearenses, criou o Grupo Espiral de Literatura, fundando, posteriormente, com José Telles, as Edições Sobrames (2001) e, com Pedro Henrique Saraiva Leão (1998), a Revista Literapia e as Edições Poetaria.

 

Poemas e textos literários de sua autoria foram vertidos para o francês, o inglês e o espanhol e publicados em Portugal, Espanha, Inglaterra, Argentina e Estados Unidos. É autor também de trabalhos estampados em jornais e revistas do Ceará e do Brasil.   Fonte: Wikipédia

 

 

A lua e as estrelas
o sol e os alabastros,
as cicatrizes de Deus
e as mulheres nuas
são formas puras de amor
que reconheço,
são como cactos
que me ferem os olhos
na distância,
tais os mistérios densos,
as perdas preciosas,
a dor de não viver a vida
presa na garganta.

 

 

MISTÉRIO

 

Não sei por que destino vago

ou se vegeto.

Minha vida é qual um livro aberto

que atravesso a nado.

Minha solidão tem bases de concreto

e as minhas ânsias claras intenções.

Com as lições da dor eu teço

uma canção ao vento

e reinvento a vida.

A morte é um vendaval e em tudo

o cosmos é uma interrogação.

Meu corpo a fuga. Meu prazer o medo.

E a minha dúvida uma alucinação.

Se vago ou se vegeto, escrevo:

Minha vida é qual um livro aberto.

 

 

ENIGMA

 

O tempo-enigma

é o que enclausurou-se

no fundo da memória

e no sol está gravado.

 

O tempo-eternidade

é o que fincou-se

no arco dos meus olhos

um pouco fatigados.

 

Não posso ver o tempo

pois tempo é inespaço

e o espaço que sinto

é sempre o tempo.

 

Espaço intemporal

tempo inespaço

estão plantados

entre os elementos:

 

O tempo é fogo.

O espaço é o oceano.

O tempo-espaço

é calmaria e vento.

 

De
VOZES DO SILÊNCIO
Fortaleza: Imprensa Universitária, 2003

 

 

CIRANDA

A luta pela vida
me deu uma úlcera
na garganta

E já não me espanta
que a minha aorta
esteja obstruída.

Sou um pastor de sonhos

e isso me diz tudo:
o lodo, o sangue, a pátina,
a euforia do jogo e da ciranda.

Quem me comanda é a morte,
tais esses cortes fatais
em minha vida:
essas feridas sangrando no esôfago,
esse composto plural em minha cama,
esses cardumes de linho em minha boca.

ESCUDO

 

Deus mudou de residência

quando eu o procurei no meu corpo.

Eu o quis novamente no cérebro

e ele já se havia plantado na alma.

Ele tinha sossegado o meu busto.

Ele fazia escrituras nos dedos

e acariciava os meus olhos

que viviam completamente tontos de enganos.

 

As minhas miragens morriam

quando ele chegou muito perto e me disse:

a luz é a que fica gravada na memória,

e o sol é o que nasce brilhando a cada dia,

pois a tua honra e a tua lâmina,

pois a tua glória e o teu escudo

são essas rugas de paz

e essas dálias brancas

e essas tardes mágicas

e essas plantas nobres

que se deixam cair na correnteza.

 

E Deus já se havia chegado

por entre os fios do sonho

e se havia anunciado leve

como as espumas e os cristais de rocha,

mas ainda não se havia desnudo,

porque as marcas ficam na alma,

porque o vórtice e as vértebras

às vezes me levam para a morte.

 

Mas a luz de Deus chegou

para ficar dançando no silêncio

e o silêncio

para ficar gravado nas palavras

e as palavras para serem

faladas para o próximo,

porque no próximo o instante,

porque no próximo o quadrante

e as sarças de fogo da espera.

 

O amor não se compraz no pranto.

A alma é como a música do bosque.

Porque maduro e belo é o encanto

dos que se vão serenos pela vida.

 

E Deus mudou de residência na mente.

E ficou comigo na frente do espelho.

Deus e suas vestes toscas de cambraia.

A carregar nos braços minha sombra

e a carregar a nuvem dos meus passos.

A me vestir de linho na varanda.

A me jogar confete no espírito.

A me fazer escravo do seu jogo.

A me dizer que o mundo é uma festa

quando se tem a paz e a dor é branda.

Quando se vive sozinho no deserto

buscando o amor / sentindo a esperança.

 

 

 

 

MACÊDO, DimasEstrela de pedra.  Brasília: Editora Códice, 1994.  46 p.  13x20,5 cm.  Capa e arte final: Arlene Holanda.  Foto do autor na contracapa.  Col. A.M. (EA)

 

Partilha

 

Para isto a vida:

o sopro dos contrários.

O fogo dos presságios

queimando as nossas mãos.

 

Para isto o corpo:

o dorso maduro dos afagos.

O mar. O impossível

oceano no qual nos afogamos.

 

Para isto a morte:

o ócio das palavras.

A paixão. O desejo.

E o conflito de quem sentiu o beijo.

 

27.05.1991

 

 

Banquete

 

Entre ostras e pêssegos eu bailo

e bêbedo

beijo o frutal das tuas algas.

Entre aspargos e vinhos

adivinho o apelo dos teus lábios.

Carnais como os teus gestos

e os meus desejos

são os potros do sonho onde resvalo.

Eu me revelo e me calo

fingindo que te esqueço.

Eu me acontece em teu perfume.

E te possuo entre ostras e aspargos.

Entre vinhos e pêssegos te consumo

e te presumo mar absoluto e furioso.

 

17.07.1990

 

 

 

MACEDO, Dimas.  A distância de todas as coisas.  Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1980.  74 p.  16x22 cm.  Capa: Boqueirão de Lavras, foto de Egidio Oliveira.  Col. A.M.  (EA)

 

 

POEMA — II

 

Devasso no fanático

pervago a crença,

persigo a prece

em mãos pedintes.

 

Curvado em mim

mergulho no absurdo,

entre o tédio que devasta

o quarto surdo.

 

Impõem-se as réstias,

retraio-me ao recinto

e novamente contemplo

a solidão que sinto.

 

Divago em caos

solvendo o obscuro,

inclino-me ante

o meu raciocínio,

recurvo-me perante

a lógica que concluo.

 

                   14.03.78

 

 

MACEDO, Dimas.  A distância de todas as coisas. 3ª. edição.  Posfácio de Paulo de Tarso Pardal.  Fortaleza, CE: Imprensa Universitária,, 2001.  80 p.  14,5x21,5 cm.  ISBN  978-85-7485-012-8  Ex. bibl. Antonio Miranda 

 

         POEMA TRÊS

         Em torno, pensa,
         liberto o homem busca,
         passo ante passo, e luta.

         No espelho
         liberta a angústia,
         o homem, de tédio feito,
         em si converte a ânsia.

         Consome a ausência,
         lacera a dor que dói.

         Precário tempo,
         devasso em luto,
         reluta e curva a face,
         distende as mãos de si.

         Lúcido, demente,
         postos que é ser, e sente.

                  01.03.1978     

 

         ESPELHO

         O corpo avança
         apalpo a busca
         tateio o labirinto.

         Em mim
         a dor lacera,
         dói a solidão.

         Em tudo o ser
         reage aos passos
         pousados no silêncio:
         concluo a exatidão
         da minha ausência.

         No espelho
         a meta se assemelha,
         reajo à magia, ao perfil,
         afasto a sombra.

                   12.03.1978

 

 

MACEDO, Dimas.  Mulher.  Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, 2015.  16 p. ilus.  col.  20x13 cm.  Editor Edson Guedes de Moraes.  Edição limitada, impressora digital doméstica. Ex. bibl. Antonio Miranda

Poesia brasileira.  Veja o e-book:  https://issuu.com/antoniomiranda/docs/dimas_macedo

 

REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS.  FORTRI NIHIL DIFFICILE Divisa de Beasconsfield. Ano CXVII – N. 73,  2012.  Fortaleza, Ceará: edições Demócrito Rocha, 2012.  344 p.  
                                                         Ex. bibl. de Antonio Miranda

 

       TEJO

      
Brisa no Tejo soprando,
       cosendo meus rios d´ouro;
       Brisa do Tejo é tesouro
       dos meus olhos de cigano.

       Brisa do Tejo o galope
       dos meus cavalos da infância.
       Brisa do Tejo a fragrância
       dos meus moinhos de vento.

       Brisa do Tejo os meus dedos
       nas rosas de teus mamilos.
       E os teus cavalos selvagens
       e o aroma de teus beijos.

       Brisa do Tejo o desejo
       de desejar os teus braços
       pousando os meus olhos baços
       na copa de teus cabelos.

      
Testamento

 
      Não quero mais escrever. Vou encerrar
       Minha carreira de historiador.
       Não faz sentido mais ser escritor,
       se a estética da dor
       não para de sangrar.


      
Quando o inverno chegar, vou mergulhar
       nas terras do sem fim do meu avô.
       Vou lavar as minhas mãos
       e nunca mais voltar:
       vou aprender a ser agricultor.

       Meu pai e minha mãe,
       me digam por favor:
       por que plantaram
       a leitura para mim
       e me ensinaram um ofício sem valor?

       Ser escritor, enfim,
       ser escritor
       é muito pouco pesado para mim:
       melhor seria se eu fosse agricultor.
                                                                                         

*
  VEJA E LEIA outros poetas do CEARÁ em nosso Portal:       

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/ceara/ceara.html

 

Página publicada em janeiro de 2023
      

 

 

 

 

Página publicada em dezembro de 2008, ampliada e republicada em novembro de 2012; ampliada em janeiro de 2018. Ampliada em abril de 2018


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