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DIEGO VINHAS
Nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1980. Coedita a revista de poesia Gazua e integra o grupo de intervenção urbana Rasura. Publicou Primeiro as coisas morrem (2004).
Poemas extraídos de
Primeiro as coisas morrem
(2004)
DE UM CALENDÁRIO
as coisas, depois, têm o tamanho da bagagem.
cada um sabe o peso das alças, a medida do que
escorre. e comungam, além do instante e das
coordenadas, a dose de um tédio que rumina e
aprende a doer,
depois.
primeiro, as coisas morrem.
CHIAROSCURO
mas ouça: na lousa da noite
os grilos vão deixando reticências
Cláudia Roquete-Pinto
talvez sob a noite
calejada de grilos
um
meu filho
talvez
existisse
e, baldio, evitasse uma sílada
enquanto
pastoreia
o caminho do brinquedo:
um ferrorama
que não carrega vozes
em suas vísceras plásticas
que não atrasa
como os trens do interior
e – alheio aos
olhos de gude –
apenas
cumpre
os trilhos
desta noite
de pânico e
esgrima
PÁTRIO PODER
the strings are cold on the blue guitar Wallace Stevens
(para) singrar na pele em cruz da rede – armistício e embalo: dentro do pêndulo, vinhetas de laços. por assim dizer. do que o momento alonga-se chiado de vinil. de perder-se por paredes conhecidas (cada objeto absorto em seu país: roer o lugar de tudo no lugar.)
como é que hoje se chama?
um jeito de navegar proteção, bonita diáspora ante o féretro de imperfeitos pretéritos (o paleta, sua disciplina pendurada sem esqueleto – fotografias nômades de gavetas – afetos em pugilato) emergindo dos sargaços. ou, por assim nem dizer: pai, idioma de tumulto e águas. partilhando idades, mãos, ainda sempre laços – longevos – na rede, (para) sangrar. à espera.
como se as coisas soubessem caber.
VISITA
da mesma matéria
de que são feitos
os domingos
- tédio e vapor em pedra-sabão –
compunha-se a espera
num gesto mais
branco.
Página publicada em dezembro de 2009
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