CARLOS GONDIM
1886 - 1930
Carlos Gondim, poeta parnasiano. Publicou: Tortura de Artista (1915), Poemas do Cárcere (1923), Ânsia Revel (1929). Nascei em Fortaleza, e foi assassinado, em 11 de março de 1930.
AS CIMBÚLIAS
Irrequietas, à flor das ondas, em cardumes,
Ora róseas, abrindo as asas, ora azúleas,
Vogam na espuma argêntea, em seus radiosos lumes,
Como efêmeros sóis, errantes, as Cimbúlias,
Centenares, ao léu das vagas em cerúleas
Conchas, de burgalhões e remotos negrumes
Surgem, bailando ao som de misteriosas dúlias,
Haurindo à equórea planta os estranhos perfumes.
Loucas, no amplo lençol das águas espumantes,
Brincam: - e é todo o mar refúlgida Golconda
De topázios, rubis, safiras e diamantes ...
E, volúveis, ruflando as asas sobre as vagas,
Em farândola ideal, elas vão de onda em onda:
— Borboletas do oceano, adormecer nas fragas.
(Ânsia Revel 1929)
MARIA
No Calvário, Jesus expira. A turbamulta
Desvaira. No estertor, Cristo ainda mais padece
Ante o néscio bramir da multidão, que o insulta,
E o seu magoado olhar, raso d'água, amortece.
Cai a sombra, e o terror gera na plebe inculta,
Que, agora, o árido cerro em muda fila desce.
Trágica, a mais e mais, a sombra cresce e avulta,
Soluça em derredor uma dorida prece,
Desgrenhada, vencendo o monte, na vertigem
Do ascenso, a horrenda cruz finalmente atingia
Aquela que a Jesus gerou no ventre virgem.
Chega, tomba e desmaia... E, de repente, pelas
Alturas, o ermo céu chora a dor de Maria,
Com as lágrimas de luz de todas estrelas!
(Poemas do cárcere, 1923)
Página publicada em novembro de 2016
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