ARY ALBUQUERQUE
Ary Jaime Albuquerque nasceu em Fortaleza — Ceará em 05 de março de 1934. Bacharel em Administração de Empresas e em Ciências Contábeis.
Possui cursos nas áreas de Psicologia Aplicada ao Trabalho e Mercado de Capitais realizados nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Ambientalista convicto, tem participado de eventos e ministrando palestras sobre reciclagem de plásticos, em várias capitais do Brasil
Foi membro fundador da Fundação Amigos do Theatro José de Alencar.
ALBUQUERQUE, Ary. Noturno. Ilustrações de Geraldo Jesuíno.
Apresentação por André Seffrin. Fortaleza: Imprece, 2020.
104 p. ilus. 14x 21 cm. ISBN 978-85-8126—233-8
Ex. bibl. Antonio Miranda
Ilustração de Geraldo Jesuíno.
CONFISSÃO DE UM POETA
Poeta sou, não nego.
Canto a vida e a natureza
e o desamor também.
Meus versos são tristes,
iguais a saudade de uma partida
e, muitas vezes, alegres
qual o arrebol da primavera.
Os dias seguem suas trilhas
certas ou incertas
e eu vou cumprindo meu destino
entre momentos de ventura e desventura.
Quem ousará ser diferente
sendo poeta?
BARCO
Ermo navega um barco à deriva.
Segue perdido na margem esquerda do rio,
onde a marola é mais forte.
Não há tripulantes.
Busca seu destino
acompanhando a correnteza.
Afundará no mar
e as ondas, verdes como a esperança,
serão seu túmulo.
OCASO
Quase noite.
A penumbra perde-se
no ombro da serra.
Ouve-se distante o canto de pássaros
à procura de agasalho nas árvores.
Além,
uma nesga de luz
teima em abrasar
o final do ocaso.
NOTURNO 2
Um cravo vermelho
surge na crista da paisagem.
O crepúsculo chega.
A lua desponta,
tonta de mistérios.
ALBUBUQUERQUE, Ary. 128 Poemas de amor. Fortaleza: Imprece, 2020. 140 p. ilus. 14 x 21 com.
ISBN 978-85-8126-235-1 Ex. bibl. Antonio Miranda
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Cálido, era o vento da madrugada.
Luminosa a lua no firmamento.
Pela janela aberta entrava
um perfume de rosas silvestres.
E tu insinuante e despida
convidava-me para o lúdico jogo de amor
que não pude recusar.
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Ouso-me no texto:
do universo ao protesto,
do comum ao descomunal,
do prolixo ao simples,
do real ao abstrato,
do singular ao plural.
Mas quando chego ao amor
esse tem que ser ousado e total,
sem residual...
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Altiva. Olhar atento.
Via-me de soslaio
com um desejo inconfessável
Num momento nossos olhos se cruzaram.
Daí em diante foste um rio
em que naveguei deslizando
por entre marolas e calmarias.
ALBUQUERQUE, Ary. Momentos divididos. Rio de Janeiro: Topbooks, 2007. 1
89 p. ISBN 978-85-7475-134-4
“É visível em ARY ALBUQUERQUE uma forte e indissociável filiação aolirismo cósmico, ao resgate da memoria e ao eterno, conquanto escorregadio e traiçoeiro, tma do amor. Enfim, uma poesía que, à semelhança da que escreveu Dylan Thomas, se debruça sobre as questões seminais da existencia humana: o temo, a norte, o nascimento, o amor, a infancia. Surpreende neste livro o milagre da comunhão que consegue operar o poeta entre a espontaneidade dos versos e o extremo apuro com que os entalha, impedindo assim que os contamine aquele transbordamento da emoçao que acabou por desencaminar incontáveis de seus pares. Sua lição, ao contrario, é a da austeridae expressiva, daquela sábia e seca parcimônia que caracteriza a alma nordestina, vale dizer: essa flor que, como ensina João Cabral de Melo Nweto, não deve ser perfumada em demasia, mas sim cultivada “com mão certa, pouca e extrema”. E é nessa efusão contida que consiste a emotion recollected in tranquility com que nos brinda e comove o poeta Ary Albuquerque.” IVAN JUNQUEIRA, da Academia Brasileira de Letras.
ECO
Meu eco extgravasou-se em desatino,
perdeu sem saber o seu destino,
sumiu no mar em desaprumo
e sem querer, coitado,
perdeu seu rumo.
Melhor ficasse aquí olhando o sol que brilha,
pastorando no céu o cintilar de estrelas,
ou me envolvesse inteiro com a noite fría,
respirando o ar seco que o espaço trilha.
Fortaleza, maio/2002
LAMENTAÇÕES
Não choro a chuva.
Não choro o vento.
Choro o meu lamento
por alguma coisa que me fez triste
e triste vivo ao relento.
Fortaleza, janeiro/2002
ALBUQUERQUE, Ary. Tríade poética. Seleção de José Alcides Pinto. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003. 337 p. ISBN 85-7475-068-9
CENA
Amantes, arrebatados pelo estreito abraço,
buscam o prazer.
Na calma da noite, o silêncio
contempla o desejo e tece em seu íntimo
o impulso do amor.
Pela janela aberta, entra a brisa
e as roupas desalinhadas sobre a cadeira
repousam sem pressa.
Amantes de ontem e de hoje,
até onde irá o sentimento
que lhes une a alma?
Aeroporto Ezeiza
Buenos Aires fevereiro/04
CHUVA
Noite convulsa.
Disparam no céu
relâmpagos e trovões.
Cai a chuva
que sorrateira escorre
parede abaixo,
indo desaguar na calçada.
Vazia a rua.
Lâmpadas ofuscadas
são espectros da noite
inventadas pela solidão.
A lua desaparece no dilúvio da noite.
Praia de Marambaia
Carnaval, 2004
PRINCÍPIO E FIM
Pedra nua, imóvel,
em teu sono profundo repousa
o princípio e o fim de tudo.
Memórias perdidas
e almas esquecidas
beijam-te a silhueta.
Estática diante da paisagem desértica
fincada no solo, esquecida,
és símbolo da eternidade
e continuarás pedra, sonho, enigma.
City Hotel
Buenos Aires, fevereiro/04
Página publicada em agosto de 2011; Página ampliada em agosto de 2020.
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