ANTÔNIO BANDEIRA
Antônio Bandeira (Fortaleza, 26 de maio de 1922 — Paris, 6 de outubro de 1967) foi um pintor e desenhista brasileiro. É um dos mais valorizados pintores brasileiros e tem obras nas maiores coleções particulares em museus do Brasil e do mundo. Junto com Aldemir Martins, Inimá de Paula e outros, fez parte do Movimento Modernista de Fortaleza, nos anos 1940.
Em 1946, com bolsa do Governo francês, viaja a Paris, onde tem oportunidade de estudar na École Superieure des Beaux Arts e na Académie de la Grande Chaumière. Renomado mestre da pintura abstrata brasileira - e também mestre das aquarelas -, viveu grande parte de sua vida na França. Conviveu com os pintores da tradicional École de Paris, integrando-se a eles plenamente até seu retorno ao Brasil em 1960.
Faleceu em Paris, em consequência de um choque pós-operatório numa prosaica operação de extração de amígdalas.
Antônio Bandeira nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 26 de maio de 1922. Autodidata, em 1941, aos 19 anos de idade, participou da criação de um Centro Cultural em Fortaleza, juntamente com Clidenor Capibaribe, o Barrica (1913) e Mário Barata (1915-1983). Um e outro, mais velhos e experientes que ele, muito orientaram Bandeira em sua iniciação no movimento artístico daquele Estado. Em 1944 funda a Sociedade Cearense de Belas Artes, com Inimá de Paula, Aldemir Martins, João Maria Siqueira e Francisco Barbosa Leite.
Em 1945, Antônio Bandeira participou da exposição do Instituto dos Arquitetos Rio de Janeiro, na qual foi contemplado com uma bolsa de estudos na França. Entre 1946 e 1950, em Paris, freqüenta a Escola Superior de Belas Artes e a Académie de La Grande Chaumière. Independente, pouco afeito à disciplina, com idéias próprias que tencionava desenvolver, em breve Bandeira romperia com o ensino tradicional, juntando-se a Wols e Bryen e dando origem ao grupo Banbryols, iniciais dos nomes dos três pintores. O grupo duraria de 1949 a 1951, quando Wols morre.
De volta ao Brasil, em 1951, instala-se no ateliê do amigo escultor José Pedrosa, onde também trabalhava Milton Dacosta. Volta a Paris em 1965, onde permanece até sua morte. Fonte: wikipedia
BANDEIRA:VERSO E TRAÇO. Angela Guitiérrez e Estrigas, org. Fortaleza, CE: Edições UFC, 2008. 156 p. 20x19,5 cm. ilus. ISBN 978-85-7282-287-9 “ Antônio Bandeira “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília
“Alguns textos escritos por Bandeira, em prosa e poesia, atuam com legendas de seus textos em desenho e pintura — caso específico de “Cidade Queimada de Sol” —, e controem uma poderosa teia de significações, em que uma arte enriquece a outra, permitindo uma leitura plura de sua obra, ao multiplicar as significações através da mistura de substâncias e formas artísticas.” ANGELA GUTIÉRREZ
Só porque é domingo
Só porque é domingo
a mulher do botequim
amanheceu varrendo a calçada
de cabelos encaracolados em aparelhos
para o cinema da noite.
Um momento de chateação
às vezes a gente fica louco como um pesadelo. Os miolos
não saem da cabeça e o corpo fica preso pelos ossos, e
quatro paredes que vêm andando torturam como prisão.
Filosofia do desespero
Natal
Os vinténs que não compram nada enforcados no barbante
Cultivei batatas inglesas aéreas com a umidade do inverno
Um brecha de sol às vezes
Um longo passeio pelo mundo
Encontrei minha avó arrodeada de ouro no Marché aux Puces
e a pendurei na parede cor de rosa da mansarda. Nesse
tempo ela estava com seis anos.
Ironia do mundo
Homenagem aos cornos de Paris
A grande pergunta íntima
Quem pode adivinhar se as escadas sobem para o céu ou
descem para o inferno.
A MARSARDA
Repouso da grande jornada e descoberta da mansarda
A mansarda, refúgio dos homens e dos ratos, purifica a
gente. Com mais de 1.600 pecados sou capaz de gritar que
sou puro.
Remorso com o mundo e um desejo de ser bom
Vontade de oferecer flores à prostituta e escutar a
música do cego.
Hospitalidade com amor ou sem
Dorme-dorme nenenzinho sem nacionalidade
O poder imaginativo
Na inhaca da mansarda às vezes os pincéis têm cheiro
de flores.
Um estado de pureza que vem vindo
Ouvir a luz que ilumina as garrafas.
A simplicidade
O ovo da quitanda gerado em ilustração para o poema
do amigo.
Concepção de arte
A mansarda pariu um projeto para qualquer coisa no mundo.
Página publicada em julho de 2015
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