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AMÉRICO FACÓ

(1885-1953)

 

Américo de Queirós Facó (Beberibe, 21 de outubro de 1885 — Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 1953) foi um poeta e jornalista cearense, viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Publicou poemas em vários períodicos de seu tempo, como o Jornal do Ceará e o Álbum Imperial, de São Paulo.Considerado pela crítica literária como surrealista, seus primeiros versos (em torno de 60 poemas) foram publicados no periódico Jornal do Ceará, de Fortaleza, entre 1907 e 1908. Lá publicou também artigos políticos de oposição ao governo de Nogueira Acioly ("um dos mais poderosos oligarcas do Norte", segundo Edigar de Alencar). Por causa desses artigos, em "21 de dezembro de 1908, dois ou três soldados da polícia à paisana deram violenta surra no poeta nas imediações da Praça Marquês do Herval", segundo afirma Gustavo Barroso, que diz ainda que "salvou-lhe talvez a vida a intervenção do Capitão do Exército Castelo Branco, morador na casa da esquina, atraído pelos seus gritos".

Em 1910, mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1911, já fazia parte dos círculos literários mais importantes do páis. Sua obra, porém, só seria publicada em livro em 1946, com Sinfonia Negra. Em 1951, publicou Poesia Perdida, renegando tudo o que produzira no Ceará. Seus poemas revelam o cultivo da forma e das rimas raras, talvez reflexo da leitura dos clássicos portugueses.
Foi diretor da parte literária da revista Fon-Fon. Trabalhou no Instituto Nacional do Livro e no Senado Federal.  Fonte: wikipedia

 

ILUSÃO DE INVERNO

Sonho o inverno. — Eis o inverno! eis a chuva que chega!
E a terra eis como um ser que ressuscita! O orgulho
Da vida corre após do carvalho ao tortulho,
O aguaceiro de abril vales e campos rega.

E a flor! E o fruto! E o aroma! — Aves, no doce arrulho
— Um Desejo que busca e um Pudor que se entrega —
Aos regatos ouvindo o constante marulho.

A sementeira farta abrolhando no rudo
Paul da terra é tão rica e boa! A setembro
Hemos tê-la sem par... — Mas o torpor sacudo:
Ilusão! Que é ilusão isso tudo, me lembro!
— A terra, estéril, jaz sem produzir — e em tudo
O implacável calor deste sol de novembro!...

 

A BELA ADORMECIDA

A alma levada longe, e todavia
Presente, e presa do segredo, anima,
Expira a rosa de opulento clima,
Flor viva, aroma novo, aura macia.

Desejo franze o beijo, e se inebria;
Abraço iluso  preme e tem por cima
Um corpo alheio, — na delícia prima
De oculta flama que se nega ao Dia.

Entrevencido e surpreso, adivinha
O ser profundo e a vertigem da vida,
Fruto suspenso da secreta vinha...

Forma acesa de amor adormecida!
Para a primícias de um mistério antigo,
Um deus solerte quis dormir contigo.

 

Página publicada em agosto de 2015


 

 

 
 
 
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