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Foto:  https://br.images.search.yahoo.com/

 

ADRIANO ESPÍNOLA

( Ceará )

 

Nasceu a 01 Março 1952 (Fortaleza- Ceará- Brasil)

 

 

 

 

ADRIANO SPÍNOLA

De

Adriano Spinola
FALA FAVELA

Fortaleza: 1981

 


FALA FAVELA foi encenada, pela primeira vez,  em 1980, no Teatro Paschoal Carlos Magno, Teatro Universitário Universidade Federal do Ceará, pelo Grupo GRITA, dirigida por José Carlos Matos.

 

Observação: A verdadeira grafaia do nome do poeta é ADRIANO ESPINOLA, que ele passou a adotar nas edições de seus livros posteriores.

Para ler outros poemas, acessar : ADIANO ESPINOLA

 

aviso

 

não há lei nem rei

que me afronte:

meu poema é liberdade

minha casa uma ponte

 

não há rei nem lei

que me amedronte:

meu cartório é o vento

minha escritura é defronte

 

não há lei nem rei

que me afronte:

minha gleba é o homem

e a hora minha fonte

 

não há lei nem rei

que me amedronte:

trago um mandato do tempo

e a dor no horizonte.

 

 

 

Zé da Carminha responde

 a chico bernardino

 

- cumpadre Bernardino

  minha vida é bem outra:

   já não venho do sertão

   mas de outros sumidouros

 

  daqui mesmo da cidade

  por onde passou meu corpo:

  nas favelas em que morei

  como quem veste uma roupa

 

 

 

  roupa suja emprestada

  (pois a terra era dos outros)

  roupa de taipa apertada

  quase pregada nos couros

 

  e foi trocando tal roupa

  que vim parar onde estou

  morando neste quarto buraco

  como quem no barro se abotoa

 

  por isso cedo aprendi

  a viver como quem pousa:

  hoje no pó duma lagoa

  amanhã nas costas dum morro

 

  não por mim essa andança

  (pois sempre mudei à força)

   mas pelos donos da cidade

   que nos enxotam feito moscas

 

  cumpadre Bernardino

  deixe dizer-lhe outra coisa:

  um homem bem que se perde

   no próprio chão que povoa

 

  basta viver agoniado

  com a miséria em seu trono

  pelejando à beira-vida

  o dia que finda reimoso

 

  por passar por tantas mudas

  aprendi mais uma coisa:

  a casa de cada homem

  começa no próprio corpo

 

  que se estende nos filhos

  na mulher e nas coisas

  que ele coloca ao redor

  prá se sentir mais duradouro

 

 

 

 

  porém aqui nesta favela

  (bem como em qualquer outra)

  a vida fere com seus cacos

  pois nunca mostra seu todo

 

  morando assim desse jeito

  onde tudo é raso e pouco

  um homem pode sentir-se

  menos vivo do que morto

 

 

                                      O Tempo

 

                                      e tudo é tempo:

                                      o copo sobre a mesa

                                      a mosca sobre a massa

                                      o corpo sobre a mágoa

 

                                      o estalido do armário

                                      o estar-sendo pela sala

                                      a estação no quintal

 

                                      a voz entre paredes

                                      a vertigem entre paredes

                                      a vida entre paredes

 

                                      a memória com suas palavras

                                      a morte    com suas      lavras

                                      o medo     com suas     palas

 

                                      o homem com seu susto

                                      o homem com sua busca

                                      o homem com seu custo

 

                                      e tudo é tempo:

                                      deus na cumeeira

                                      a eternidade na soleira

                                      o poema na prateleira

 

 

 

Cena 1      

(ou poema vertebral para Francisco Gonçalves)

 

 

uma bala dentro do corpo

         eis minha casa

 

uma bala loteando a espinha

         eis meu espaço

 

uma bala habitando a fala

         eis minha sala

 

uma bala guardada nos gestos

         eis meu armário

 

uma bala varando o sono

         eis o meu quarto

 

uma bala na viga dos braços

         eis meu terraço

 

uma bala plantada no tempo

         eis meu quintal

 

uma bala posseira da fome

         eis minha paga

 

 

 

Os gran-proprietários

 

os gran-proprietários têm suas leis

suas finas-falas

suas balas

e a força de seus muros

                                  -engatilhada

 

 

faturam        faturam        faturam

a fome         a força         a fábrica

a favela        a fortuna      a fábula

fero             zzzzzzz         mente

 

só não o futuro

 

 

 

HÁ VAGAS para texto e traço. No. 2.    Brasília: 1983-     Revista. Capa: Chico Leite / Félix Valois.  Com o apoio do Decanato de Assuntos Comunitários da UnB.  Sul América Seguros. EMILIBRA – Empresa Litográfica Brasileira Ltda.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Palavras chave : Poesia social – Poesia política – Poesia de protesto.

Teatro e poesia – favela - favelado

 

NEW BRAZILIAN POEMS.  A bilingual anthology after Elizabeth Bishop. 
Translated &       edited by Abhay K.. Preface by J. Sadlíer.  Rio de Janeiro:
Ibis Libris, 2019. 128 p. 
16 x 23 cm.   ISBN 978-85-7823-326-6
Includes 60 poets in Portuguese and English         
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Fome

Se tens fome de madrugada,
toma uma folha de papel em branco
e nele sorve em silêncio
com volúpia ou nada
que te espanta e consome.

Se ali encontrares outra coisa
ao despertar do dia
(o pão ainda fresco do sonho,
a palavra que amadureceu de repente
ou os gomos abertos do sol).

Chama-me depressa,
porque também tenho fome —
tenho essa mesma fome que não sacia.

 

Hanger

If you are hungry in the dark hours,
take a blank sheet of paper
and in it sip in silence
with voluptuousness or nothing
what amazes and consumes you.

If there you find something else
to wake upo for the day
(the still fresh bread of the dream,
the word that has suddenly matured
or the open buds of the sun).

Call me quickly,
because I´m hungry too —
I have that same hungert that does not satisfy.

 

*

VEJA e LEIA outros poetas do CEARÁ em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/ceara/ceara.html

 

Página publicada em abril de 2022

 

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