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WESLEY MOREIRA DE ALMEIDA

 

 

ALMEIDA, Weslley Moreira de.  Memórias fósseis.  Ilhéus, BA :  Editus, 2016.   103 p. : il. Prefácio por Aleilton Fonseca.   ISBN 978-85-7455-422-8

 

Em sua primeira edição, o Prêmio Sosígenes Costa 2016 contou com o apoio da Academia de Letras de Ilhéus, que constituiu a comissão de seleção do prêmio, e da Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz (EDITUS-UESC) na publicação do livro “Memórias Fósseis”, de autoria de Weslley Almeida, residente em Feira de Santana, vencedor do Prêmio. E-book- https://issuu.com/antoniomiranda/docs/memorias_fosseis

 

 

Em Memórias fósseis Weslley Almeida escava sentidos ocultos pelo tempo:

os fatos, as imagens, ideias e vivências de sua vida. Ele assume o discurso como intérprete das revelações e das descobertas acumuladas desde a infância, fazendo uma releitura daquelas marcas indeléveis que

permanecem como traços da personalidade do ser adulto. O poeta revê sua trajetória, ainda tão recente, para rememorar, reler os afetos, sentir de novo as experiências vividas, através da poesia do presente. São atos

de vontade, achados criativos e invenções de linguagem. Ele afirma que o poeta é um quixote das palavras, ou seja, um artífice de sonhos e ilusões, em luta constante com os moinhos de significados.
ALEILTON FONSECA

 

 

PAIS VEGETAIS

 

O pé de manga e de goiaba

na infância

eram meus pais vegetais.

 

Andava neles

 como quem voava.

Os besouros

– que ali na copa das árvores

moravam –

de tanto eu subir no alto

já da família me consideravam

não reclamavam de minha hospedagem

diária

 

 mas eu não podia mexer

 – era o contrato –

 na fruta madura e cheirosa

 que eles pousavam

 

(aos poucos meus pés cresciam...)

 

Me tornei órfão quando

cimentaram aquele quintal.

Quando

cortaram meus pais

pelo tronco

 

eu fiquei todo

 

sem raiz.

 

 

 

URBES OPERANDI

 

Os acordes da cidade:

dissonantes

altissonantes.

 

A simetria dos prédios

a cronometria dos passos

o monólogo monótono maquinal

 

o click do enter

o ruído do aço

 

operários dançam sem melodia

repetitivos os braços

e o dia a dia

(como roda de polia)

 

é o mês

 

mo-tor

 

nado.

 

 

 

SINESTÉSICO

 

Órgãos dos sentidos excitados

 

Cores frente pulam aos meus olhos

é o da mata o verde

e do céu, o anil.

O branco do sorriso

da brincante criança

colore minh’alma.

 

Um amigo o anímico do outro toca

sem dizer palavra:

o abraço.

As bocas dos amantes

– entrelaçados –

sentem a sucção do beijo

o avanço da língua

o macio dos lábios.

 

O perfume da fruta

atiça o desejo

da fome do olfato.

Aromas de flores exalam

o suave e forte.

 

Um camponês tira o doce da cana

e o caldo

se mistura

e dura

na saliva

o gosto

quanto mais suga o bagaço.

 

Captam tímpanos

a sinfonia insistente dos grilos

melódica dos pássaros.

Folhas secas

barulham

ao chão

 

maturadas pela cor

gosto do tempo

           empurradas

pela voz – toque –

cheiro do vento.

 

 

 

CANTO DOS GALOS

 

Eu alcanço as manhãs

no canto dos galos.

Os seus gemidos

levantam o sol.

 

Despertam

meus ouvidos soníferos

 

 e o

 olhar

 pro arrebol.

 

 

 

QUINTAL

 

Fui à casa de minha avó. Senti

(pés descalços)

a terra úmida de seu quintal.

Pedi

silente

à árvore

licença pra colher seus frutos.

Aquele pé de acerola

possuía uma coloração verde-folhagem

que enamorava o vermelho das frutas.

 

Os loros

do meu falecido avô

ali na árvore

camufl ados de esperança

não paravam de me chamar

“tabaréu-réu-réu...”

Eu

bem perto deles

cheguei

e disse:

 – quem dera.

 

 

 

Página publicada em setembro de 2017

 


 

 

 
 
 
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