Foto: Foto: David Glat.
WALTER QUEIROZ
Compositor. Instrumentista (violonista). Cantor. Advogado. Publicitário.
Sobrinho do escritor José de Queiroz Júnior e do compositor Nilo Queiroz. Primo do saxofonista Cacao Chamiê e do compositor Fred Falcão.
Aos quatorze anos, formou, com Johildo Barbosa e Mário Morgade, o Abaeté Samba Trio, que atuava em colégios e clubes e chegou a participar de programas de televisão, com destaque para o primeiro programa musical da TV Itapoã, de Salvador, comandado pelo compositor Carlos Coqueijo, que registrou, no início dos anos 1960, a primeira aparição em TV de Caetano Veloso e Maria Bethânia. Em 1961, compôs sua primeira música, "Compreensão", classificada em segundo lugar no Festival de Música Carnavalesca, promovido pela prefeitura de Salvador. Atuante no movimento estudantil, foi contemplado, em 1966, com uma bolsa da A.U.I. (Associação Universitária Inter-Americana), com a qual estudou na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, tendo sido diplomado, com distinção, no curso de verão de Ciência Política naquela instituição. N ww.dicionariompb.com.bro ano seguinte, diplomou-se bacharel em Direito, pela Universidade Federal da Bahia, na qualidade de orador da turma. Trabalhou, como advogado, durante três anos, abandonando a profissão para dedicar-se exclusivamente à carreira musical. Extraído de: ww.dicionariompb.com.br
MODERNA POESIA BAHIANA - Antologia. Apresentação de Walmir Ayala. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967. (Col. Tempoesia, 7) “Walmir Ayala“ Ex. bibl. Antonio Miranda
RETALHOS DE HOJE
Na confluência das horas
germinarão as manhãs
no esquecimento das cores
gestando flores letais
as margaridas sangrando
no tombamento dos corpos
arribação dos canteiros
habitação nos fuzis
eu sei de loucas bandeiras
subindo o mastro dos sonhos
como notícias estampadas
informando os alucínios
quando as crianças passaram
louvando a festa do sol
eis que o olhar tão ferido
nem soube do feito azul
nem houve tato ao formato
da nave antiga em regresso
as impressões marinheiras
no baile branco das velas
pediu entrada na roda
para brincar de inventor
em silente artesanato
dos ritos para o encontro
porém a mão estendida
girou no ar (só... sobrou)
os gestos estão cravados
nos quinhões já repartidos
na confluência das horas
correm sonoras de fogo
no pavilhão indefeso
bandeiras de ocupação
com notícias estampadas
faca/navalha/cinzel
hábeis de corte fundando
trabalho de sangue novo
a cruz gravada no peito
tem raiz no coração
nos braços um gesto abraço
preparando a comunhão
junto os retalhos de hoje
e não direi da esperança
tornar bandeiras de fogo
em estandartes de paz
FORMAÇÃO
Nem pétala nem pano
corpo
embora rosa
breve
resiste à cruz
e vive
nem posse nem plano
sonho
embora sombra
queda
o caos
evola em verde
canta
nem arma nem arte
sentido
embora pasmo
amplo
e alvo
inventa a ponte
passa
nem torna nem tarda
noturna
embora estrela
dalva
assume a cruz
e sangra
nem luto nem lírio
cicatriz
embora marca
funda
e grave
explode em grito
batalha
O SUSTO
O susto era o céu
violento nos olhos
a mancha de fogo
cidade de nuvens
O susto era o sonho
na festa da noite
pastando lembranças
do último espanto
O susto era a tarde
passando carreira
girando a criança
pião na varanda
O susto foi grito
um gesto sem jeito
a lança de anúncios
no alvo do peito
O susto de agora
no tempo de hoje
folia de pranto
no canto das armas
VIAJEIRO
Ao marco 22 da longa (ou curta) estrada
irrompe a inquirição, vibra no ar
O viajeiro em seu andar tão pouco sabe
embora a rosa lance claro fumo
fogo de pétalas primeiras e perplexas
Mãos possuídas agora tão vazias
são reses soltas por ferro marcadas
compasso leve paralelo ao corpo
transformo em giro ao buscar nos olhos
lágrima rara, oblação ao tempo-fera
A perna informe pelo pêso enorme
é o exaspeero de ser por partir
antes da hora do final consumo
Assim é o viajeiro preso aos seus redores
apenas dono do seu grito e pranto
sem a resposta necessária seiva
que informa o verde britando o amarelo
Ou sabe muito e esta é sua cruz
que então transporta como um barco doido
o nunca mais pousável em manso porto
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Há uma estrada pontilhada em marcos
que o viajeiro com seu passo engole
o tempo ao seu redor é pasto de mil cantos
enquanto em sua mão a rosa convalesce
e já permite pétala tão clara
Página publicada em fevereiro de 2016
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