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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TRAZÍBULO HENRIQUE PARDO CASAS

 

Nascido em Feira de Santana - BA, na safra de 1957, Trazíbulo Henrique Pardo Casas equilibra-se bem entre a matemática, de que é professor, e a poesia, à qual oferece dedicação diferenciada e apoio integral. Ativista literário, participou das revistas Atos e Salamandra, ambas de poesia, e O Lixo, de contos. É também co-diretor da revista Hera, a mais longeva publicação de poesia no Brasil, desde 1985. Além de textos avulsos em revistas, Trazíbulo Casas publicou dois livros de poesia: Explicações à Minha Bota Furada (1983) e Noite Verde (2000).

 

A poesia de Trazíbulo é uma  constante tentativa de flagrar, com certa perplexidade, momentos de alta voltagem poética que brotam em cenas banais do cotidiano. Com algumas pitadas de surrealismo, ele cria um clima lírico estranho, mas que ao mesmo tempo nunca se afasta de referências bem conhecidas.  CARLOS MACHADO

 

CASAS, Trazibulo Henrique Pardo.    Noite verde.  Feira de Santana, BA: Edições MAC, 2000.    34 p   (Col. Aldebarã, 2)  12,5x18,5 cm.   “  Pardo Casas “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

PRÓLOGO

 

                                 p/ fernando hora

 

todas as noites

aqueles homens decidem o destino

                                    do mundo.

fora de cena, um louco enrola-se

                                 em jornais

e sonha com homero.

 

 

INFÂNCIA

 

(l)

a goteira do velho telhado

 

e o ressonar de meu pai.

a minha primeira sinfonia concretista.

 

(2)

a enxurrada

 

levando sonhos

e os meus primeiros segredos.

 

(3)

 

deixei minha coragem

no penúltimo avental

de minha mãe

 

 

 

A FESTA


os copos se olham silenciosamente
e nas mesas passeiam uma revolução
uma dívida e uma covardia.

 

CASA DA ESQUINA

 

        p/ dina feigenbaum

 

o verso é triste às três horas da tarde

a rua passa às três horas da tarde

 

com pontualidade caminha o rapaz

com roupas azuis, braços azuis, coração azul

e pede com voz entrecortada

                    e azul

um punhal e um beijo

 

o pregoeiro comanda uma invasão

sonora

enquanto donas-de-casa respondem

que não querem vassouras

que sentem saudades de um amor

e que são infelizes

 

entre a sombra e o sol

como num jogo lúdico

          exponho

minhas verdades e minhas mentiras

e minha irmã lê distraidamente

os rifões de sancho pança

 

a rua é triste às três horas da tarde

o verso passa às três horas da tarde

 

 

 

 

HERA 1972-2005.  Antonio Brasileiro et al.. organizadores.  Salvador, BA: Fundação Pedro Calmón; Feira de Santana, UFES Editora, 2010.  712 p.  fac-símile. ilus. (Memória da Literatura Baiana).  ISBN 978-SS85-99799-14-7  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

            FILARMÔNICA VITÓRIA

        a fachada azul
         e só
         um poema de iderval miranda

 

         MY HAPPY DAYS IN NEW YORK

        as janelas olham
         uma estudante às vésperas
         do exame
         uma mesa posta
         um casal e as contas

         as janelas sentem
         um violoncelo soluçante
         uma estante vazia
         quem sabe
         hoje encontro a felicidade
         nas gôndolas
         ou coisa parecida

         as janelas
         e um letreiro de academia de ioga

 

         BOM SENSO

        vamos passear
         é terça-feira
         já não existem passeatas

         moças passam apressadas
         garotos-de-serviço trazem toda papelada
         de porto alegre

         uma cidade perambula
         e meu filho quer estudar inglês

 

         OS DEDOS

        paulina veste vermelho
         doída de pedra

 

         PARA KUROSAWA

        quero me casar na primavera
         e instalar o linux no escritório

         quero ver nas vitrines
         painéis de Picasso e Portinari
         e gravar essas imagens nu cd

         quero aprender o mundo a linguagem e wittgenstein
         na estante
         o rádio
                     )eu quebrei o jarro
                      eu matei a flor(

         quero sonhar
         e morrer

 

 

 

Página publicada em dezembro de 2014; página ampliada em janeiro de 2019


 

 

 
 
 
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