THEREZA KOLBE
Thereza Kolbe é autora de Sortilégios (Thasaurus, 1989), A quem interessar possa (Escopo, 1991) e, pela editora 7Letras, Do mirante (2003), Livro do Rio (2005) e O fio de Ariadne (2006), sendo este último contemplado com o prêmio 2007 pela Accademia Internazionale "Il Convivio", e Retrato das alturas (7 Letras, 2007).
“A linguagem poética transita entre o significado literal, ao pé da letra, e as mais ousadas transgressões semânticas. Os sofisticados tropos e devaneios poéticos não têm medo da fala coloquial. A música é que mais ordena, porque ela também é sinônimo de liberdade, tanto nas esferas celestes como na terra. A poesia é aqui uma forma de amor mundi, que faz a vida ser mais leve para o vivente poder alcançar as alturas e até pôr os pés no infinito.” Henrique Siewierski
De
RETRATO NAS ALTURAS
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007
hoje recebi uma carta
o correio bate
a porta se abre
reconheço num relance
sua letra
que me dá o prêmio do dia
é daqui que tiro versos
desse seu sorriso à distância
ouço um farfalhar pianíssimo
e penso nas montanhas
nada é mais alto
VISITANDO CARTAS
venho sozinha
para além multo além de mim
um manso alento
oferece urna fonte
ao sedento
entre outras coisas
num interminável
estar liso e lento
bem concentrado nas malhas
onde se aplica-trabalha
zumbem abelhas excitadas
em suas torres de mel
submersa estrada
onde elas se distinguem
em melódico escarcéu
algo reticente
cresce em langor
indulgente
1986
ANGÉLICA QUE COMPARECE
perfume de Angélica
dobrada falta
que não ouso polir
muda flor que vive
a contar historias
Angélica que com
parece dócil e deixa
ficar no ar esse fres
cor que pode me co
mover até a alma
frenética flor em novo
estilo tão alvo
que parece ser
da tribo do lírio
viajando no tempo
ela faz bonito a con
fiar seu grande segredo
segredo esse que me faz
perder o poder sobre mim mesma
KOLBE, Thereza. O fio de Ariadne. Rio de Janeiro: 7Letras, 2006. 72 p. 13X20 cm. ISBN 85-7577-323-2 Col. Bibl. Antonio Miranda
NO CEU DO QUARTO
no céu do quarto
voa um pássaro
soltoedetidocomigo
onde acredito
estar muito
abandonada
começo a sentir
que não sei mais se
Ele é um deus
um duende ou
um pássaro
e assim vou
só
a me levar
em desalinho nesse
canto calmo onde
a verdade e o engano
com seu perfume
nas alturas con
so
antes falam
TEMPESTADE NOS ALPES
assisto assumo
urna tempestade ¡mensa
seus raiosflechas para arqueiro
nenhum botar defeito
riscam um misterioso
e noturno enredo
chovem grandes efeitos
extraordiná
rio sei sou
flecha e alvo
em animado jardim
de idéias a des
enrolar fantasias perfumadas
simples complexo exclusivo
bem comum e interplanetá
rio ser em marcha
Página publicada em junho de 2009; ampliada em maio de 2014. |