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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 POESÍA SATÍRICA

 

SILVIO VALENTE

1918 - 1951

 

 

Filho do Dr. Afonso de Castro Valente, advogado e professor catedrático da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade da Bahia, falecido a 25-4-54, e D. Maria Amália dos Santos Pereira Valente, nasceu Silvio Valente a

27 de fevereiro de 1918, em um sobrado à Gamboa de Cima nesta velha cidade do Salvador.

 

Além de um irmão gémeo, deixou duas irmãs e mais três irmãos ao falecer prematuramente, vítima de terrível nefrite aguda, a 4 de maio de 1951.

 

Aprendeu a ler muito cedo, quase sozinho, nos jornais e no livro "Teatro da Oposição", de Timon (Manços Chastinet). Iniciou o curso primário no colégio de São Bento, concluindo-o com professores particulares.

 

Em 1930 ingressou no Ginásio N. S. da Vitória dos Irmãos Maristas, aí tendo feito o curso secundário sempre com notas distintas. Escreveu os seus primeiros trabalhos literários para o "Farol" (revista do ginásio).

 

Aluno brilhante da Faculdade de Direito, desde o vestibular em 1935 até a diplomação em 11 de dezembro de 1939, a sua passagem pela tradicional escola deixou marcas indeléveis da sua inteligência pujante e do seu caráter independente. Grande apaixonado dos esportes, destacou-se no futebol, na posição de goleiro, chegando a ser campeão acadêmico em 1938. Pouco antes de concluir o curso traçou o perfil dos colegas em quadras e o dos professores em sonetos. Com estas poesias que quase lhe trouxeram uma expulsão, adquiriu de fato e de direito a fama de poeta satírico dos melhores que a Bahia já produzira.

Avesso à disciplina militar, teve vários incidentes durante o curso do C. P. O. R. terminando por ser excluído por abandono.

 

Ingressou na Magistratura, por concurso, tendo sido Pretor de Camamu de 9-12-41a 31-3-43, quando exonerou-se e passou a exercer o magistério, lecionando Francês e Português no Colégio Estadual da Bahia.

 

Durante a guerra foi convocado e serviu por mais de um ano como soldado raso na Cia. de Engenhos do 18 R. l.

 

Voltando às atividades civis continuou no magistério e começou a colaborar em jornais e revistas com artigos de crítica literária e sátiras em prosa e versos. Em 1947 manteve em "A Tarde" uma seção que alcançou grande popularidade, intitulada "Tabuleiro da Bahiana", sob o pseudónimo inicial de Bernardo Só e posterior de Pepino Longo.

 

Em 1949 fez concurso para efetivar-se como professor de Português do Colégio Estadual da Bahia, sendo classificado em primeiro lugar juntamente com outro dos concorrentes. Ensinou também Literatura no Instituto Normal da Bahia.

 

Conhecedor profundo da língua francesa, verteu para o idioma de Racine o "Navio Negreiro" de Castro Alves. Traduziu para a nossa língua um grande número de poesias dos maiores autores franceses, espanhóis e italianos. Deixou também uma série de inspiradas poesias líricas, inéditas na sua quase totalidade e que constituem o primeiro volume da presente edição.

 

 

 

VALENTE, SilvioObras Completas.  II - Satíricas.  [Salvador] Bahia: S. A. Artes Gráficas, 1959.  190 p.  17x23,5 cm.  “ Silvio Vicente “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

A CANÇÃO DOS QUEREMISTAS

 

Pegue um pobre analfabeto,

de alma pura e peito hercúleo,

prometa-lhe um bom decreto.

dirá: .— Queremos Getúlio! —

 

Lance mão de algum chefete

dos sertões de Deus, açule-o

com promessas e, em falsete

dirá: .— Queremos Getúlio! -—

 

Precisa de um jornalista?

Não tenha mão no pecúlio;

 

e em linguagem quinhentista

dirá: — Queremos Getúlio i —

 

Quer um jurista? Eu não temo

dizer que é simples: rotule-o

de Ministro do Supremo;

dirá: — Queremos Getúlio ? —

 

Para quem prefere o raro

espinho se chama acúleo;

e "queremos mais", é claro.

se diz: .— Queremos Getúlio! —

 

Assim com o "team" formado

pegue o Dutra, manipule-o,

e ele mesmo entusiasmado,

dirá: — Queremos Getúlio l —-

 

E ouviremos num berreiro

sob o claro azul cerúleo-

— Nós não queremos dinheiro

Nós só queremos Getúlio!...

 

Mas todo bom brasileiro

que não quiser, dissimule-o:

porque teremos Getúlio.

 

 

PROFISSÃO DE FÉ

 

Poeta orgulhoso da tua arte, empunha

os instrumentos com sagrada fé!

Cinzela o verso da cabeça ao pé

e nem te escape cotovelo ou unha.

 

Toma Castro e Camões por testemunha:

foram artistas bem ruins até. . .

Somente o vulgo é que lhes dá a alcunha

de grandes poetas; nenhum deles é..

 

A inspiração não vale nada, é cousa

que acontece a qualquer todos os dias.

Só no lavor da forma a arte repousa

 

Heredia e Leconte, eis teus modelos!

Procura as rimas raras, fugidias,

como quem gosta coleciona selos.

 

 

F O O T I N G

 

Rua Chile. Cinco e meia. Na Milano

O Manézinho canta uma embolada.

Bondes, automóveis, estrupido urbano.

A roda costumeira está formada,

 

De tudo se conversa; acaciano

alguém diz: — Que calor! Uma risada

e um mexerico explode; salvo engano,

a vida alheia aqui não vale nada.

 

Gasta-se espírito (e do mais brilhante);

flutua no ar um cheiro avassalante

de suor cerebral que se derrama.

 

Então a rebolar, cor de canela,

a moreninha passa. . . e Décio exclama:

— Como ela é boa!. .. Puxa!. . . Salve ela!.

 

 

O. M.

 

Oitenta quilos de "filet" sem osso,

Eis um homem de peso, que se diga!

Calça quarenta e nove de pescoço

E a papada lhe bate na barriga.

 

Mas o que a mim e a todo mundo intriga

É vê-lo, sempre, tão pesado e grosso,

Agilmente vencer qualquer fadiga

E conservar-se heroicamente moço.

 

Moço no ardor com q lie se entrega à vida,

tendo no verbo o encanto aurifulgente

E as miragens da Terra Prometida. . .

 

E moço na ambição com que, na taba,

Quer ser sempre o maior, chegando à frente,

Para as delícias frescas da mangaba.

 

 

EPITÁFIO

 

{Edgar Santos}

 

Reitor austero e imponente,

teve um prestígio mirífico.

Desce o caixão, lentamente,

e um verme diz: — Magnífico!

 

 

Página publicada em junho de 2015


 

 

 
 
 
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