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SERGIO DE MATTOS
Sérgio Mattos (Fortaleza, 1 de julho de 1948) é um poeta, jornalista, compositor e professor universitário brasileiro.
Está radicado em Salvador desde 1959. É mestre e doutor em Comunicação pela Universidade do Texas, em Austin. Foi editor do jornal A Tarde, de Salvador e é diretor da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
Livros de poesia: Nas Teias do Mundo (1973); O Vigia do Tempo (1977); Time's Sentinel (1979); Já Não Canto, Choro (I No Longer Sing, I Cry) (1980); Lançados ao Mar(1985); Asas Para Amar (1995);
Estandarte (1995); Trilha Poética (1998); Étendard (1998); Fio Condutor (2006); Essência Poética(2011); Era uma vez um poeta (2010).
Fonte da biografia: wikipidia
RETROPECTIVA DO MUNDO VIRGEM
A Burle Marx
Vivo numa terra-mundo violada,
poluída e estraçalhada.
O verde findo chora orvalho
neste tempo de palhaçada.
O mundo das flores
foi despetalado
no tempo de espinhos.
— O verde fino chora orvalho
neste tempo de palhaçada:
A infância pura
cheia de figuras e liberdade
invade-me a lembrança:
O ar despoluído e céu brilhante
daquela época foram despojados
deste tempo.
Vivo numa terra-mundo violada
poluída e estraçalhada.
— O verde findo chora orvalho
neste tempo de palhaçada.
(1973)
ESTANDARTE
Que os poetas
façam a Revolução da Canção,
que usem as flores, as palavras
e os poemas como armas
da libertação.
Que os poetas cantem
o amor, a liberdade
e usem a verdade
como estandarte
na luta contra a alienação.
(1979)
SERTÃO
No meu sertão
a vida é traquejada
e as mãos são calejadas.
Aqui estou longe da fumaça
das grandes cidades
e perto da simplicidade
das vaquejadas.
Com o surgir do sol nascente
o canto dolente
do vaqueiro rompe a preguiça costumeira
de todo amanhecer inocente
desta terra, onde ainda se pode sentir
alegria em ver brotar a semente,
sentir a força do vento,
saber o valor da chuva
e morder o talo do capim verde.
(1979)
QUESTIONAMENTO
Senhores!
Seria o branco a pureza que procuro
entre tarjetas, nas sarjetas,
nas saletas escuras
dos sebos sem rótulo, nem selo?
Senhores!
Não há luz na sarjeta.
Seria o poema a chama
ou o preço da fama?
(1989)
PELADA POÉTICA: antologia. Organizadores: Júlio Abreu e Mário Alex Rosa. Belo Horizonte, MG: Scriptum, 2013. 118 p.
ISBN 978-85-89-044-69-1 Ex. bibl. Antonio Miranda
A COPA NOSSA DE DIA
Todos jogavam à minha volta “tiro ou coroa”.
Não era azar não era sorte.
Os meninos descalços e sua copa eram pobres.
Usavam camisas coloridas desbotadas.
Os juízes era ladrões.
O tapete verde mágico era de terra batida.
Todos eram Garrincha por um dia.
O único ouro erro de alegria do sol,
E de alguns poucos dentes de traficantes.
Por acaso e por técnica era o gol.
Esboça-se um carnaval imediato.
O mundo era duro e a bola era oficial.
Acabou a tapas pela derrota de uns,
E pela comemorativa cervejinha gelada
Antes do almoço caprichado de sábado,
E o sono pesado da tarde.
*
Página ampliada em maio de 2023.
Página publicada em março de 2020
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