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SELENE DE MEDEIROS

 

/ SELENEH DE MEDEIROS

Seleneh de Souza Medeiros nasceu em Salvador, Bahia em 1914. Formou-se em Arte Dramática e música, foi poeta, declamadora, conferencista e concertista. Percorreu o Brasil, vários países da América e Europa fazendo recitais de poesia e violão. Em 1962 realizou encontros com escritores em Leningrado e Praga. Em 1967, fez apresentações em Varsóvia e Cracóvia. Em 1973, recebeu o prêmio internacional Trullo d'Oro, na Itália, pelos espetáculos realizados naquele País. Também, em 1973, foi delegada brasileira na 1a Conferência Mundial de terapia por Poesia, em Nova York onde ficou morando durante alguns anos dando espetáculos.

Contudo, a poesia era a paixão especial de Seleneh. O primeiro livro foi em 1946, com os poemas Alvorada. Nessa mesma vertente da poesia gravou vários poemas declamados, como Poema de amor.

Obras da autora: Alvorada, 1946; Canto do silêncio, 1948; Gota d'água, 1950; Alma cigana, 1952; Canarana, 1957; Possuída, 1964; Poema aos cosmonautas, 1969; Amanhã, 1965; A hora seguinte, 1967; New York trio, 1977.

Seleneh de Souza Medeiros nasceu em Salvador, Bahia em 1914. Formou-se em Arte Dramática e música, foi poeta, declamadora, conferencista e concertista. Percorreu o Brasil, vários países da América e Europa fazendo recitais de poesia e violão. Em 1962 realizou encontros com escritores em Leningrado e Praga. Em 1967, fez apresentações em Varsóvia e Cracóvia. Em 1973, recebeu o prêmio internacional Trullo d'Oro, na Itália, pelos espetáculos realizados naquele País. Também, em 1973, foi delegada brasileira na 1a Conferência Mundial de terapia por Poesia, em Nova York onde ficou morando durante alguns anos dando espetáculos.

Contudo, a poesia era a paixão especial de Seleneh. O primeiro livro foi em 1946, com os poemas Alvorada. Nessa mesma vertente da poesia gravou vários poemas declamados, como Poema de amor.

Obras da autora: Alvorada, 1946; Canto do silêncio, 1948; Gota d'água, 1950; Alma cigana, 1952; Canarana, 1957; Possuída, 1964; Poema aos cosmonautas, 1969; Amanhã, 1965; A hora seguinte, 1967; New York trio, 1977.

 

MEDEIROS, Selene de.  Amor.  3ª edição.  São Paulo: Massao Ohno – Roswitha Kempf Editores,  1982.  s.p.  21x21 cm.  Capa: “Nu”, de Aurelio D´Alencourt.   ex. autogr.  Col. A.M. 

 

SONETO DA TARDE

 

Venho da tarde, a tarde azul de ressonâncias,

de brisas e canções, cigarras, grãos de trigo.

Ungiu-a de ouro o vale, e trouxe das distâncias

um cheiro bom de espuma e de rosal antigo.

 

E assim vestindo tarde ao teu encontro sigo,

e levo o resplendor de todas as infâncias.

Sou pólen, sou cristal, clareira... e vão comigo

brisas, névoas, canções, espumas e fragrâncias.

 

— Foi por amor que vim —direi. Mas tu, disperso,

nem me ouvirás sequer. E passará meu verso,

tantas réstias de luz sem que possas detê-las...

 

Mas deixarei contigo a tarde e o seu tesouro,

a estranha floração de espumas, brisas de ouro,

poemas, névoas, canções, pólens, cristais, estrelas...

 

 

DA BUSCA

 

Por que ainda buscar, buscar em tudo, em tudo,

no silêncio, no mar, às estrelas, ao vento,

à espera de um lampejo em que ando e me demudo?!

— Cada rosto um sinal, cada encontro que tento

 

uma desesperança a mais, um desalento. . .

Buscar se não há vinda e apenas eu me iludo?!

E a perda. . . e os dias de ânsia e de aniquilamento,

e o tempo, o tempo enorme e indiferente e mudo. . .

 

Ainda assim te buscar. E o desencontro eterno

me leva onde não vais, divide nossos passos. . .

Pois mesmo em frustração, sem glória, sem prazer,

 

bendigo o sonho e a dor, bendigo o céu e o inferno,

que esta busca de ti, de ti para os meus braços,

é a suprema razão que tenho de viver.

 

 

 MEDEIROS, Seleneh de.  Amanhã. Poemas. Ilustrações de Urano. Rio de Janeiro, A Estante, 1955.  139 p.  16 x 23 cm.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

         MOLEQUE TRINTA

        Moleque Trinta
é um risco de nanquim
na página da rua...
Tão irrequieto, alegre, buliçoso,
salta aqui, vira ali, pulando e rindo
na pantomima da carinha nua...

        Moleque Trinta
não tem nem nunca teve profissão...
Vive de expedientes,
como qualquer funcionário público
que quer aparentar, sem ter tostão...
Ora engraxa um sapato,
compra garrafa vazia,
dá recados, também, para o bicheiro...
Mas sempre alegre como um deus gaiato,
escancarando a face cor de pixe
num riso muito branco e galhofeiro...

        Moleque Trinta
não sabe o seu nome. E este apelido?
Quem é que lhe pôs? Também não sabe, não...
Sabe a gíria do morro,
sabe contar vantagens
das brigas que venceu, de outros moleques,
do foot-ball do Campo da Assunção...

        Hoje, Moleque Trinta
amanheceu doidinho pra brincar...
Fez, de começo, a féria de engraxate.
Assim, logo de entrada,
quinze cruzeiros — três sapatos bigs
tem a média com pão, assegurada...
E um chica-bom... Decerto, é muito pouco...
Mais um cigarro... e é só... toca a pular.
E a manhã, tão bonita,
está branca, branquinha,
como se fosse de jajá-de-côco...
(Moleque Trinta pensa, com razão,
que essas manhãs, assim,
que vêm cheirando a folhas de quintais,
são feitas, de encomenda,
para os meninos que não têm brinquedos,
que só têm as manhãs.. e nada mais...)

        Olhe ali: Mexerica também veio...
E Alfredinho também .... E o Zé-Navalha...
Olha o Zarolho... “Aposto que esta bola
não é a dele... aposto que é roubada...
Eh, pessoal! Vamos brincar, que é cedo,
Vamos brincar de bola na calçada...”

        Ajuntamento... Vaias...  Algazarra...
Olha o Trinta... delira de alegria...
É cada goal que faz parar o trânsito...
Não tem asas nos pés o diacho do menino?
Salta, corre, esperneia, quase voa,
dribla os comparsas, vai fazendo blague...
Um risco de nanquim em ziguezague...

        Mas... de repente...
gritos, assovios...
É de um guarda
que vem prende o rancho de vadios...

        Corre, Trinta!  Depressa!
Você não sabe o que é ficar trancado
no Distrito?
É não ter bola, não ter jogo de tarde,
não manhã de sol, pra andar liberto...
Não ter um gole de café, bem quente...
E mais que tudo isso
não ter comida para a mãe doente...

        Corre, Trinta! Depressa!
e ele desesperado, cego, aflito,
foge do guarda, vai sem direção,
se estatela na rua...
E acontece uma coisa inenarrável
que mancha a claridade do verão...
Um carro passa... e o vulto pequenino...
O vulto pequenino está no chão...

        Moleque Trinta
está deitado, quieto como nunca,
sobre o asfalto da rua...
Os olhos muito abertos
no último espanto da carinha nua...

        Um dos outros meninos
leva a manga rasgada do casaco
aos olhos que uma lágrima empanou...

        Moleque Trinta lá ficou sozinho...
Você, Moleque Trinta, coitadinho,
um risco de nanquim se apagou.

 

        MINUTO DE SILÊNCIO

       Senhores Donos do Mundo,
por favor, um minuto de silêncio!
Lenira está subindo
a escada rangedor
da Casa dos Holocaustos...
(a escada geme tanto,
que até parece que acompanha o pranto).
E leva suas mãos magras e brancas,
como dois lírios murchos na alvorada...
E leva uns olhos grandes e espantados,
ainda cheios de infância e de meiguice...
E leva seu vestido de candura
que vai roçando nos degraus profanos...
E leva nos dois seios pequeninos
a primeira emoção dos treze anos...

        Senhores Donos do Mundo,
Lenira é uma criança,
uma criança doente...
Estava dormitando mansamente
se sono de inocência e enfermidade,
quando a miséria da cidade grande
acordou-a de rijo, brutalmente,
empurrou-a sem nojo, sem piedade,
para uma escada rangedora e antiga,
onde ressoam passos de pecado
e rolam prantos de desesperança...

        Senhores Donos do Mundo,
olhai-a, vai levar a virgindade...
e é como se trouxesse rosas frescas
no seu vestido curto de criança.

        Atrás da escusa porta,
mãos estranhas, tremendo de cobiça,
perpassarão nesse imaturo corpo,
que não chegou a dealbar em flor...
Respirações de angústia e de luxúria
macularão seu lábio de menina...
(Meu Deus, que ideia ela fará do amor?!)
Olhares de tristeza e desengano
sondarão, lentamente,
seu ventre ainda inconcluso — madrugada
que nunca teve a glória de ser dia.
Lábios com rictos de volúpia fria
sufocarão seus gritos de pudor...
Dir-lhe-ão palavras turvas como a vida...
(Meu Deus, que ideia ela fará do amor?!)

        E depois de algum tempo,
o corpo de Lenira, ainda mais magro,
ainda mais branco do que agora está,
há de sair da Casa de Holocaustos,
mas o vestido lindo de candura
não roçará pelos degraus profanos,
porque seus dedos — pobres lírios murchos —
estarão mudos sobre o seio frio...
— velho trapo de seio ressequido,
onde ninguém dirá
que já cantou o albor dos treze anos...

        Mulheres pobres como tu, Lenira,
desamparadas como tu, Lenira,
deporão flores simples
com teu rosto marmóreo...
E cegas porque choram
não verão certamente o nimbo de ouro
que te circunda a fronte de menina,
nem a coorte de anjos
que levará teu vulto alvo e incorpóreo,
na apoteose divina de um clarão...

        Senhores Donos do Mundo,
por favor, um minuto de silêncio!...
Por favor, um minuto de oração!...

 

        AMANHÃ

       Meu Filho:
Amanhã não haverá luto de guerras...
Amanhã não haverá prantos de miséria...
Não haverá meninos sem infância...
Não haverá separações no mundo...
Amanhã,
os braços que estão cheios de calor
se estenderão para aquecer o frio...
As mãos que trazem flores de ternura
enxugarão as lágrimas de dor...
Tudo isso, meu Filhinho, meu Querido,
porque os homens, enfim, terão compreendido
a grandeza cristã desta palavra... Amor!...

 

        POEMA PARA AS MÃOS CALOSAS

       Dizem que tuas mãos são ásperas e bárbaras!
E eu vejo em tuas mãos
a terra palpitando em colheitas e messes...
Escuto o fermentar das sementes sagradas...
Experimento a coragem dos pássaros
que levam palha virgem para os ninhos...
Recebo o convite límpido das noites
e a oferenda augural das madrugadas...
Ouço o canto viril de arados e de enxadas,
desdobrando caminhos...
E a música das águas redentoras,
e a surdina dos grãos...
Quando amanhece para o mundo inteiro,
amanhece primeiro em tuas mãos!...

        Dizem que tuas mãos são feias e calosas!
E eu encontro beleza em tuas mãos!
Vejo os grandes navios de outros portos,
como castelos de luzes nas noites silenciosas...
Vejo-os levar aos longes continentes
as mensagens fraterna que elas mandam...
Dizem que tuas mãos são feias e calosas!
E eu vejo majestade
em suas rudes palmas castigadas,
porque elas mostram como é poderoso
o silvo longo das locomotivas...

        Porque elas me ensinaram
a alegria das pedras
que serão bases de pilares novos...
e a coragem das pontes
que ligam terras e aproximam povos...

        Dizem que tuas mãos são incultas e pobres!
Sim.  São feias, são gastas,
são despidas de ouro e de ilusão...
Mas são elas que, missionariamente,
dão ao solo a alegria de ser trigo
e dão ao trigo a glória de ser pão!...

 

 

 

Página publicada em março de 2013; AMPLIADA em setembro de 2019

 


 

 

 
 
 
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