Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA BARROCA BRASILEIRA


 

SEBASTIÃO DA ROCHA PITA

 

Sebastião da Rocha Pita (Salvador, 3 de maio de 1660 — 2 de novembro de 1738) foi um advogado, historiador e poeta brasileiro. 

Estudou no Colégio dos Jesuítas da cidade de Salvador, então capital do Estado do Brasil, obtendo o grau de Mestre em Artes. Aos 16 anos, partiu para Portugal e na Universidade de Coimbra obteve o grau de bacharel.

 

 

Soneto

 

Quando Fílis as lágrimas bebia,

em um fio de pérolas brilhante

da matutina luz, bela, e flamante

precursora do sol, e mãe do dia,

 

uns dentes se lhe partem à porfia

para a união das pérolas amante,

que sendo a qualidade semelhante

os quis conglutinar a simpatia.

 

Bem que ao beber as pérolas luzentes

se lhe quebrem os dentes, julga e toca

não serem as matérias diferentes,

 

pois sem se conhecer mudança, ou troca

enfiados por pérolas os dentes

têm por dentes as pérolas na boca.                                                                                               

 

Soneto

 

                                               A ver do Sol o novo nascimento,

                                               a nova Lua veio prontamente

                                               um e outro Planeta no Ocidente

                                               trazendo o seu efeito, e movimento,

 

                                               o Sol em raios grande luzimento,

                                               a Lua em águas copiosa enchente

                                               assistindo a Academia mais ciente,

                                               e concorrendo a dar-lhe o fundamento.

 

                                               Para encher ao Congresso de favores

                                               mais se expende um Planeta, outro mais arde,

                                               o dia repartindo em seus primores.

 

                                               Ambos fazem do seu obséquio Alarde

                                               um em cristais, e outro em resplendores,

                                               a Lua de manhã, e o Sol de tarde. 

  

Soneto jocoso

Pondero a emudecida formosura

De Fília, sem temer que impertinente

Possa, no meu soneto, meter dente,

Pois carece de toda a dentadura.

 

Se, por cobrir a falta, esta escultura

Tão muda está que não parece gente,

Estátua de jardim será somente,

Se de pano de raz não for figura.

 

O Senhor Secretário quer que a creia

Bela sem dentes; eu lho não concedo:

Desdentada é pior do que ser feia,

 

E em silêncio só pode causar medo,

Ser relógio do sol para uma aldeia,

Para um povo estafermo do segredo.

 

Soneto

Mudou o Sol o Berço refulgente,

ou fez Berço do Túmulo arrogante

galhardo onde se punha agonizante

com luz no Ocaso, e sombras no Oriente.

 

Não morre agora o Sol, quer diferente

no Aspecto, se na vida semelhante

no Oriente nascer menos flamante,

e renascer mais belo no Ocidente.

 

Fênix de raios a uma, e outra parte

comunica os incêndios, e fulgores,

porém com diferença hoje os reparte.

 

Nasce lá no Oriente só em ardores,

no Ocidente a ilustrar Ciência, e Arte

renasce em luzes, vive em resplandores.

 

 

 

Soneto

 

Hoje faz anos, faustos, e constantes

O maior Rei, na Corte mais luzida,

Conta poucos na idade mais florida,

E muitos nas ações mais relevantes.

 

Se numera as virtudes por instantes,

Se em ânimo Real não tem medida

Não são, a encher o seu alento, e vida

Monarquias, nem séculos bastantes.

 

A carreira do tempo é curta empresa,

Os Reinos mais florentes infecundos,

O espaço de dous Orbes estreiteza,

 

E hão mister, atributos tão profundos,

Tal poder, tal valor, tanta grandeza,

Mais Anos, mais Impérios, novos Mundos.

 

 

 

Soneto

 

O desvelo maior tem aplicado

Fílis para esquecer um bem perdido,

Mas como pode o bem ser esquecido,

Quando o próprio desvelo o faz lembrado?

 

Como pode o discurso desvelado

Ver-se do que imagina dissuadido?

Lembrar-se de esquecer traz no sentido,

E vem o esquecimento a ser cuidado.

 

Se da perda o descuido não tomasse

Por empresa, essa mágoa que padece

Fora possível, que lhe não lembrasse.

 

Mas a memória em Fílis permanece,

Pois se o descuido de cuidado nasce,

Do que quer esquecer se não esquece.

 

 

 

Soneto

 

Fala o Mar no contínuo movimento,

O fogo em línguas as Esferas toca,

A terra em terremotos abre a boca,

Em sibilantes sopros silva o vento.

 

Logo como a dizer seu sentimento

Uma alma racional se não provoca,

Quando o silêncio pelas vozes troca

Sem uso de razão cada Elemento?

 

Como pode vencer quem pouco ativo?

Não manda à boca, quanto o peito encerra,

E estando mudo, não parece vivo.

 

Só triunfa em falar, em calar erra,

O racional vivente discursivo

Falando o Vento, o Fogo, o Mar, e a Terra.

 

 

 

Soneto

 

Deste Apotema vigilante, e cego

Uma parte confirmo, outra reprovo,

Que o Amor com Amor se paga provo,

Que o Amor com Amor se apaga nego.

 

Tendo os Amores um igual sossego,

Se estão pagando a fé sempre de novo

Mas a crer que se apagam me não movo,

Sendo fogo, e matéria Amor, e emprego.

 

Se de incêndios costuma Amor nutrir-se,

Uma chama com outra há de aumentar-se,

Que em si mesmas não devem consumir-se.

 

Com razão deve logo duvidar-se

Quando um Amor com outro sabe unir-se

Como um fogo com outro há de apagar-se?

 

 

 

Página publicada em agosto de 2010. Página ampliada em dezembro de 2018

 

 

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar