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SANTOS MORAES

 

Antonio dos Santos Moraes nasceu em Casa Nova, Bahia, a 20 de setembro de 1920, e estreou em 1948 com um volume de poemas intitulado “A Nuvem de Fogo”. Seu segundo livro, oito anos depois, em 1956, ainda foi de poesia, com o título de “Tempo e Espuma”. Logo em 1959, dedica-se à ficção, saindo publicado seu primeiro romance, “Menino João, que teve larga repercussão, com mais de cinquenta artigos e notas críticas, e com o qual conquistou, em 1960l o importante Prêmio de Romance do Instituto Nacional do Livro.  Publico outro romance, em 1963  - O Caçador de Borboletas”  e seu último livro conhecido é de poesia: POEMAS DO HÓSPEDE (Rio de Janeiro: Editora Luan, 1969), do qual extraímos os poemas a seguir:

 

MORAES, Antonio Santos.  Poemas do Hóspede.  Rio de Janeiro: Editora Luan, 1969.  120 p. 12x18 cm.  “Editado com a colaboração do INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO”.  Col. A.M. 

 

H. S. E.

Um grito na madrugada
e uma criança nasce.
Um surdo gemido na noite
e um homem morre.
Hospital
longos corredores desertos
em horas tardias,
vultos de branco velando
as lentas agonias.
Aqui morreu o meu amigo Osório Borba
e José Lins do Rego deu o último suspiro.
Procuro no ar a presença de tantos mortos ilustres
e não encontro vestígio.

A luz acesa na porta do quarto
pede socorro.
A vida presa por um fio
pede ajuda.
Nervos e coração, ciência e alma,
num minuto se lançam contra a morte.
Aqui não é fácil morrer!

Gotas, seringas, balões, soros,
e os instrumentos cirúrgicos,
são mobilizados contra ela.
Os vermes podem esperar!
Corações param e num instante
voltam a pulsar debilmente
e reencontram a vida.
Hospital
vasto laboratório
imenso navio de triagem para o nada.

 

ARMÁRIO ANTIGO

Abre este armário antigo cheio de pó cinza e mortalha
e retira de dentro os teus antepassados,
aqueles que foram teu sangue circulando através das idades.
Não tentes disfarçar o medo a repulsa a náusea
de revolver o mofo dos anos.
Retira aquele violino de cordas quebradas
que ainda conserva a alma do teu tio que morreu bêbado.
Naquele cofre de prata cheio de cartas presentes e retratos
tua mãe guardou os seus momentos felizes
mas se quiseres chorar procura entre essas coisas
um cacho de teus cabelos ainda tenros
preso a um velho retrato de noivado.
Se reparares bem naquele terno preto
verás teu pai.
Se tocares naquela cadeira de rodas
sentirás o corpo do teu avô paralítico.
E a linda irmã que morreu tísica
verás naquele vestido de baile
a mais bela relíquia desse armário.

Há tanta coisa acumulada
em quase um século
que se olhares com ironia
verás que um fio misterioso
liga inexoravelmente tua vida
àquelas relíquias às vezes destroços de outras vidas.

Agora fecha este armário
que algum dia recolherá teus objetos íntimos.
Deixa que no silêncio e na paz do abandono
as aranhas estendam sua tela sobre ele,
e o tempo dissolva inelutavelmente as lembranças
as fictícias imagens as irredutíveis formas e aparências.

 

Página publicada em janeiro de 2009



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