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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ROGÉRIO DUARTE

 

 

Rogério Duarte Guimarães (Ubaíra, Bahia,  10 de abril de 1939 – Brasília, 14 de abril de 2016) foi um designer, ilustrador, músico, escritor e intelectual brasileiro. É considerado um dos criadores da Tropicália.

 

Sobrinho do sociólogo Anísio Teixeira, foi um intelectual multimédia baiano. Rogério Duarte é artista gráfico, músico, compositor, poeta, tradutor e professor. Nos anos 60 mudou-se para o Rio de Janeiro, para estudar arte industrial com o alemão Max Bense, um dos mestres da semiótica e da poesia concreta, o que influenciaria seu trabalho no futuro. No Rio trabalhou como diretor de arte da UNE e da Editora Vozes. Foi o autor de vários cartazes para filmes de seu amigo Glauber Rocha, como Deus e o diabo na terra do sol (símbolo do cinema nacional, o cartaz se transformou em referência e é apontado como o despertar da pós-modernidade no Brasil) e A idade da terra. Também criou, para este último, a trilha sonora. Entre os vários artistas com os quais colaborou, contam-se Gilberto Gil, Caetano Veloso, João Gilberto, Jorge Ben e Gal Costa.

 

Considerado um dos mentores intelectuais do movimento tropicalista, Rogério foi também um dos primeiros a ser preso e a denunciar publicamente a tortura no regime militar. Preso juntamente com seu irmão Ronaldo Duarte, o caso mobilizou artistas e mereceu ampla divulgação no jornal carioca Correio da Manhã, que publicou uma carta coletiva pedindo a libertação dos "Irmãos Duarte".

 

Com o endurecimento da ditadura e a promulgação do AI-5, Rogério foi para a clandestinidade e iniciou a sua fase "transcendental" que o levou a estudar o sânscrito e iniciar a tradução do Bhagavad Gita, lançado por ele anos mais tarde, acompanhado de um CD com a participação de vários artistas, com o título de Canção do Divino Mestre.  Também é de sua autoria o livro Tropicaos onde, entre outras coisas, fala da prisão, tortura e de sua versão sobre o movimento tropicalista.

 

Morreu em 14 de abril de 2016, aos 77 anos, no Hospital Santa Lúcia, em Brasília. Ele estava internado há dois meses e lutava contra um câncer ósseo e câncer no fígado.

 

Fonte da biografia: pt.wikipedia.org/

 

 

 

 

DUARTE, Rogério.  Tropicaos. Organização: Narlan Matos, Mariana e Sergio Cohn.   Rosa Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2003.  148 p. ilus. col.  Capa e projeto gráfico: Adriana Simões, Eduardo Amaro, Mariana Rosa e Sergio Cohn.  20x20 cm.  ISBN 85-88338-18-1    Capa e uma sobrecapa de papel vegetal transparente com o título do livro e nome do autor.  Ex. bibl. Antonio Miranda.  

 

 

Poesia.br  1970.  Org. Sérgio Cohn.  Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2012.   152 p.  13,5 x 17,5 cm.     (Poesia Br: 7)  ISBN  978- 85-7920-114.1    Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

 

 Eu sempre estou nu. Na Academia de Acordeão Regina tocando
“La Cumparsita”, eu estive nu. Eu só sabia que estava nu , e ao
lado ficava o camarim cheio de roupas coloridas,  roupas de as-
tronauta,  pirata,   guerrilheiro.   E eu, do mais pobre de minha
nudez, queria vestir todas.  Todas,  para não trair minha nudez.

  Mas eles gostam de uniformes,  admitiriam até a minha  nudez,
contanto que depois pudessem me esfolar e  estender  a minha
pele no meio da praça como se fosse uma bandeira, um guarda

-chuva.    Mas não há  guarda-chuva  contra o amor,  contra os
Beatles, contra os Mutantes.  Não há guarda-chuva contra Cae-
tano Veloso, Guilherme Araújo, Rogério Duarte, Rogério Duprat,
Dirceu,  Torquato Neto,  Gilberto Gil,  contra o câncer, contra a
nudez. Eu sempre estive nu. Com o fardão da Academia, eu es-
tava nu.   Minha nudez raios X,   varava os zuartes, as camisas
listradas.  E esta vida não está sopa, e  eu pergunto:  com que
eu vou pro samba que você me convidou?   Qual a fantasia que
eles vão me pedir que eu vista para tolerar meu corpo nu?  Vou
andar até explodir o colorido. O negro é a soma de todas as co-
res. A nudez é a soma de todas as roupas.

 

 

***


Como é que é meu caro Ezra Pound? Vou acender um cigarro
daqueles para ver se eu consigo lhe dizer isto.  Andei fazendo
um pouco de tudo aquilo que você aconselhou para desenvol-
ver a capacidade de bem escrever.  Estudei Homero, li o livro
de Fenellosa  sobre o  ideograma chinês,  tornei-me capaz de
dedilhar um alaúde, todos os meus amigos agora são pessoas
que tem o hábito de fazer boa música, pratiquei diversos exer-
cícios de melopeia, fanopeia e logopeia,   analisei criações  de 
vários dos integrantes de seu paideuma.
Continuo,  no entanto,  a sentir a mesma dificuldade do início.
Uma grande confusão na cabeça tão infinitamente grande con-
fusão um vasto emaranhado de pensamentos misturados com
as possíveis variantes que se completam antiteticamente.

 





 

 

lugar comum

 

Quero voltar pra Bahia
Mas não sei mais onde fica
Nem sei mais se ainda existe
Sei somente que ela insiste
Lá longe a me chamar

Ouço um canto a me dizer
Se você quer me ver
Ponha o seu navio no mar
Será a Bahia a chamar
Ou a sereia do mar?

Só sei que devo partir
Em busca do que ouvi
Seja a Bahia a chamar
Ou a sereia do mar
Sou marinheiro perdido
O meu porto é navegar

 

 

dois sonetos para N

 

1   

 

Perdi teu vulto
Ganhei teu nome
Onde te busco
vizinha e longe

 

Perdi teu fruto
Ganhei a fome
Assim me nutro
Do que me come

 

Quanto mais perco
O teu incerto
Gesto indistinto

 

Sinto que cresce
O meu deserto
Teu labirinto

 

 

2

 

É só por ti amor que nessas grades
Exatas de um soneto eu me prendi
Já não mais como Orfeu também ao Hades
Foi libertar do esquecimento Euridice

 

Só por amor de ti, não da verdade
Ou da beleza (os seus nomes perdi)
Transformei sonho em trabalho que irá de
Pedra em pedra só por amor por ti

Só por amor já não mais canto, e teço
O fio tão frio tão só tão som vazio
Seco como o leito seco de um rio

Só por amor já não mais canto e desço
Ao fundo desde manso desvario
Para fundar teu vulto fugidio

 

 

bilhete de filósofo

 

Necessidade não de trabalhar para conseguir dinheiro
Mas de conseguir dinheiro para trabalhar

 

 

comarca da manhã de breu

 

Sequer temos consciência do turbilhão que nos rodeia
´Stamos submersos na espessura do sufocado silêncio
Ali como parte ínfima imersa na baixura inferior
Dizer que somos quando apenas lentamente sucumbimos

 

 

imagens da chácara

 

É como se eu tivesse vivendo de uma vez só várias  encarnações passadas:                                           
Sou poeta, sou cientista, virtuoso, viciado...
Amálgama de disparidades movendo em torno de um tronco só
A simultaneidade dos vários sendo impossível
O dia se fragmenta num desfile de personagens variados
Acordo desenhista e vou dormir músico

 

 

                       Eu sou mal poeta
Um mal músico
E um mal desenhista
Mas como tenho precisado
De não ficar pensando
em nada o tempo todo
Percorro todo tipo de sinal
Como se quisesse paralisar
A sequência da avalanche

 

 

tinctura

 

Incapazes de encarar o juízo final que a cada passo
Se mostra mais certo
Ladainhas escorridas de tinturas diluídas
Que se querem extinguir
Voz que apenas quer calar mais que cantar
Tecendo enigmas enganosos para o não decifrador
Que vasculha e esquadrinha a cobertura impenetrável
do essencial

 

 

 

*

 

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Página ampliada em novembro de 2021

 

 

 

 

Página publicada em abril de 2020


 

 

 
 
 
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