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4 POETAS  4 GRAVADORES:
Florisvaldo Mattos, José Carlos Capinam, Fernando da Rocha Peres, Godofredo Filho;
Emanoel Araujo, Sônia Castro, Calazans Neto, Gley.

 

4 POETAS  4 GRAVADORES: Florisvaldo Mattos, José Carlos Capinam, Fernando da Rocha Peres, Godofredo Filho; Emanoel Araujo, Sônia Castro, Calazans Neto, Gley. Inclui a reprodução de uma gravura de Henrique Oswald.  Salvador, BA: Editora Casa Grande, 1966.   Livro inconsútil. 32x33 cm. Apresentação gráfica: Sônia Castro. Impressão tipográfica: Gráfica Santa Rita Ltda. Encadernação revestida de tecido: Roque Wilson dos Santos.  Tiragem: 200 exemplares.  Ex. bibl. Antonio Miranda

(Conservando a ortografia original)

 

a cabra

        florisvaldo mattos

talvez um lírio.  máquina de alvura
sonora ao sôpro neutro dos olvidos.
perco-te.  cabra que és já me tortura
guardar-te, olhos pascendo-me vencidos.

máquina e jarro.  luar contraditório
sobre lagedo o casco azul polindo,
dominas suave clima em promontório;
cabra: o capim ao sonho preferindo.

sulca-me perdurando nos ouvidos,
laborado em marfim — luz e presença
de reinos pastoris antes servidos —

teu pelo residência de ternura
onde fulguras na manhã suspensa:
flôr animal, sonora arquitetura.

 

canto iv

   josé carlos capinam

o homem-senhor tem existência
sôbre posses e governa.
bôca estreita, de algarismos,
corpo de lôdo e pedras.

grito, de lobo e lâmina,
memória, de cifra e boi,
fome extinta e lucros feitos
dos que, sôbre a terra, trabalham presos.

(o home-senhor reina
mas, coitado, nem sabe
que todos os reinos caíram ontem.)

não sabe êle as palavras
em trânsito, e a vida,
lavra de ouro, comércio,
nosso medo e vosso espanto.

 

segunda versão do antipoema

   fernando da rocha peres

este é o antipoema,
dardo no versejar.
mais que fuga do lírico,
é lúcida definição.
certamente procuro
a exata metáfora,
para um tempo surdo e obscuro.
(a lição dos poetas
agoniza nos manuais.)
há um silêncio grave
um esvaziamento
uma guerra
uma bestialidade que se insinua.
este é o antipoema,
seta no alvo, na palavra.
mais que mêdo dos homens,
é lírica denunciação.

 

poema enológico

   godofredo filho

entre maguncia e bingen,
à margem direita do reno,
está rheingau, a terra de meu sonho.
distante embora na névoa perdida,
da tarde em frio azul,
a rheingau volto sempre com os lábios úmidos
de rüdesheimer hinterhaus.

a taça ao claro céu levanto, esgalga,
o translúcido copo
de onde o pálido amigo sorrindo me espreita,
entre aromas que traem a ternura secreta
com que volto a rheingau, a terra do meu sonho.

e se o cansaço vem e em meio à longa viagem
os ânimos me vence,
ou some-se do copo o amado rüdesheimer,
não importa,
retomarei caminho winkler hasensprung
e, é certo, a aurora me possuirá dormindo
nos prados de rheingau, a terra de meu sonho.


Página publicada em julho de 2014

 

 


 

 

 
 
 
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