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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

NAPOLEÃO AGUSTÍN LOPES

 

 

 

LOPES, Napoleão Agustín.  Palavra e Poesía. Seis desenhos de Mario Cravo Junior, com um retrato de Autor, nankin de Djanira.  Salvador, Bahia: 1952. 62 p.  ilus. O ex-libris é uma xilogravura original de Marcelo Grossman colada no frontispício do livro.  Impressão na Tipografia Beneditina. Tiragem: 500 exemplares, cinquenta numerados de I a L e assinados pelo autor sobre papel Westerpost e fora do comércio; os demais exemplares sobre papel  Buffon-Sueco com numeração ordinária.  Ex. 354 na bibl. Antonio Miranda com uma dedicatória do autor. “ Napoleão Agustín Lopes “

 

 

 

 

DOMÍNIO E GRATUIDADE

 

 

15 — AQUELE  que   separa   se  lesa.   Aquele que equilibra sua inteligência como quem equilibra um  objeto  entre os  braços  pactua  com o nada. "A teoria é cinza,  verde é a árvore  da vida".

 

16— A  palavra  nos  pede  o  resultado  total capaz de ser eternidade. Ou é simples ou se faz tempo e matéria sopesável. Por isso se condiciona ao  espírito, à solidão, ao silêncio.

 

17 — Nem só inteligência, nem só vontade. Nem mesmo só ambas. O que a palavra entrega é fusão ali onde a memória não tem mais vida. Não esquecer que ela é o ser de cada ser.

 

18—— E' assim que a poesia é a melhor amante da palavra. E o poeta seu único dictor. E' assim que uma vida se verte no gozo do indizível para dar vida aos moradores do não-ser. Os que a penas deambulam seus cadáveres.

 

19 — E vemos como a palavra se acomoda a versículo, ao verso, ao aforisma. São seus compromissos. Sua melhor humanização é o Testamento. 

 

 

LOPES, Napoleão Agustín.  Quinze misterios.  Ilustrações de Edelweiss.  Salvador, Bahia: Editôra Mensageiro da Fé, 1966.  s.p.  23x32 cm.  Clichês originais feitos por Egidio; linotipia de Aloisio Silva e Paulo Lima. Concepção da capa e texto latino pelo Frei Vito, OFM. Tiragem: 2400 exs. , com 400 cópias numeradas de 1 a 400, em papel apergaminhado para subscritores e os demais em papel Buffon.  Capa com a imagem de Nossa Senhora do Rosário, homenagem pelo cinquentenário das suas aparições em Portugal. Poesia religiosa.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

XI
MISTÉRIO


  No primeiro dia da mesma semana foi Maria
  Madalena ao sepulcro, de manhã, sendo
 ainda escuro.  
S João XX, 1

 

Uma autem sabbati, Maria Magdalene
venit mane, cum adhue tenebrae essent,
ad monumentum.  Jo. XX, 1

 

 

Si aurora houve

Foi naquele dia

Alva nuvem foi linho

        posto no chão

Alvo rosto de espanto

Das piedosas mulheres

Alvo rosto de alegria

Do discípulo amado

Que viu o vazio e creu

Ressurrexit, non est hic!

Que descobridor põe sua bússola

        para o Nada?

 

Não se enderece a nós

                 (descuidados)

Esta advertência:

Deixai que os mortos

Enterrem seus mortos!

 

Procura o Filho do Homem

No rosto do teu vizinho

Mesmo de relance

Como o motorista

 

Procura quem leva

no espelho.

 

 

LOPES, Napoleão Agustín.  Trânsito lírico.  Lisboa: Edições Panorama, 1962.  93 p.  (Poesia, 45) 13,x18 cm.  “Napoleão Agustín Lopes” Ex. bibl. Antonio Miranda


VIGÍLIA
 

O mar na noite maduro
Mostrou propícia a polpa
Onde trincasse a palavra.
Todo silêncio que naufraga
Quer ainda dizer-se
Como se caminhássemos sobre as águas.

A escama (talvez o coturno)
E a raiz que do passado
                A ponte emergisse
Seria vão socorro.

Brisa insuficiente desliza.`
Toma forma de ave
E nocturna também.
O coração pesando como um peixe
                               Morno
Um ser de sangue que resume.

O mar está como tumba
Que suprimiria a pressão dos cílios.

Somos sentinela
A forma do corpo (imitada nágua)
Só o espírito flutua.

Convidados à eternidade,
Os olhos guardam a noite. 

                    Ilhéus, 1950
 

O CORVO

En el mundo no ha cosa que con bien de ti se parta,
Salvo el cuervo negro que de ti, muerte, se harta.
                JUAN RUIZ, Arcipreste de Hita

 

São ainda consoantes
Aquelas horas do nunca mais
Que me penetram de saudade.
                               Corvo literário.

O teu elogio, frater corbus,
                               É o da liberdade.
Do beijo e do amor da morte
Que preciso para vencê-la.

Com que cuidado afasto
Com a polpa dos dedos
O busto alto sobre a porta!
Porque mais alta e mais alva
                               Me deste a nuvem
Na núpcia contingente.

Com o instante do teu voo
Morro minha morte antecipada
E te ofereço — quiçá!
                Minhas entranhas.

                               Itabuna, 1949.

 

 

 

Página publicada em junho de 2014

 

 

 

 

 


 

 

 
 
 
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