MORVAN ULHOA
Morvan Ulhoa nasceu em Salvador-BA em 1966, mas é brasiliense por adoção. Formado em Economia e pós-graduado em Comércio Exterior, além de poeta, é artista plástico e agente cultural do Distrito Federal - credenciado pela Secretaria de Cultura nas áreas de Artes Plásticas e Literatura.
Laureado em concursos literários, suas poesias estáo publicadas em diversas antologias. Dentre suas muitas premiações, esteve na seleçâo das quatro últimas edições da mostra nacional "Banco de Talentos" da FEBRABAN (2003, 2005, 2007, 2009); foi finalista do prémio SESC "Carlos Drummond de Andrade" (2009 e 2010); e recebeu menção honrosa no concurso "Dar Voz à Poesia'; em Ovar-Portugal 2007).
É autor do livro "Sobretudo poesia" (2006).
Morvan Ulhoa
Sobretudo. Poesia.
Brasília: Kaco Gráfica e Editora, 2006.
116 p ISBN 85-905452-1-0
Morvan faz exercícios tipográficos para expandir o discurso poético. Busca romper a linearidade do verso sem romper com o propósito lógico da oralidade. Uma fronteira de difícil equilibrío, “Sobretudo” sóbrio e criativo. ANTONIO MIRANDA
De
Morvan Ulhoa
ENTRE MIM E O QUE VEJO
Brasília: Thesaurus, 2011. 158 p.
ISBN 978-85-7062-994-4
Alinhando-se à contemporaneidade que permite e inclui diferentes formas de manifestação da lírica, Morvan Ulhoa ressignifica os mitos que circulam em nossa memória inconsciente, di-versificando seu olhar expressivo. Assim é com o poema "Baco desenhou o nordeste português'; como em muitos outros, cujo título inclusive também funciona como uma espécie de 'twiter poético'. Um... poemaentrepoemas.
Entre mim e o que vejo não é somente um livro de poesias, é isso que quero ressaltar. É um dis-curso (vamos inventar essa palavra) do simbólico que desvia o curso do esperável e nos propõe vários sabores, entre os quais "O sabor do saber”; esse, delicadíssimo poema sobre a sabedoria, a sorte e o amor-cena de conexões teórico-filosóficas subliminares que por essa razão atua em linha direta com o imaginário que nos informa. SYVIA CYNTRÃO
um ectoplasma enfartado de cor
gravita grávido de luz
enquanto meus olhos orbitam
as valas escuras de sua nudez
e enxertam o imaginário
perdido no caminho
entre mim e o que vejo
Surpreendente o livro de poemas de Morvan Ulhoa. Entendo porquê Sylvia Cyntrão, em meio a tantas responsabilidades, deixou-se levar na leitura quase sem fôlego. Acostumada que estamos a procissões de versos que trafegam em nossas avenidas, ficamos extasiados com a violência lírica — valha o oximoro! — dos textos deste poeta que, vivendo tão próximo de nós, habita outras alturas. Uma leitura não basta, pois foge do óbvio, não se esgota na linearidade das palavras do discurso. E, se não bastasse, a edição é diferente, um projeto entre simples e sofisticado, adequado ao conteúdo. Em boa hora! ANTONIO MIRANDA
Entre o antes e o depois
despejo os olhos pela janela
e observo-os em voo cego
consumir as cores da cidade
posto entre mim e o que vejo
tudo parece pequeno e lento
sobretudo todo o amor que sinto
posto entre o sim e o que nego
tudo padece de entendimento
sobretudo todo desejo que limo
posto entre o Fim e a eternidade
a ótica do medo
é a lógica do caos de meio-dia
as apostas estão encerradas
o tempo mostra as cartas
Royal Straight Flush
Lanço a flecha e furo a escuridão da rua
enquanto animais crepusculares velam
a urgência ereta jazida em meu porão
suas mãos insanas e velozes
alimentam o desassossego
e despejam brasa sob meus pés descalços
Para além do prazer
desde que fiquei cego
vago à procura de casa
em tua superfície cortante
não enxergo mais tuas misérias
vejo apenas sombras de teu sorriso
desde o último hemograma
sei que resta pouco de mim em tuas veias
a dor de querer transborda meu vazio inabitável
e ao que resta faz Falta a falta que fazia
O sabor do saber
o sábio temia saber
tudo que um dia saberia
sobre sobra de olhares
sabedor da dor de tanto saber
vazou os próprios olhos
e viu a escuridão nascer
sóbrio e sem medos
caminhou pelas bordas do abismo
sob os olhos alvejantes do acaso
rindo de si mesmo
soubera enxergar a sorte
de não ver o amor envelhecer
PRÊMIO SESC DE POESIA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. COLETÂNEA DE POESIA
– EDIÇÃO 2011 . Brasília: Serviço Social do Comércio, 2011. 116 p. ilus. Ilustrado com fotos dos autores premiados. Jurados do prêmio: Danilo Carlos Gomes, Nicholas Behr, Salomão Sousa, Sylvia Cyntrão, João Bosco Bezerra Bonfim Sérgio de Sá e Antonio Miranda.
MORVAN ULHOA DE FARIA –
Ganhador do Terceiro Lugar do Prêmio SESC 2011:
O amor é transmitido de
pessoa a peçonha
puderam asseverar
depois de um ecocardiograma
a existência de um coração ofídico
inimaginável que houvesse
porquanto um sorriso devastador
era tudo que via
não notara o corpo tubular
a língua bifurcada
a pele fria enrodilhada em mim
ULHOA, Morvan. Vão. Brasília: Thesaurus, 2013. 128 p. ilus. 14x21 cm. Prefácio de Cristovam Buarque. Arte final: Tagore Alegria. Diagramação e criação de capa: Morvan Ulhoa. Capa dupla, com corte feito com “faca”. ISBN 978-85-409-0195-7 Col. A.M.
ela tinha quatro línguassss
todas bifurcadas e ásperas
acopladas em lábios exagerados
um arsenal bélico
apontado para mim
um defeito atraente
quase perfeito
uma sobrecarga de lascívia
oleosa e morna
derramada pelos cantos da boca
sobraram migalhas de nosso encontro
espalhadas nas ranhuras do piso da sala
tábuas corridas de Ipê
não é de sua ternura que sinto Falta
nem mesmo da própria falta que antes ardia
o que me falta mesmo é um aspirador de pó
sobre a prática de explorar
grutas calcáreas
COLETÂNEA DE POESIAS – PRÊMIO SESC DE POESIA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE 2008. Brasília. DF: Serviço Social do Comércio do Distrito Federal SESC DF, 2008. 185 p. Ilus. fotos dos poetas e do júri.
ENTRE O ANTES E O DEPOIS
despejo os olhos pela janela
e observo-os em voo cego
consumir as cores da cidade
posto entre mim e o que vejo
tudo parece pequeno e lento
sobretudo todo o amor que sinto
posto entre o sim e o que nego
tudo padece de entendimento
sobretudo todo desejo que limo
posto entre o fim e a eternidade
a ótica do medo
é a lógica do caos de meio-dia
as apostas estão encerradas
o tempo mostra as cartas
Royal Straight Flush
Página publicada em março de 2011, ampliada e republicada em 2013;
Página publicada em agosto de 2020
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