MORAES MOREIRA 
                                                                                 
                                                                                ANTÔNIO CARLOS MORAES PIRES nasceu  no dia 8 de julho de 1947, em Ituaçu, pequena cidade do interior da Bahia,  localizada no maciço da Chapada Diamantina.
                                                                                Conhecido no cenário artístico como  Moraes Moreira, recebeu esse batismo no início de sua carreira solo, ao  desligar-se do grupo Os Novos Baianos, do qual foi um dos principais  fundadores.
                                                                                Em sua cidade natal e na vizinha,  Caculé, realizou seus estudos. 0 destino seguinte foi Salvador, o sonho da  cidade grande, a promessa feita aos pais de um suposto vestibular de Medicina  que, na verdade, nunca se realizou.
                                                                                A música já tomava conta da cabeça e  do coração daquele menino tímido, porém atento a tudo que acontecia em seu  pequeno universo. As bandas de música, os sanfoneiros e os seresteiros foram  suas primeiras referências, além disso, só mesmo o rádio e o alto-falante.
                                                                                Na capital, teve a oportunidade de  alargar seus horizontes. Orientado pelo mestre Tom Zé, deu seus primeiros  passos na carreira artística.
                                                                                0 Brasil vivia a era dos grandes  festivais da Música Popular Brasileira. Ecos do Tropicalismo eram ouvidos por  uma turma que se unia e se reunia nas ruas de Salvador, embalada pelo sonho de  ser artista. Moraes foi um daqueles cabeludos que chegou levantando a  autoestima do povo brasileiro. 
                                                                                Faleceu no dia 13 de abril de 2020 no Rio de Janeiro, de infarto agudo no miocárdio. 
                                                                                 
                                                                                
                                                                                MOREIRA,  Moraes.  Poeta  não tem idade.  Rio de  Janeiro: Numa, 2016.  218 p.  15x23 cm.   ISBN 978-85-67477-07-7  Capa: criação  de Ricardo Leite. Apresentação de Julio Diniz.    Ex. bibl. Antonio Miranda
                                                                                
                                                                                 
                                                                                
                                                                                  A seguir o destaque dado a um poema na  capa do livro, com o nosso reconhecimento                                                                                  pelo talento de Moraes Moreira, na  derivação do cordel 
                                                                                  em que se expressa e fascina!!!:
                                                                                
                                                                                 
                                                                                         ALVORADA DOS SETENTA!
                                                                                
                                                                                  Na terra  bem preparada
                                                                                    Que  seja enfim promissora
                                                                                    Caros  leitor e leitora
                                                                                    A  minha sorte lançada
                                                                                    Pulsando  nessa levada
                                                                                    Deixei  o amor carregar
                                                                                    A  inspiração navegar
                                                                                    Incendiando  os navios
                                                                                    Para  não saber mais voltar
                                                                                  Vivendo estes versos
                                                                                    Eu  sou todo prosa
                                                                                    O  que sofre e goza
                                                                                    Caminhos  diversos,
                                                                                    Criando  universos
                                                                                    Num  mundo virado
                                                                                    A  mim me foi dado
                                                                                    A  chance do risco,
                                                                                    Que  nem um Curisco
                                                                                    Arrisco  adoidado
                                                                                  Ao embalar corações
                                                                                    O  imaginário me leva,
                                                                                    Para  livrar-me da treva
                                                                                    Convoco  meus Lampiões,
                                                                                    Por  estes Grandes Sertões
                                                                                    Veredas  tão tropicais
                                                                                    É  a luz do sol que me acalma
                                                                                    Vivo  afogando meus ais
                                                                                  Na carpintaria
                                                                                    Dos  meus devaneios
                                                                                    Eu  tive outros meios
                                                                                    E  fiz poesia,
                                                                                    De  noite e de dia
                                                                                    E  nas madrugadas
                                                                                    Ouvi  trovoadas
                                                                                    De  nuvens tão pretas,
                                                                                    Em  nome das letras
                                                                                    Topei  as paradas
                                                                                   No tempo pegando a reta
                                                                                    Nas  páginas deste livro
                                                                                    Não  imaginas o crivo
                                                                                    Que  passo como poeta,
                                                                                    Pra  quem a vida interpreta
                                                                                    O  tempo se reinventa
                                                                                    —  Não me derruba a tormenta...
                                                                                    No  traço de cada linha
                                                                                    Aqui,  vou deixando a minha
                                                                                    "Alvorada  dos setenta"
                                                                                
                                                                                 
                                                                                         NEM
                                                                                
                                                                                  Nem  todo inferno é de Dante
                                                                                    Nem  é Divina comédia
                                                                                    Nem  todo ser é um Cervantes
                                                                                    Nem  mesmo a tragédia grega
                                                                                    Nem  drama nem fantasia
                                                                                    Beckett  ou Molière
                                                                                    E  nem também Shakespeare
                                                                                  Nem todo filho é de Gandhi
                                                                                    Nem  todo aquele que é grande
                                                                                    É  Alexandre ou Golias,
                                                                                    Nem  todo rei é Davi
                                                                                    Nem  o Jardim [e de Alá
                                                                                    Nem  Mohammed virá
                                                                                    Nem  Salvador é Dali
                                                                                  Com quantos poemas épicos
                                                                                    Naqueles  tempos Homéricos
                                                                                    Formou-se  a grande epopeia,
                                                                                    Ilíadas  e Odisseias,
                                                                                    A  história de tantas vidas
                                                                                    Com  tantos, com quantos cantos,
                                                                                    Camões  criou os Lusíadas?
                                                                                    Nem  a Sagrada Escritura
                                                                                    Escapa  à minha loucura
                                                                                    Que  é literal e completa,
                                                                                    Eis  o final do juizo!
                                                                                    Eu  quero ir além da seta
                                                                                    E  faço o que for preciso
                                                                                    Pra  sempre ser um poeta
                                                                                   
                                                                                
                                                                                
                                                                                 MOREIRA, Moraes.  Dá pra  viver sem cultura?  Rio de Janeiro: Numa Editora, 2019.   32 p.   12 x 17 cm.   ISBN978-85-67477-39-8  Edição: Adriana Maciel.  Projeto gráfico: Mari Taboada.    Ex. bibl. Antonio Miranda
                                                                                 
                                                                                 
                                                                                As obras-primas são tantas
                                                                                  Só  acha quem as procura
                                                                                  Ó  gênios, como me encantas
                                                                                  Com  a divina loucura
                                                                                  Meu  povo, vai, não vacila:
                                                                                  Abapuru  de Tarsila
                                                                                  Dá  pra viver sem cultura?
                                                                                 
                                                                                          Brasileira  Academia
                                                                                 
                                                                                Eu sou de um país 
                                                                                  Machado de Assis 
                                                                                  De lá dos sertões 
                                                                                  Eu sou Guimarães 
                                                                                  Divino é o dom 
                                                                                  Bandeira e Drummond 
                                                                                  Darcy e Antônio 
                                                                                  Anísio e Afrânio 
                                                                                  Amado e Ubaldo 
                                                                                  Sou mesmo baiano 
                                                                                  Maldito e eterno 
                                                                                  Boca do Inferno 
                                                                                  Eu sou Castro Alves 
                                                                                  Até sou Gonçalves 
                                                                                  Um Per-Nambucano 
                                                                                  Gilberto Ariano
                                                                                Um ser paulistano 
                                                                                  Oswald de Andrade, 
                                                                                  Eu mudo de alcunha 
                                                                                  Eu-clides da Cunha 
                                                                                  José de Alencar 
                                                                                  A chama está viva 
                                                                                  Eu sou Patativa 
                                                                                  E sou do Rio Grande 
                                                                                  Do Norte contudo 
                                                                                  Antigo, Cascudo 
                                                                                  Piano e fortíssimo 
                                                                                  Quintana e Veríssimo 
                                                                                  Também sou do sul 
                                                                                  E sob os auspícios 
                                                                                  Rubem, Vinícius
                    O Rio e o céu 
                                                                                  Clarice, Rachel 
                                                                                  Dos Anjos, de Campos 
                                                                                  Augustos são tantos 
                                                                                  Conforme o sotaque 
                                                                                  Olavo Bilac 
                                                                                  Sou pedra e pau
                                                                                Eu sou João Cabral 
                                                                                  Dois dedos de prosa 
                                                                                  Eu sou Rui Barbosa 
                                                                                  Poeta e poesia 
                                                                                  De uma academia 
                                                                                  Chamada Brasil
                                                                                 
                                                                                 
Página publicada em abril de 2017; ampliada em agosto de 2019