MELLO MORAIS FILHO
Alexandre José de Melo Morais Filho (Salvador, 23 de Fevereiro de 1844 — Rio de Janeiro, 1 de Abril de 19191 ), filho do historiador de igual nome, foi um poeta, prosador e historiógrafo brasileiro.2 Doutourou-se pela Faculdade de Medicina de Bruxelas.
Veja também : MELLO MORAIS FILHO – Brasis (poemas e postal da época)
MORAES FILHO, Mello. Cancioneiro dos ciganos: poesia popular dos ciganos da Cidade Nova. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, Editor, 1885. 96+10 p. 11,5x18,5 cm. “Melo Moraes Filho” Ex. bibl. Antonio Miranda
O autor compilou o cancioneiro popular dos ciganos de Salvador. E explica:
A forma desses versos é mais ou menos correcta, elegante, e desassombrada do parasytismo de vocábulos; o rythmo é correntio, fácil, flexível e sonoro.
Na maioria das quadras a força do pensamento ajusta-se artisticamente á força da expressão: o sentimento, as imagens novas e próprias, e varias outras qualidades do bello plainam na mesma altura.
Não sendo uma obra individual mas impessoal, tendo por substancia o sentir geral, humano, verdadeiro, de uma sobriedade primitiva e distincta, o Cancioneiro confirma que a poesia do Oriente, muito embora transportada para outros ambientes,conserva a mesma physionomia, o mesmo typo caracteristico da raça de onde ella teve origem.
A seguir, um conjunto dos textos:
CANCIONEIRO DOS CIGANOS
(uma seleção)
Não cantes, triste avesinha,
Tão triste junto a meu leito ;•
Não confundas teus gorgeios
Com gemidos de meu peito.
De alegres campos, alígero
Cantor eu fui mavioso;
Hoje — pass'ro da espessura •
Meu cantar é lamentoso.
Quereis ouvir os meus cantos?
Cantarei... não como outr'ora,
Que impõe preceito aos meus risos
A dor que comigo mora.
Canto tristezas e magnas,
Do tempo ido as lembranças,
Canto desgostos e penas,
Canto o adeus das esperanças.
Fundas saudades sem fim,
Perenne fonte de prantos,
Queixas amargas, sentidas,
Explicam hoje os meus cantos.
P'ra não completar-se o goso,
Fora melhor não gosar;
Que o prazer dado às parcellas
Não se pôde apreciar.
Tudo na vida é illusão,
Mysterio que ninguém sabe,
E real só o desgosto
Que a todo o vivente cabe.
Infeliz por querer bem
Condemnei-me a eterna lida,
Que ha gosos d'ai ma maldictos
P'ra próprio escarneo da vida.
Arranquei meu coração
E a teus pés o atirei;
Tu o pizaste sorrindo,
Mas austero me vinguei.
Eu abracei-me á desgraça,
Guiado por lei fatal;
Satisfiz a tyrannia
De quem tanto me quiz mal.
Página publicada em outubro de 2014.
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