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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: http://www.casaraodoverbo.com.br

 

MAYRANT GALLO

 

Mayrant Gallo, (Salvador, Bahia, Brasil, em 1962), escritor, professor.

Mayrant Gallo, nasceu em Salvador, Bahia, Brasil, em 1962, formado em Letras e Francês, e Mestre em Teoria Literária, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi professor de Teoria Literária e Literatura Brasileira, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Morou 20 anos no Rio de Janeiro. É autor do livro Kafka, publicado pela editora Cosac Naify, em 2003  e do livro Pés Quentes nas Noites Frias, publicado pela editora da FUNCEB, em 1999.

 

 

IARARANA – revista de arte, crítica e literatura.  Salvador, Bahia.   No.  10 – dezembro   2004. Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Poemas do (então) livro inédito Recordações do andar exausto.

 

 

 

 

 

Página Biográfica

 

O poeta tinha lá sua ciência,
Algo assim como uma infância,
Voz íntima em meio à neblina,
Estrela única de uma lâmina...

 

Mas nem isso de nada lhe valeu:
Uma bala atravessou a janela,
E infuso líquido rubro escorreu
Di cêu sérebro komo diurna théla.

 

 

 

A Fuga

 

Ele demora a chegar na escola.

 

A aula já vai há muito,

Quando entra e se senta e olha em volta.

 

Ela não veio. Não virá nunca.

 

A primeira decepção
Écomo uma culpa.

 

 

 

 

noturno

 

A jovem mãe embala o neném
E o empurra para além, no sono.

 

Passo admirado...
E de súbito nostálgico

 

De quando também era embalado,
De quando também tinha sono.

 

 

 

SOBREVIVENTES

 

É domingo,

Eu escrevo,

Meu irmão chupa uva,

A chuva cai,

Meu pai lê A mãe,

Mamãe frita peixe na cozinha.

 

Ao passo que explode
Outra bomba no mundo.

 

 

 

RECOMPENSAS

Foi ontem

Que aprendi a andar...

 

Hoje mesmo,
Pela manhã,

Que comecei a escrever...

 

Agora, à tarde,
O primeiro livro.

 

E mais tarde,
À noite,
O travo azedo
De ter sido.

 

 

 

A ESTRADA

 

Sim, um dia vão me cobrir.
Eu, a estrada.

Mas receio que prefira assim.

Eu,  que levava ônibus e autos,
Caminhões longos e pesados,
Leves motos,
Hoje sou quase mato.

 

Venham, pequeninas folhas!
Cheguem, pequeninos talos!
Sou toda vocês.

Não permitam que eu volte a chorar com o pai,
Que vê sua filha caídaecoberta de branco àbeira de mim
E que, aodescobrirorosto-o imóvel ejovemrosto sem sangue,
Também morra ou percaorumo.

 

Tirem de mim o rumo.
Me desviem.
Me cubram.

 

Eu quero. Eu devo.
Eu sonho com isso.
Me façam mato de novo,
Terra de novo,
De novo sereno.

 

E depois deixem,
Apenas deixem,
Queocéusejapleno.

 

 

 

CEDO

 

O rapaz que entrega os jornais
é o primeiro a se levantar
mas você não sabe.

 

Noite ainda, sol ou chuva.

 

É o primeiro e de moto percorre
toda a cidade.

 

Enquanto você dorme
enquanto você morre.

 

 

 

CRôNICA

 

No bar parado

Baço de cigarros

A vida vinha aos goles...

 

Uma menina disse, mais tarde:
- Salvem-me...
Mas ninguém entre os homens
Quis salvá-la...

 

A menina enforcou-se.

 

Ao saberem, os homens
Foram vê-la pendurada...

 

 

 

SORTE LUSA

 

Quando o português chegou
Debaixo de um bruto sol
O índio tava com sede.

 

O português também tinha sede.
Beberam juntos.

 

Fosse o índio outro índio,
Tinha comido o português,
Com sede e tudo.

 

                        post Oswald

 

 

 

 

Página publicada em junho de 2019


 

 

 
 
 
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