MANUEL PEREIRA REIS JUNIOR
MANUEL PEREIRA REIS JÚNIOR nasceu na então Vila de Catu, Bahia,
aos 2 de abril de 1911. Desde 1934 residiu na Capital da República, onde foi diretor da revista "Vamos Ler” . Prosador e poeta, dedicou-se igualmente ao magistério como professor no Colégio Pedro II.
Bibliografia: — "Teia de Aranha", Bahia, 1930: "Mana da Graça , Bahia, 1931; "Ioacaloa", Bahia, 1932; "Ronda Luminosa", Rio, 1934; "Cantigas da Mata", Rio, 1936; "Delírio de Pã", Rio, 1935; "Canções do Infinito" (prémio da Academia Brasileira de Letras), Rio, 1944, e "Maria Quitéria", Rio, 1948.
REZENDE, Edgar. O Brasil que os poetas cantam. 2ª ed. revista e comentada. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958. 460 p.
15 x 23 cm. Capa dura. Ex. bibl. Antonio Miranda
PRIMAVERA
Para Neãer João Neáer
Chegou a primavera, a fiandeira,
Vestindo policrômica roupagem;
Olha como se veste, mãe, a terra inteira.
Para a dança festiva da paisagem!
É a festa das cores nos caminhos,
Nas alamedas, nos jardins, nos campos,
Alma que tange a lírica dos ninhos,
E vive envolta em véus de pirilampos...
É um pássaro de luz que pousou nas ramadas,
E parece chegou de paragens distantes,
E partiu como partem as valquírias aladas
Em alígeros corcéis de crinas ondulantes!
E foi levar fulgor às campinas virentes,
Às flores dos pauis, aos vales e às estradas,
E passou pela terra espalhando sementes,
Anêmonas de luz ao léu, despetaladas...
Há cantigas no alto das ermidas,
Nas mamoranas, no beiral das casas;
São gorgeios de aves, mas são vidas
Na revoada rútila das asas...
E tudo transformou-se, mãe; a natureza
Engalanou-se de belezas raras,
Ou ouro vivo do sol à singeleza
Das penas coloridas da araras...
(“Canções do Infinito”)
REIS JÚNIOR, Pereira. As últimas do outono. Poemas. Ilustrações de Bandeira de Melo. Desenho da capa de Donato. Rio de Janeiro: Edição do Autor; composto e impresso na Empresa Gráfica Carioca, 1973. 80 p. ilus.
Ex. bibl. Antonio Miranda. Doação do livreiro José Jorge Leite de Brito
Ao final do livro aparecem mensagens elogiosas dos escritores Alcides Maya, Agrippino Grieco, Alfrânio Peixoro, Eloy Pontes, Menotti del Picchia, A. J. Pereira da Silva, Pedro Calmon, Olegário Mariano, João Ribeiro, Berilo Neves, Adelmar Tavares, Gustavo Barroso, Julio Salusse, João Neves da Fontoura, Carlos Chiacchio, Catulo da Paixão Cearense e Edgar Sanches.
VELHO MAR
Ó mar! Ó mar azul de águas tranquilas
que se espreguiçam lentas pelas praias...
Quanta vez, no meu tempo de criança,
risquei na arei o nome da Esperança,
e tu o arrebataste
no teu lençol de alvíssimas cambraias!
Velho mar!
Compreendo demais que tu tinhas razão:
não se deve escreve nunca, na areia,
o nome que se escreveu no coração...
RIO DA MINHA INFÂNCIA
Rio da minha infância! Rio da minha vida!
Que doce convivência , a nossa, outrora,
até que um dia veio a despedida
e te olhei com os olhos de quem chora...
Parti contigo vivo na lembrança
e sendo, como eu era, pequenino,
senti, na minha alma de criança,
aquela transição do meu destino.
Hoje vives comigo na constância
dessa recordação tão comovida,
outros rios passaram em minha infância,
mas nenhum, como tu, marcou-me a vida.
CREPÚSCULO
NO CÉU
Desaparece o sol na curva do poente,
e a sombra cobre o céu, as nuvens caminheiras,
o céu fonte de luz dos raios em torrente
que aquecem por um segundo, a neve das geleiras!
NA MATA
Anda, na natureza, um profundo cansaço...
Há em tudo, um mistério a rolar mudo e tredo,
desce a sombra do céu, gira o vento no espaço,
e a água da fonte cai de lajedo em lajedo...
NO MAR
A grande sombra investe a líquida esmeralda,
velas tentam passar pelas ondas, de espumas enriçadas,
chicoteadas pelas ventanias!
TROVAS
O crepúsculo na mata
encerra tanta beleza,
que a gente pensa que a mata
é a alam da natureza!
*
A tua casa é um ninho
oculto nos matagais,
quem lhe acertar o caminho
não voltará nunca mais...
*
A manhãzinha orvalhada
de neblina inda se touca,
que cheiro de madrugada
trescalando em tua boca...
Página publicada em dezembro de 2019
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