LÚCIO EMANUEL
Lúcio Emanuel José da Silva nasceu em 02 de novembro de 1950, na cidade de Juazeiro-BA Lúcio Emanuel é médico, formado pela Universidade Federal da Bahia, e advogado, pela Universidade Católica do Salvador, na extensão que foi instalada em Juazeiro há alguns anos atrás.
" Lúcio Emanuel, belo e forte poeta, autor de uma belíssima coroa de sonetos". Nauro Machado.
"Sua coroa de sonetos é melhor que a minha... uma verdadeira façanha pela qual o cumprimento”. Geir Campos.
"Você conseguiu compor 15 sonetos magníficos abordando um tema sério e profundo com absoluto domínio da arte de versejar". Jesus Gomes dos Santos.
"TRAVESSIA, que me despertou a lembrança de uma outra coroa de semelhante riqueza antitética, PASSIONÁRIO, do saudoso poeta e amigo Humberto Lyrio". Fernando Diniz.
"Esses quinze sonetos, decassílabos, cheios de encanto e de magia, indicam, sem dúvida, um poeta da melhor qualidade". Mário Cabral.
"Excelente sob o aspecto técnico no que diz respeito à urdidura dos seus versos, como também pela beleza e profundidade do seu conteúdo".
Elmano Amorim.
"Poeta que irrompe das margens do São Francisco, com muito ritmo e a alma cheia de Deus. Esse poeta que Juazeiro nos dá traz consigo o bordão dos peregrinos e a chama dos apóstolos". Wilson Lins.
"Seus sonetos me encantaram. Ouso dizer que são perfeitos.Além do mais, acho que bem poucos conseguiram a façanha de realizar uma coroa tão bem encadeada". Myriam Fraga.
"No seu caso, o conhecimento técnico se une à reflexão e ao sentimento - e temos poesia". Ruy Espinheira Filho.
"Sua ligação com a poesia é bem íntima, como é certo o seu domínio técnico". Antônio Brasileiro.
"Gostei de ler esta sua TRAVESSIA. E acredito que muitos e muitos leitores tiveram a mesma satisfação, num tempo em que aparecem livros ditos de poemas que trazem tudo menos poemas de verdade". Cid Seixas Fraga Filho.
"Li e reli os sonetos de TRAVESSIA, que me deram boa impressão. O domínio do soneto é ponto alto do seu estro". Cyro de Mattos.
"Poesia pura é o que encontramos em seus versos. Sinto-me envaidecido de ser seu conterrâneo". Monsenhor José Gilberto de Luna.
EMANUEL, Lúcio. Rosário de cantigas. . Juazeiro, BA: Edição do Autor, s.d. 20 p. brochura 14x19,5 cm.
(fragmento)
Quem ouviu na mocidade
Não esquece o apito do trem.
Quem parte leva saudade,
Quem fica aumenta a que tem.
Só foi o trem dar o tranco,
Me segurei na janela:
Dei adeus com um lenço branco,
Um lencinho que foi dela.
Passa o tempo e tudo passa,
O tempo do trem passou.
Cadê Maria Fumaça?
Bem que a fumaça levou.
Teus olhos, de onde estavam,
Nem viram a missa campal:
Como andorinhas voavam
Por cima da Catedral.
O malmequer, quando achado,
Sempre acerta a previsão.
Se nunca foi desfolhado,
Como podes dizer não?
Desde os tempos de criança,
A mesma coisa acontece:
Quem fica em nossa lembrança
É sempre quem nos esquece.
Eu queria ser o vento,
Com esse brando rumor,
Pra soprar um pensamento
No ouvido do meu amor.
Os olhos dos namorados
Têm um brilho, eu sei porque:
Porque trocam seus recados
De forma que ninguém vê.
EMANUEL, Lúcio. Sete cavalos do tempo. Juazeiro, BA: Edição do Autor, s.d. 20 p. brochura 14x19,5 cm.
IV
A mula do padre
O cavalo do padre era a visagem
enluarando a aurora que me ensombra
Vinha batendo os cascos na voragem
e me pastava numa escura alfombra
Toda noite refaz essa viagem
e vem do plano astral, esquiva sombra,
o cavalo sem rosto e sem imagem
e mesmo assim esse cavalo assombra
Cavalo sem razão que me alucina,
era a égua do padre, a concubina
do garanhão, do galo em sua rinha
era o cão pecador que não se safa,
era a mula, era a zebra, era a girafa,
de tudo um pouco esse cavalo tinha
Concerto p/ olhos fechados e violino
e depois
aquele encontro que nunca tivemos
e tão impossível de repetir-se,
a noite estava tão escura
e a areia era tão fria
e o vento não era vento, era um barco
atravessando o sonho em várias direções
e tu estavas vestida de abandono
e nas dunas do teu corpo
havia um violino extraviado
EMANUEL, Lúcio. Sete poemas ultrapassados. Juazeiro, BA: Edição do Autor, s.d. 20 p. brochura 14x19,5 cm.
v
O MORTO
O morto não morreu, se eram serenas
Suas feições quando vivia, agora
Que repousa num leito de açucenas,
Persistem mais serenas do que outrora.
O morto não morreu, o morto apenas
Vê por dentro o que vemos só por fora.
De resto, ainda vive a duras penas,
Mais vivo do que o vivo, morto embora.
Assim, posto que a vida dos sentidos,
Perca todo o sentido no transporte,
O morto vive em gestos recolhidos
Vida que se afigura permanente
Ao que vença a si mesmo ou quem a morte
Não consiga matar completamente.
VII
AH, UM POEMA.
Se fosse outro
Seria o mesmo
Se fosse de outrem
Seria dela.
Se fosse ontem
Seria à tarde.
Se fosse chama
Seria a vela.
Se fosse móvel
Seria a nave.
Se fosse nuvem
Seria aquela.
Se fosse o noivo
Seria amável.
Se fosse virgem
Seria a tela.
Se fosse um vaso
Seria grande.
Se fosse um mundo
Seria a Terra.
Fosse uma flor
Seria um cravo.
Seria um tanque
Fosse uma guerra.
Se fosse um mês
Seria março
Se fosse manso
Seria fácil
Se fosse um membro
Seria um braço.
Se fosse um ponto
Seria um traço.
Se fosse um fruto
Seria amargo.
Se fosse um muro
Seria denso.
Se fosse um busto
Seria largo
Se fosse curto
Seria um lenço.
Se fosse alegre
Seria um sino.
Se fosse um sono
Seria leve.
Se fosse brisa
Seria branda.
Se fosse vaga
Seria breve.
Seria a Irlanda
Se fosse verde.
Se fosse branco
Seria a neve.
Se fosse um dia
Seria Sábado.
Se fosse um lírio
Seria longo.
Se fosse um jongo
Seria lânguido.
Se fosse triste
Seria um tango.
Se fosse um banjo
Seria ágil.
Se fosse adágio
Seria doce.
Seria um anjo
Se fosse mudo.
Seria tudo
Se nada fosse.
EMANUEL, Lúcio. Sete sonos de vinho. Na voz magistral de Osvaldo Benevides. Juazeiro, BA: s.d. CD “Gravado em estúdio da Rádio Juazeiro”.
EMANUEL, Lùcio. Travessia. Juazeiro, BA: Edição do Autor, s.d. 20 p. brochura 14x19,5 cm.
II
Desde que o ser humano foi criado,
Um cavalo chamado Desatino
Cavalga sem cessar nosso destino,
Um cavalo sem dono e sem ter prado
Onde vai o cavalo, onde é chegado
O cavalo do tempo, o tempo equino
A gente a galopar desde menino
E o cavalo a correr desembestado
Não fosse esse cavalo Sagitário,
Centauro Pervertido a converter
Cada coisa em lugar de seu contrário
Vindo daí o inverso ou distorcido,
Vemos assim que o que não pode ser
Com raras exceções, sempre tem sido
v
Unido e ao mesmo tempo separado,
O ser que sou do ser que represento
Que não cabe no rol de um pensamento
Por ser o pensamento limitado
Ser que, com várias faces disfarçado,
Tenta durar além de um sentimento
Mas só dura o que dura seu momento,
Dissipado o momento, é dissipado
Ser que não sabe ( e mesmo que soubesse )
Se a morte por ser morte é fim da gente,
Ou se a gente em si mesma permanece
Como um risco num quadro já riscado
É a dúvida que assola sua mente,
Quanto mais se aproxima do outro lado
EMANUEL, Lúcio. Três sonetos y uma suíte. Juazeiro, BA: Edição do Autor, s.d. folha dobrada em 4 partes.
EMANUEL, Lùcio. Trinta sonetos & Meio. . Juazeiro, BA: Edição do Autor, s.d. 38 p. brochura 14x19,5 cm.
Distante como o mar
Não nascemos da espuma do oceano
Muito menos do orvalho da montanha,
De onde nos vem a espuma desse engano
E a frescura de orvalho em que se banha?
Sal de Atlântico mar americano
Queimando nossa pele, força estranha
De quem quer apanhar mas não apanha
A total condição do ser humano
Na praia virginal e sem mistério,
Esse vento, esse pássaro, esse grito,
Dizendo que o destino não é sério
E a tarde, em seu momento mais solene,
Nos faz verificar que o infinito
Parece ser azul mas é perene.
Vinho Xerez
Era o branco Xerez de cada dia
das tabernas de Córdoba ou Toledo,
ó embriaguez, ó mosto que inebria
e entremostra seu árabe segredo
Era a chuva de almíscar que caía
sobre a tarde andaluza do vinhedo,
o gozo da papila que fruía
do mel da vide seca o sumo azedo
Ó gargantas que nunca se fechavam,
ó tonéis que as Danaides nunca enchiam,
ó boquinhas que nunca se fartavam
da agridoce fragrância que bebiam,
que sabiam ao mel que degustavam,
quanto mais degustavam mais sabiam
Página publicada em agosto de 2014
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