LÚCIA SONTÓRI-CARNEIRO
Lúcia Santóri-Carneiro nasceu em 1" de março de 1962, em Salvador. Formada pelo Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA), é professora de francês e trabalha na Diretoria de Literatura da Fundação Cultural do Estado. Poeta, lançará seu segundo livro, As voltas do tempo, em 2007, pelo Selo Letras da Bahia.
IARARANA – revista de arte, crítica e literatura. Salvador, Bahia. No. 12 – novembro 2006. Ex. bibl. Antonio Miranda
Amitiè
Não importa se longe,
se os oceanos e as grandes distâncias se impõem,
há uma linha invisível que em nós se prende e que, firme,
nos liga aos amigos, mesmo se em outros continentes.
E que não nos deixa nem quando dormimos, nem nos
{deixará mesmo depois...
Pois, sempre presente, nos acompanhará eternamente.
AS VOLTAS DO TEMPO
Nas voltas do tempo nada se perdeu.
Não há tempo. Ontem, hoje, amanhã.
Há somente o sempre.
Eu, você, atravessando capítulos,
contínuos capítulos.
INSTANTE
Um burro debaixo de uma árvore.
Um menino chorando, outro menino sonhando.
Uma mãe pra cima e pra baixo e um homem na cama.
A terra
O tempo
A vida escorrendo.
A PIPA
Verde e vermelha
a pipa dança no azul do céu.
Veloz ela roda
faz que cai mas levanta
faz que corta mas não corta
levando pro alto a criança.
MENINO
O menino que não fala tem nos olhos uma parede fria.
Distante, é como um planeta inalcançável,
astro de uma galáxia longínqua, em que nenhuma luz incide.
É cometa sem cauda, gato sem unhas, casa vazia.
Nos olhos nada traz, nem no rosto, muito menos nos gestos.
Inanimado, quase invertebrado, parece não ter peso. Flácido, lânguido, não ocupa espaço.
Alheio, passa feito água sem curso. Vão, é água que ninguém apara.
NA CIDADE DE FRASCOS
Quando ela colocava talco,
uma nuvem redonda, como uma bola sólida, ficava suspensa no ar.
Depois, ia se desfazendo, caindo e embaçando o chão.
Era tanto talco e pó-de-arroz, laquê, alfazema e água-de-colônia!
Tantos frascos de leite-de-rosas que dariam para construir uma cidade.
Nessa cidade (que pena, não a construí!) o sol nunca se deitaria.
A bola de talco, os seus vinte anos, a minha infância, tudo, nos frascos, para sempre se conservaria!
AZUL
O olho azul do gato
mar que anda pela casa.
Página publicada em junho de 2019
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