LAURINDO NETO 

 

LAURINDO NETO.  As  escoriações generalizadas  (poemas, historietas).  Salvador, BA: Secretaria da Cultura e Turismo, Fundação Cultural do Estado da Bahia, Empresa Gráfica da Bahia, 1996.  94 p.  15x20,8 cm.  ISBN 108-878-161-68   Ex. bibl. Antonio Miranda.

"Com um verso forte (perquiridor, irônico, mordaz) e com um conteúdo social, metafísico, erótico, político e metalinguístico. Laurindo Neto transporta-nos a uma intrigante viagem pela realidade contemporânea. Ele, o autor, faz uma análise da nossa (in)cultura, do nosso modelo social viciado, da nossa história não oficial, odos nossos dogmas (ir)religiosos, dos nossos preconceitos enraizados, da nossa robotização crônica, e, sobretudo, da nossa condição humana claudicante."  RUBEM MÁRCIO BITTENCOURT GARCIA

 

         Pavio curto

Gosto das pessoas
que se expressam claramente:
gosto do sim com cheiro de sim
e do não com sabor de não.
Por isso: não me venha
com conjunções alternativas,
com ambiguidades
ou pronomes indefinidos:
porque o vinho também vinagre,
que o ferro também aço.

Gosto de seres
que pensam positivamente:
gosto dos que olham o estrume e
vêm o remédio do farmacêutico.
Por isso: não me venha
com poréns,
com mas
ou entretantos:
porque a areia também vidro,
que o leite também coalho.

Gosto daqueles
que não vacilam:
gosto dos termos completos,
sem fraturas ou divagações.
Por isso: não me venha
com reticências,
com parênteses
ou travessões:
porque o açúcar também álcool,
que a água também pedra.

Gosto dos
que falam a língua do povo:
gosto dos que preferem
flores a microcomputadores.
Por isso: não me venha
com preciosismos,
com estrangeirismos
ou cheio de tus:
porque o carbono também diamante
que o macaco também homem.

        

         Eccoooaaaannnnnddddoooooo

O canto metálico
da ARAPONGA
era um martelo
que ribombava
na bigorna...
pressionando:
ribombando,
ribombando...
como centenas
de estribos
em estribilhos
compassados,
que ecoaram em
pavilhões, janelas,
canais, labirintos
e em vestíbulos...
ecoando...
e.co-and0do...
e-c-o-a-n-d-o...
(como a espiral
de um caracol)
até atingirem
a membrana
do tímpano.

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Página publicada em abril de 2017