JOZAILTO LIMA
Baiano de Vázea do Poço, 1960 —. Iniciou o curso de Letras na Universidade Estadual de Feira de Santana e bacharelou-se em Comunicação Social em Aracaju, onde exerce o jornalismo.
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Autor do livro de poemas Ainda os lobos (Patuá, 2016), Jozailto Lima (11.11.1960) é baiano radicado em Aracaju, Sergipe. Tem quatro livros de poemas publicados e ganhou alguns prêmios entre Bahia e Sergipe. Sua poesia nasce da carne tenra e bruta da vida. Brota “no dorso dos dias,\ no chão das ilusões”. E, em sendo assim, tem memória, sexo, morte, teto e tato. Alegrias e tristezas. Muita afeição lírica de quem não se encaixa na eterna diáspora que é o viver e seus códigos e seus signos e seus tantos outros parangolés. Meio que em síntese, ele e a sua poesia ladram “ao silêncio\ um silêncio\ só osso”, fazem “cócegas nas axilas do sol” e esperam “a colheita do fim dos dias”. E aí, vai encará-los?
Fonte da biografia: http://editorapatua.com.br/
HERA 1972-2005. Antonio Brasileiro et al.. organizadores. Salvador, BA: Fundação Pedro Calmón; Feira de Santana, UFES Editora, 2010. 712 p. fac-símile. ilus. (Memória da Literatura Baiana). ISBN 978-SS85-99799-14-7 Ex. bibl. Antonio Miranda
O LOBO DO HOMEM II
Para Neuman Sucupira in memoriam
Lobo é esquerda
Lobo é direita.
Ao meio e ao centro,
Alcatéia de navalhas
Estilhaçando ar e uivos.
Ao fim de tudo
— Se é que não me iludo
E algo de fato finde —
a soberba Senhora Soturna
Que a todos ceva e cinge
Cuja face beijo algum jamais alcançou.
Aí nesta fecunda vala a estreita arena,
Pata e venta abertas, coração em chama,
O homem toureia sua sina
Mas sempre tomba
A Senhora toureira Soturna e assassina.
MOTIVO DE TABACARIA
Não serei cinzas
Não serei porra nenhuma
Afora isso, tenho em mim
Todas as sementes do mundo
Mas resisto, não gemino
E insisto: não serei cinza alguma
A VINGANÇA (DA MULHER DE LÓ)
Não lhe deram um nome
Sequer o direito de olhar para trás.
Apenas a estátua
A mulher sem rosto, o castigo,
O sódio ardendo urdindo desejo.
A ele, a montanha aberta em cedros e viço
A reverência das águas e dos ventos
O solfejar dos passarinhos
A fúria santa dos vinhos
O sexo ópio das suas meninas
E a nação forjada em filhosnetos.
Àquela, a quem sequer nome deram,
A borra, a pedra sem face, o adeus cru cruel.
E, de conforto ou vingança, um eterna Gomorra
Em fogo ardente, apontando contra o céu.
Página publicada em janeiro de 2019
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