POESIA PRAXIS
JOSÉ DE OLIVEIRA FALCON
José de Oliveira Falcón nasceu em Salvador, Bahia, em 1939. Fez o curso básico no Colégio Maristas e estudou Direito entre 1959 e 1962. Embora tenha sido publicado por diversos jornais e revistas e tenha participado de antologias poéticas deixou, ao morrer no Chile em 13 de maio de 1971, apenas um livro editado: “Canudos, Guerra Santa no Sertão”, de 1966.
TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTOS EN ESPAÑOL
FALCÓN, José de Oliveira. Sonata urbana. Salvador, Bahia: Empresa Gráfica da Bahia – Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1989. 72 p. ilus. p&b Capa e contra capa: Enéas Guerra. Ilustrações do Azulão: Otávio Filho. ISBN 85-7149-011-2 Ex. bibl. Antonio Miranda
Em “Sonata urbana” a Empresa Gráfica da Bahia e a Fundação Cultural apresentam uma amostra do seu trabalho, boa parte do qual continua inédita. (Informação de 1989).
O AZULÃO
Sobre a mata a fogueira
do poente clareia todo o céu.
Ouço um gorjeio dentro de mim mesmo.
lembro do azulão agonizante
que vi — era um menino — na mão
de outro menino mais certeiro do que eu:
um ocaso sangrento entre a plumagem
preciosa, um silêncio pungente e funeral.
não sei, não sei, mas desconfio
que em meu peito agoniza um azulão.
BOTÂNICA TRANSCENDENTAL
Pedra e musgo. Silenciosa
paz, sombria quietude.
árvores mortas, troncos sazonados ,
berço e ataúde
do mistério vital.
árvores vivas, salmos coloridos,
anseios góticos arborizados
no interior de estranha catedral.
ANTÍODE À LIBERDADE
Liberdade: não a ideia
com a sua contradição
não a síntese poética
de outra alienação
Liberdade: não o nome
fenômeno estado ação
verbete em dicionário
semântica e cisão
antíode ódio ídolo
no processo e dicção
uma antítese-problema
poema-libertação
Nocturno en ti
mi sereñito menor
À Vigny
Caminando, pié, y piedra
a la orilla del Mapocho
cuando callan las callampas
los palomos pololean...
su grande silencio blanco
guardaba la Cordillera
baja la noche en tus ojos ,
ardi mariposa y estrella.
jugaba el niño Mapocho
y Santiago, tan mía,
era un solazo, un puñal
clavado en nuestra alegría.
Mi hambre, y tu cuerpo hembra
mi sed y tu boca fresca
la ternura massacrada
del Pueblo, que tí la ofrezca.
ay mi “sodad” henda y pura
en tu fuego se ahogando...
paró su canto el Mapacho
en Santiago, de espanto.
y el balnco silencio grande
lecho de nieve y granito
se reventó en tu pecho
y en vuelo partió mi grito.
paloma de mi exilio,
desesperada esperanza
de una isla no aislada
en sueño que ya me alcanza
“seul le silence est grand lent ler est est faibnlesse”
Santiago, 1970
Extraído de:
ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS: Fase Moderna – Volume 2. Organização: Manuel Bandeira e Walmir Ayala. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. 320 p. 11,5x18 cm. Capa da coleção: João Baptista Aguiar. Os poetas estão nas seções do Índice: Geração de 45, Poesia Agora & Vanguardas, Concretismo e Neoconcretismo, Praxis, Vanguardas Mineiras. ISBN 85-209-0799-7 “Manuel Bandeira “ Ex. bibl. Antonio Miranda
SANTO SANTEIRO (ANTI-LADA INHA DOS "MILAGRES")
cabeças braços
— passos da paixão
madeira santa
— sangue no pilão
estropiados
— trôpego trovão
sangra milagre
— mito multidão
ira obscura
— coro procissão
processo choro
— tropa dos sem pão
fome das feiras
— reforma de formão
um pão por Deus
— povo massa pão
POVO MASSA PÃO
olhar do cego
— olho de um milhão
luz lazareto
— mão que não é mão
garra graveto
— toco trapo vão
prenhez da fome
— o pé de pilão
cara caveira
— crânio sem clarão
canga em curumbo
— couro de cristão
brado sem boca
— boca dos sem pão
no testemunho
— punho amassa pão
PUNHO AMASSA PÃO
falem cabeças
— fome e acusação
sangue pisado
— pule no pilão
pupila cega
— onde a escuridão
corisco ruivo
— ruja no trovão
ladre o ladário
— campo sem cambão
siga o processo
— passe a procissão
derrube o paço
— passo da paixão
peça passagem
— pressa praça pão
PRESSA PRAÇA PÃO
Página publicada em outubro de 2014 - página ampliada em abril de 2018 |