JORGE DE SOUZA ARAÚJO
Baixa Grande-Ba, 1947. Doutorem Letras pela UFRJ. Professor de Literatura (UESC. UFRJ. UFBA, UEFS). Autor de "Eu nu e algumas curtas histórias" (1969) e "Os becos do homem" (1984).
O professor de Literatura Brasileira na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Jorge de Souza Araújo, de 68 anos, não precisou de dinheiro público, mas apenas do seu esforço solitário para criar o Instituto de Humanidades e Cidadania (IHC), que ergueu no modesto bairro Bela Vista, 450, na cidade de Santo Antônio de Jesus (a 185 km de Salvador), no Recôncavo baiano.
No local, disponibiliza um acervo de 30 mil livros, dois mil filmes, jornais, revistas e obras da literatura baiana, brasileira e estrangeira, como romances, poesias, contos, crônicas e memórias, e livros de psicologia, sociologia e história. O IHC pretende ser uma referência em estudos culturais e de pesquisa para estudantes do ensino fundamental e médio, acadêmicos e pesquisadores.
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ELEGIA
Houve um tempo em que amei muito Jane Fonda
não por acaso ou mito
que as horas não andam para brincadeira
nem por aquela boca gozosamente enrugada
de lábios lembrando o sabor da manga-espada
à sombra da árvore-mãe
Amei, sim, e densamente Jane Fonda
não ainda pelo corpo de mulher peixe
cintura destra e macia, rosto saliente
empinando alvíssaras no preto e branco das fotografias
Amei Jane Fonda por sua testa sem assombro
ensarilhando vísporas
contra engolidores de crianças famintas
índios desvalidos, multidão de enfermos e de órfãos
que ela acolhia em seu seio
- tão bonito, ó Deus!
Mas passou o tempo de amar a Jane Fonda
Passou o tempo de amar a Jane
Passou o tempo de amar
Passou o tempo
NESTA ILHA - IV
Nesta ilha
muito pouco muita
grande porém para meu passo em cheio
hora há que não caibo
(aliás, caber nem caibo em mim
este infinitamente sobrevivido)
Nesta ilha passeiam
caprichos de condes boquirrotos
e bancarrotas de nobres carcomidos
Nesta me ilho e dispo
da memória de 1 vez por todas
e estalo em grito
sempre mudo, nunca berro
POIESIS
A dor que dói desta cesura
de poema que se faz fazendo
e não madura nunca
é dor pior que a pior das dores
pois macera o lírico envergonhado
subjeto rejeitado
de riso afunilado
da morte: e fala
fala:
sofrer o poema é não amá-lo
antes tomá-lo em sua sombra
- perda ou plenitude -
no navegar da memória
na vertigem delírio messe
do olvido violento vai
da solidão sem remédio
Página publicada em janeiro de 2019
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