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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto/fonte: http://apoesiadobrasil.blogspot.com.br/

 

JOÃO FILHO

 


João Batista Fernandes Filho (Bom Jesus da Lapa, 12 de fevereiro de 1975) é um poeta, contista, tradutor e ensaísta brasileiro. João Filho nasceu em 1975, em Bom Jesus da Lapa/BA. Participou de algumas antologias, dentre elas: Terriblemente felices. Nueva narrativa brasileña, Emecé Editores, 2007, Argentina; 90-00: cuentos brasileños contemporâneos, Ediciones Copé, 2009, Peru; Geração Zero Zero, fricções em rede, Língua Geral, 2011, Brasil; Popcorn unterm Zuckerhut, Verlag Klaus Wagenbach, 2013, Alemanha.

Publicou Encarniçado, contos, pela Editora Baleia, em 2004. Com esse volume obteve grande destaque individual na Festa Literária Internacional de Paraty de 2005. Contudo, voltou ao mercado editorial somente quatro anos mais tarde, com o livro de contos   Ao longo da linha amarela em 2009, dando sequência na prosa com o volume de crônicas Dicionário amoroso de Salvador, editado pela Casarão do Verbo em 2014.

No gênero poesia, após uma estreia com o opúsculo As Três Sibilas em 2009, publica A Dimensão Necessária, pela Editora Mondrongo, 2014.

O autor ganhou o Prêmio Alphonsus de Guimaraens de 2015, pela Biblioteca Nacional, por seu livro A Dimensão Necessária,  Fonte: wikipedia

 

 Veja também: texto de Salomão Sousa sobre a poesia de João Filho:

http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/a_poesia_inaugural_de_joao_filho.html

 

 

FILHO, João.   Auto da Romaria.   Itabuna, BA: Mondongo, 2016.  
190 p.  15x19 cm.  ISBN 978-85-93552-13-7    Ex. bibl. Salomão Sousa

 

         EM TORNO DA VENDA

         1 -
                  O balconista

         Doer, dói, mas cura,
         é quase veneno,
         o tempo supura
         o que eu vou sendo.

         Presença perene,
         minh´alma menina,
         coração infrene
         a descobre infinda.

         Das matemáticas,
         apanha por tudo,
         às vezes é sádica
         a vida em minúsculo.

         O Livro de Preços,
         fiel da balança,
          o troco sem erro.
         — enquanto descansa,

         carregue uma pedras!”
         Quem disse alegria?
         Respirar esperas
         de mercadorias.

         Conferir entregas
         como quem confere
         a vida sem tréguas
         que o balcão expele.

         2 –

         Incêndio que não cessa,
         enchente na moldura:
         o menino atravessa
         a fonte mais escura.

         Uma vela esquecida,
         um rio que naufraga —

         a venda era a vida,
         a vida esmagava.

         Estranho testamento:
         um incêndio, uma enchente,
         agora o seu sustento
         goteja inutilmente.

         — E o que vendia a venda?
         — Que importa o que vendia?
         Hoje, o seu grão de lenda
         é essa mercadoria.

         Galego, João Galego,
         agreste sem Galiza —
         o seu desassossego
         qualquer um divisa.

         A venda foi seu mapa,
         balcão o seu umbigo,
         as secas dessa Lapa...
         com elas o bendigo.

         A vida era a venda,
         todo o seu mostruário:
         as mais duras contendas
         entram no inventário.

         — Onde o Livro de Preços?
         Enquanto aprende, apanha.
         O valor dos começos
         tem poder de barganha?

(...)  
        

         O SANTO ANÔNIMO

                Para Carlos Calliga

         Molda meu coração, barro insubmisso.
         Por mais que se ofereça é sempre fúria,
         pois há sombrios poços que diviso,
         à beira de mim mesmo, nas funduras.

         Molda meu coração, ex-pedregulho,
         que percorreu parábolas insanas,
         atirando-se contra os próprios urros,
         abrindo abismos dentro da garganta.

         Molda meu coração, argila impura,
         com Tuas mãos de luz, em vaso d´água,
         e aprendo a servir feito quem desfruta
         um sopro de esperança que se alarga.

        

 

FILHO, João. A dimensão necessária.  Editora Mondrongo, Bahia, 2014

 

 

NITIDEZ SUBMERSA

 

Nos sapatos confortáveis

um pouco velhos e gastos

a fuligem das cidades

redesenha o seu mapa.

 

Não me venham com saudades,

sombras, vultos e fantasmas,

o peso e a profundidade

das coisas não nos sufocam.

 

Dos caminhos caminhados

— avenidas, becos, praças —

multidões tumultuosas

na fuligem dos sapatos.

 

Pó do mundo respirado

em seu tédio corrosivo,

não escapam os voos altos

das naves mais arrojadas.

 

Na verdade, nada escapa.

É preciso a cada istmo

contra essa névoa cegante

renovar o gesto limpo,

 

porém não lave os sapatos,

não porque registre tantos

itinerários, andanças,

mil labirintos urbanos, a

 

fuligem aí pousada,

cartografia amorosa,

indica veios, filões

dessa nitidez submersa.

 

Alargue as tuas pupilas:

paciência ao inspecionar

cada trecho dessas nódoas;

nos interstícios, estrias,

 

nas grafias do diáfano,

se entrevê pela fuligem

a clara sustentação

dos fios frágeis do mundo.  

 

 

HABITAÇÃO DE NUVENS
07

 

Fantasmas. Nomes? Talvez menos, eis
o pó, papel de alguns, outros nem. Lidos?
Nem pelo esquecimento. — Ali, não vês?
Não foi ninguém e nem será, duvido.

 

Dispensa enumerá-los, este mês
apressa esse silêncio sem sentido
elide causa e nem rompe em porquês,
é como se esquecesse o esquecido.

 

Inútil? Doloroso, não vingança,
porém, dos que entre estantes (pó também)
perdem-se nessa verossimilhança

 

de papel, porquês, dúvida e desdém,
pois de insignificância o tempo cansa,
para abrir vaga na estante-ninguém.

 

 

LUZ PRIMEIRA

 

É possível que tão inquieto quanto este,

Menos o acúmulo de desacertos de sua rota,
mais o céu primevo
e o azul bruto.
É provável que já fosse isto,
porém tosco a palmilhar seu sentido
e se assombrasse de estar desperto na disposição
geral de tudo;
melhor não, nem mais puro,
não isso,
talvez intactos alguns caminhos,
e a relva e as águas e os bichos
fossem realmente mais livres.
A luz primeira veio com o primeiro grito,
e o invisível foi o medo mais duro,
porque o visto era em sua metade crível;
ao perceber que negar não era resolver,
a morte
foi o mistério mais agudo.

 

 

 

Página publicada em colaboração com SALOMÃO SOUSA, dia 3 de janeiro de 2016

 

 

 


 

 

 
 
 
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