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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

CASTRO REBELO JR
(1858-1912)

João Batista de CASTRO REBELO JR. nasceu em Salvador onde também faleceu. Poeta, ensaísta, jornalista, sociólogo, jesuíta, político.

Livros de poesia: Livro de um Anjo (1879), Poema do Lar (1902), Ardentias (1907).

 

O GUARANI

 

Nunca subiram tanto as raias do proscênio.

Dilata-se num sonho o que se passa aqui:

Faz-se imponente, augusta, a elevação do gênio;

Dá-se urna coisa enorme, estranha — O Guarani.

 

Acordam-se emoções vulcânicas de um povo

Em cujo peito bulha a fé nacional.

Tudo isto é belo, e altivo, e gigantesco, e novo;

Assume as proporções do sobrenatural.

 

Tudo, ao maravilhoso aspecto do cenárlo,

Nos arrebata; e forte, enérgica, viril,

Alardeando um brilho imenso, extraordinário,

Vê-se a descomunal figura do Brasil.

 

Contempla-se da pátria o vulto primitivo,

A rude majestade, as formas colossais,

E sente-se que puja esse vigor nativo,

Como que ultrapassando as leis universais.

 

E ante a bizarra pompa, a validez supina

Dessa prodigiosa e máscula visão,

Assombra-nos tamanha hipérbole divina

A exorbitar assim de toda a criação.

 

Quando épica, vivaz, profunda, alta, solene,

Repercutindo inteira em nossos corações,

Irrompe essa harmonia em catadupa infrene,

Que, amontoada, espuma em férvidos cachões;

 

Quando remonta, e vai, nuns ímpetos supremos,

Do que ha de mais suave ao que há de mais atroz;

Quando em naã sei que sons atinge esses extremos

Como se do equador ouvíssemos a voz;

 

Quando essa aluvião de música extravasa

E da arte a fantasia arranca o último véu,

— Esplêndida efusão da natureza em brasa,

-—Transbordamento azul do americano céu;

 

Quando Ceci desata, em nódulos divinos,

Do palpitante seio as virgens emoções,

Como se fossem mesmo uns ecos peregrinos

De asas de amor transpondo etéreas solidões;

 

Quando Peri, lhe arrosta a fúria dos jaguares

E intrépido, desarma o braço do traidor,

Quando Peri, que entorna em místicos ciliares

A chama tropical desse infinito amor,

 

Quebrando-lhe nuns tons de angelical ternura,

Nuns suspirosos tons de imaculada fé,

Esse desvelo infindo, essa paixão tão pura,

Em que sua alma ri, mas que nem sabe o que é;

 

Quando no arbusto em flor o pássaro gorjeia,

E da feroz pocema estruge a invocação;

Quando sorriem da moca os lábios de sereia,

E troam do cacique as fauces de vulcão;

 

Quando estremece a mata, aos cânticos selvagens,

Aos hinos marciais dos broncos aimorés,

E passam do deserto as túmidas aragens,

Arrebatando os sons da inúbia dos borés...

 

Parece que nos foge a alma,

Transpondo vagas regiões,

Nas grandes asas convulsas

Desse pampeiro de sons,

— Ardente sopro fecundo,

Que irrompe do Novo Mundo

E vai num eco profundo

Estremecendo as nações.

 

No arranco vertiginoso

Dessa música em tropel

Sons há que espadanam sangue

E sons que distilam mel.

Uiva e ri, geme e ribomba

A escala, que sobe e tomba,

Desde os arrulhos da pomba

Aos silvos do cascavel.

 

Não sei de que abismo ignoto

Assoma esse turbilhão

De vozes como inflamadas

Em sonora ebulição.

Não sei de que estranhas cavas

Rebenta a harmonia em lavas,

Golfando essas notas bravas

Nos estos de uma explosão.

 

Ouve-se o brando cicio

Dos adejos matinais

Frolando suavemente

A pluma dos taquarais;

E escutam-se os estampidos

Desses hórridos bramidos,

Que retumbam desabridos

Pelas florestas natais.

 

Sente-se então que, vibrante,

A asa do gênio passou

Como um relâmpago imenso

Que toda pátria inundou:

 

E Carlos Gomes — o artista,

Que os olhos perdem de vista

Na remontada conquista

Desse ideal, que abordou.

 

Sente-se mais... que no meio

Destes assomos febris

Paira um clarão deslumbrante,

Que a turba inteira bendiz:

 

E de Alencar a memória

— Vasta púrpura de glória,

Que tomba do alto da história

Nos ombros de te país.

 

Ave, memória excelsa do que fôra

A profunda existência edificante,

O luminoso ponto culminante,

O espírito maior de urna nação!

Ave, nome ¡mortal, que sobre o mundo,

Em vivos raios de um clarão superno,

Hão de as idades refletir eterno,

Sol glorioso desta geração!

 

E tu, que imperas, combalindo as massas,

Dessa harmonia aos trágicos acessos,

Vê com que alma de mãe, vê com que excessos

Te adora a pátria, ouvindo O Guarani!

 

Sê além, nas longes terras estrangeiras,

Os Alpes medes como um capitólio,

Fita nos Andes o soberbo sólio

Que esta alma parens te alevanta aqui!

 

 

HADAD, Jamil Almansur, org.   História poética do Brasil. Seleção e introdução de  Jamil Almansur Hadad.  Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio         Abramo.  São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943.  443 p. ilus. p&b  “História do Brasil narrada pelos poetas. 

HISTORIA DO BRASIL – POEMAS

 

GUERRA DO PARAGUAI  (de 1864 a 1870)

 

 

General Osório

CURUZÚ

O que se passa ali, naquele mundo
Por onde o próprio sol treme e descora.
Onde o exército acampa, os campos se armam;
Onde a esquadra dá fundo, o rio chora.

E o rio é rubro, porque o sangue é muito;
Negra a terra do fogo, que é de mais;
Tudo deserto, porque a morte aí reina!
Tudo horroroso porque o nada aí jaz.

Meu Deus, meu Deus, que enorme desventura
Arrasta a quatro povos para o abismo?
Oh! já sangra de mais essa tragédia!
Mortal de mais é esse cataclisma.

Porém... demais, também, nos provocaram;
Nada foi-nos poupado; a honra, os bens,
Tudo empolgou a garra da rapina,
Recuas? É remorso? Alma não tens!

A pátria é nossa mãe. Roubaste-a? Foge!
Mas debalde, que tu ao céu não corres.
Manchaste nossa irmã? Teu sangue é nosso!
Prostituiste nossas filhas? Morres!
Ninguém, ninguém bebera de um só trago
De fel da infâmia taça tão letal.
A espada, Paraguai, é para os bravos;
Tu vais morrer a faca e a punhal.

Curuzú, estrebucha sob o joelho
Do caboclo, do arcanjo da vingança.
É Deus quem arma o braço dos Osórios.
Exulta, povo! O extermínio avança!

 (CENTELHAS)

*

VILETA E ANGOSTURA

Tomba Vileta, Angostura
Procura estender-lhe a mão.
Nosso gláudio refulgura
E ambas ficam no chão —
Vencidas, desbaratadas,
São novas portas rasgadas
Que nos acenam: — Entrai!
E a aurora da liberdade
Fogosa, ridente, invade
Os campos do Paraguai.

Deus pesou a nossa ofensa,
Julgou-a, e disse: — Pois sim.
Podeis lavrar a sentença
Argolo, Osório, Delfim. —
Deu-se a última estocada;
A tirania prostrada
Vai pedir o seu perdão.
Em Vileta e Angostura
Expirou a ditadura
Da força e da escravidão.

Matou-se a guerra: é preciso
Sepultá-la já e já.
Deus, abri o paraíso!
Paz do céu, desce de lá!
Já se não morre, nem chora,
Tudo ressurge nesta hora
De grata compensação.
Nas pelejas que vara o peito
Não encontra o coração.

O tigre pôs-se na serra;
Seu antro desfez-se em pó.
Caxias abisma a guerra
Na ponte de Itororó.
Não é preciso mais nada.
Um tiro, uma cutilada,
Quase não ganhas, Gurjão!


Lá some-se a noite aziaga;
Apaga, guerreiro, apaga
O raio que tens na mão.

De monte a monte correndo;
De bosque em bosque a pousar;
De hora em hora esmorecendo;
De dia em dia a tombar;
Lá vai Lopes, voa, foge.
A campanha findou hoje,
Começa a perseguição.
Lançai matilhas à corça,
Pois sobre quem não tem força
Não se arremete o leão.

Soldados, é terminada
Vossa missão; descansai!
Dependurai essa espada;
Está morto o Paraguai.
Tomai da pátria os caminhos,
Trazei-lhe a c´oroa de espinhos
Que conquistastes por lá.
Nada terei de presente
Pois o futuro, somente
Vossos feitos honrará.

(Obra citada)

*

A MORTE DO TIRANO

 

Caiu de sabre um punho
— Algoz, tinha paixão pelo cutelo!
Era um colosso, era; mas, que Herodes
Resistirá do sec´lo ao camartelo?

Crime inaudito: cativara um povo!
Ao Cruzeiro afrontou: fatal loucura!
Cava um abismo aos pés do Novo Mundo,
E nele tomba!  Horrível sepultura.

Horrível, sim, que a banha um mar de sangue,
Não orvalho de amor, ou de piedade.
Horrível, sim, que ali eterno e negro,
Sentou-se um juiz tremendo — a humanidade.

Era irmão de Calígula e de Nero;
Como aqueles, do mundo fez patíbulo
Que ele chamou altar.
Era vampiro,: só bebia sangue!
Satã, que fez-se abutre, um povo inteiro
Conseguiu devorar.

Gastara as garras em rasgar entranhas.
Já sem antro e sem ninho, falcoado
Inda tentou fugir.
Barafusta nas vascas da agonia;
Sente que a morte empolga, e exasperado
Pode  apenas rugir.

Câmara é a nuvem que sobre ele paira,
Chico Diabo o raio que o fulmina.
Foi em Cerro-Corá!
Vara uma lança o peito do tirano,
E pelo rombo avista-se o futuro
Que o Paraguai terá.

Futuro d´oiro, esplêndido, supremo,
Futuro de quem morre e ressuscita
Livre, forte e gentil
O Paraguai sem ferros, sem mortalha,
Lembrando o potro e a campa em que jazerá
Bendirá do Brasil.

                                  (Obra citada)

*

VEJA e LEIA outros poetas de PERNAMBUCO em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/pernambuco/pernambuco.html

 

Página ampliada em outubro de 2021

 

Página publicada em maio de 2009.

 

 



 

 

 
 
 
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