JEAN CLÁUDIO
Poeta baiano, de Vitória da Conquista.
CLÁUDIO, Jean. Segundo poemas. Vitória da Conquista, BA: s.d. s.p. Apoio cultural: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Faculdade de Formação de Professores, Departamento de Estudos Linguísticos e Literários – DELL. Ex. bibl. Antonio Miranda
“O voo da poesia de Jean Cláudio atinge uma intensidade capaz de romper as amarras da poesia convencional.
Embora os atributos de valorização à poesia ainda sejam negados, resta-nos a alegria de saber que em Vitória da Conquista uma nova irradiação poética está surgindo para a poesia brasileira.” CARLOS JEHOVAH
UMA OUTRA CANÇÃO
Basta ser!
porque os caminhos não são tão longos
e nem contos se contam em um canto
— apenas um canto.
Basta querer!
para torna-los contos
contam-se vários caminhos
de meninos e ninhos.
Basta saber!
que no canto está
o verdadeiro cio.
SERRA DO PERIPERI
Estou só
de pé no pé da serra
sentado sem sina
escutando sino
que pelas mortes não tocou...
E a poesia lambe ossos
cuja lágrima é um verso
e o sorriso um reverso.
E o meu olho assim,
simplesmente pisca e molha,
e transforma o ali o agora
visando o que foi
para ver o que é.
Meus olhos desfarelam
as pequeninas luzes,
e em seus lugares
verdes galhos erguem por troncos baraúnas,
graúna, sapucaia, ipê;
potumuju, jacarandá e sucupira...
No reflexo do verde
vejo asas que voam em seus cantos,
e quem não canta como o “sete cores”,
canta pelas cores que encanta
para quem sabe ver.
Vejo mutum, aracuan, jacu;
codorniz, zabelês, nambus;
colibris, currupião e pega...
Vejo marcas de carne e patas:
anta, caetitu,
veados, coelhos, preás...
E vejo entre o porto de areia e mata
o canto do bicho camacã.
E vejo o uivo do rio que atraca
cia e mata pela mata
onde o gavião voa
liquidamente nas asas da terra...
— E novamente aqui estou
a ver luzes
pequeninas luzes
tragando o aboio do sereno!
CONVERSA DE NARIZ
Tudo era cheiro de terra
e da terra tiraram os torrões de barro
para caiar as casas.
Tudo era cheiro de árvore
e da árvore tiraram madeira
e fizeram banco para olhar a lua.
Tudo era cheiro de rio
e do rio tiraram o peixe
para envenenar a fome.
Tudo era cheiro de homem
e do homem tiraram as divisas
para dominar o homem...
e demais!
... Mas,
Sinto cheiro de guerra!
Sinto cheiro de libelo
na presente serena garoa que desliza a serra!
PALMARES TERRA ZUMBI
Zumbi
Pelo ventre negro de Palmares
respirou o seu primeiro ar,
livre e leve em guerras.
Caminhou o seu primeiro passo,
solto e tranquilo em batalhas.
Falou a sua primeira palavras
e navegou sobre ela
até a hora da sua morte:
Liberdade!
ORAÇÃO DA ASA
Voa
Voa pensamento
Lambendo os lábios da estrada
que sabe
que escuta
que pinta
Que pinto
repinta
os pintores de nosso dia pós dia
após pauta,
nesta busca da asa assada
dada ao espaço do vento
nesta beira de pé,
neste lago de mão
que ainda não encheu de suas águas !
Voa
Voa pensamento
Ensine a eles o ato
e escreva a asas na língua do corpo.
Página publicada em abril de 2018
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