IVAN BRAGA
Poeta, professor e romancista Ivan Silveira Braga nasceu en Santana dos Brejos (BA). Publicou Cartas Brejeiras - Poesia de um moço doido pela vida (sd.) e Romance de Almas na Florada (poesia, 2006). Para o compositor, cantor e poeta Aloiso Brandão: Braga "é o poeta dos passarinhos, das lagartixas, das borboleta ribeirinhos. A poesia não é mesmo a arte de ver o invisível? o invisível não é a arte do impossível? Quando fala de borboletas, Ivan toma-lhe a primeira pessoa e se apodera das asas, da leitura e da transcendência desse animal. Quando fala de riacho, é porque bebeu todo ele. Quando cita a ovelha, é porque berra com ela, lambe e cria com ela, dá-se ao sacrifício com ela e ressuscita em palavras com ela.”
TEXTO EM PORTUGUÊS - TEXTO EN ESPAÑOL
LINGUAGENS – LENGUAGENES /Edição bilíngue Português / Español. organização Menezes y Morais; tradução Carlos Saiz Alvarez, Maria Florencia Benítez, Lua de Moraes, Menezes y Morais e Paulo Lima.. Brasília, SD: Trampolim, 2018. 190 p. (7ª. coletânea do Coletivo de poetas) ISBN 978-85-5325—035-6. Ex. bibl. Antonio Miranda
POEMA QUASE SEM SENTIDO
Poema reproduzido e roubado
de um esquecido raio de sol
Que deita sobre o telhado
do vizinho jogador de futebol
Pasteurizado com alho e sal
e manteiga lá do Caracol
Poema meio esculhambado
todo cagado de passarinho
Verso com cara de delegado
Riso guardado cheio de carinho
A palavra que faltava
para enfeitar
o poema encardido de amor
acaba de chegar
duma longa viagem
Tá sentada lá no canto da sala
se escondendo num vestido transparente
pintado de toda cor
calada acanhada e sem jeito
No rosto nem prazer nem dor
Acaba de chegar do fundo do peito
moça sem modo e sem estilo
Foi longa muito longa sua viagem
Seu olhar é luar de estranho brilho
O coração é sua única bagagem
TEXTO EN ESPAÑOL
Poeta, profesor y novelista Ivan Silveira Braga nació en Santana dos Brejos (Bahía). Publicó Cartas Brejeiras - Poesía de um mogo doido pela vida (s.f.) y Romance de Almas na Florada (poesía, 2006). Para el compositor, cantante y poeta Aloiso Brandão, Ivan Braga «es el poeta de los pájaros, de las lagartijas, de las mariposas, de los arroyos. ¿No es la poesía precisamente el arte de ver lo invisible? Y ver lo invisible, ¿no es el arte de lo imposible? Cuando habla de mariposas, Ivan lo hace en primera persona y se apodera de las alas, de la lectura y de la transcendencia de ese animal. Cuando se refiere a un arroyo, es porque se lo bebió todo. Cuando cita a una oveja, es porque bala con ella, lame la cría con ella, se entrega al sacrificio con ella y resucita en palabras con ella».
POEMA CASI SIN SENTIDO
Poema reproducido y robado
da un olvidado rayo de sol
Que se echa sobre el tejado
del vecino jugador que marca gol
Pasteurizado con ajo y sal
y mantequilla de allí de Caracol
Poema medio embrollado
todo cagado de pajarillo
Verso con cara de delegado
Risa guardada llena de cariño
La palabra que faltaba
para adornar
el poema abarrotado de amor
acaba de llegar
de un largo viaje
Está sentada en un rincón de la sala
se esconde en un vestido transparente
pintada de todos los colores
callada cortada y sin gracia
En el rostro ni placer ni dolor
Acaba de llegar desde lo profundo del pecho
joven sin ademanes ni estilo
Fue largo muy largo su viaje
Su mirada luz de luna de extraño brillo
El corazón su único equipaje
FINCA-PÉ. COLETIVO DE POETAS. Organizador:
Menezes y Morais. Brasília: Thesaurus, 2011. 280 p.
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
AUSÊNCIA DE PALAVRAS
Velha mania
de escutar
a música das asas
que não vejo
da beija-flor que passa
e já passou
Velha agonia
de espiar
a cor das brasas
de guardar nos lábios
a flor das asas
que não vejo
Não beijo
morto e vivo na dor
no céu da boca do meu amor
PENAVOEIRO
Vale a pena escrever
mesmo de mal com o espelho
Mesmo com medo da chuva
o temporal levou a casa
Levou meus versos
O povo inaugurava a ponte
A cheia carregou até a Igreja Matriz
O retrato da menina foi no rabo da onça
Vale a pena escrever
mesmo sem os óculos
Mesmo com medo da noite
Raio sem coração rasga a razão
Sofre sua pele macia da mocidade
marcada pelo fogo dos espinhos
Desce com o corre-corre das águas
Morre com a infância sem carinho
Vale a pena escrever
mesmo sem os dedos
Mesmo sem as estrelas
Vale a pena até viver
sem sonhar
sem morrer
O canário do sol debaixo d´água
canta um calendário pregado na esperança
Vale a pena escrever
mesmo no ermo de nada ler
Relâmpagos poemas pelas retinas
por entre escombros ratos e lágrimas
Encontro um livro de Cruz e Sousa cantando
um samba de Elza Soares libertando
Sete cabras berrando dando de mamar
e um pensamento me torturando lá no Ceará
Taguatinga (DF), 27.02.2010
*
Página ampliada e republicada em setembro de 2025.
Página publicada em janeiro de 2020
|