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IOSITO AGUIAR
Escritor, professor, jornalista, publicitário, já aposentado, é natural de Paramirim - Ba (1941), reside em Curitiba-PR. Publicou, em poesia: O Andarilho, Opus Inconcluso, Anjo Silencioso, Um Auto de Amor, Poetamente e In Illo Tempore.
IARARANA – revista de arte, crítica e literatura. Salvador, Bahia.
No. 2 – 1999. Ex. bibl. Antonio Miranda
Além dos signos
Para Carmen
Ao desnudar-te revivo o arcaísmo
Encravado na memória do signo
Corpo incorpóreo de meus sonhos!
Mimetizas meus sentimentos }
hipertrofiando-me a razão
És o diabo que rasca a minha fé
Transformando-a em metáfora
Para ordenar minha ferocidade
Medusado pelo atávico mito
Trago-te nas entranhas da alma
Es minha palavra perdida e eu te amo
Esse amor
— síntese do meu instinto intuição -
E a postura mística deste poeta
(a demiurgia explica os sentimentos)
Postura essa que me leva a tatear
0 coletivo universo plurilingue
Esse sentimento me faz cantar
Essa canção que só a poesia pode conter
Despossuído de competência
Psicografo um discurso "non sense"
Estabelecendo pelo avesso
Os limites desse sentimento
Assumo a negação da lógica
Substancializando a metáfora
Sou um anticlássico
Opero imagens incongruentes
Tua imagem está inscrita em mim
Levando-me aquém e além da sensatez
Numa dissolução que recria o mitificado
Explicitando os limites do utópico
Juntos produzimos falas
Que transcendem as convenções
Deslocamos as designações correntes
Porque propomos nomes
Que nada têm com a imagética neoplatônica
Juntos adotamos essa postura
Como mímesis de uma ideia além dos signos
Juntos efetuamos a unidade na multiplicidade
Sinônimo de pensamentos
Jamais tocados por enunciados
Nada negamos, nada delegamos
Porque nada somos sendo tudo
Fazemos nossa fala afirmar nosso projeto
O erótico jamais perturba nossa ordem
Nosso fundo, como forma do informe, produz o racional
Na inconsútil linha do indeterminado
Ah, somos inapreensíveis
Para os que operam na dimensão:
Idealidade-matéria, razão-loucura
Abandonamos as formas clássicas
Nossa excedida ação tem voz própria
Deixamos de traduzir o temporal
Porque somos unos
Excedemos a justaposição dos opostos
A caducidade das formas
Nosso procedimento é regra de um Viver Maior
Obtido pela assunção do impensado
Assunção que nos faz falar e pensar
Além da ironia, aquém da contradição
Só precisamos estar juntos e de mãos dadas
Afinal, ousamos viver o imaginário.
Página publicada em junho de 2019
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