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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto extraída de: www.portaldafeira.com.br

 

                           

IDERVAL MIRANDA

 

Possui graduação em Letras pela Universidade Estadual de Feira de Santana(1976) e mestrado em Lingüística pela Universidade de Brasília(1998). Atualmente é Professor assistente da Universidade Estadual de Feira de Santana.

 

 

 

 

 

 

MIRANDA, Iderval.  O azul e o nada.   Prefácio: Antonio Brasileiro.  Capra: Juraci Dórea.  Feira de Santana, Edições Cordel,1987.    33 p.        (Série Iniciação, 11)   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

        DO MAR E DA LOUCURA

 

       1.
diz-se o amor,
o divino
em sua proximidade.

2.
a loucura,
ele mesmo
em sua simplicidade.

3.
juntos,
ainda ele
em sua totalidade.

 

 

            

             NOTURNO

quem
dentro da noite
desperta

eu
ou o outro
que sonha?

 

 

 

                    MAR

marcado de mar
ressalto de água e sal
e vento e céu e mar.

mar e mar
marcando o ir e voltar do sempre
mar,
sempre mar, sempre mar, sempre mar.

 

  

 

 

HERA – 1972-2005.  Edição fac-similar.  Antonio Brasileiro, Juraci Dórea, Roberval Pereyr, Rubens Alves Pereira, Trazíbulo Henrique Pardo Casas, organizadores.  Salvador: Fundação Pedro Calmon; Feira de Santana: UEFS Editora, 2010,   712 p.           . ilus. (Memória da Literatura Baiana). ISBN 978-85-99799-14-7    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

         CONTESTAÇÃO

         1.
Louco, eu sou um louco, me calo
nada mais digo.

         2.
Louco, o homem está louco, me calo
nada mais digo.

         3.
Louco, o mundo está louco, me calo
nada mais digo.

         4.
Louco, deus está louco  me calo
nada mais digo.

         5.
nada mais digo.


EFEITO

         deixou o copo vazio
a garrafa vazia
no balcão do bar
e saiu

         confusamente
atravessou
ruas e avenidas
e
morreu atropelado
na madrugada anterior,

 

         LAVRA

         no espelho
a imagem lavrada na face

         na face
o sofrer lavrado na pedra

         na pedra
o poema lavrado na imagem

         na imagem
a morte lavrada nos olhos

         nos olhos
o brilho do sangue/da morte

         na morte
questão de tempo.

 

TRANSIÇÃO

         demônios
         rasgam
         ferem
         distorcem
         o cerne
         dos sons altissonantes

         deus é ouvinte

         e

         seu útero
         ébrio de SPQR
         rompe-se
         descarregando cinzas
         sobre os céus
         de Washington DC

 

        
         CONCLUSÃO

         o poeta
         é um parvo
         pois
         julga mais importante
         encerrar a vida
         em quatro ou cinco versos
         do que vive-la
         como fazem as pessoas de bom-senso

 

 

POEMAS DE FEIRA

 

         BECO DE MOCÓ

         o intelectual
e seu romance sempre inacabado

         a farmácia de cumpadinho
e os velhos genecocos
suspirando pelas tristes samambaias
já apodrecidas

         juventude e saudade

 

         BECO DA ENERGIA

         os copos
ainda guardam as marcas
dos lábios gastos pelo tempo

         alegria e tristeza
varando a marechal deodoro

        

         RUA DIREITA

        posto que faziam amor
em plena rua
foram apedrejados
sem dó nem piedade

         o terno em farrapos
do artista da radio sociedade

         o violão
e a vontade de morrer de aristeu queiroz

 

         SÃO JOÃO

        o cálice de licor
e a bela pedrada
no grande balão amarelo

 

         MICARETA

                meu padrinho
e seu certeiro pontapé

 

         minha tia
uma onça em prantos porque puxaram o seu rabo

        

         minha mãe
o guaraná e a quarta parte da maçã

 

         depois
o medo de quebrar o óculos
na frente do trio elétrico

        

 

 

 

MIRANDA, Iderval.   Festa e funeral.   Salvador: Fundação
Cultural do Estado da Bahia, 1982.   117 p.  (Coleção dos
Novos, Série Poesia, V. 8)

 

        INVERNO

 

        o círculo eterno do silêncio e do medo
a velhice a chuva a lucidez
o desejo
deus e todas as questiúnculas da
poesia tupiniquim  

       

       

       BECO DO MOCÓ

 

        o intelectual
e seu romance sempre inacabado

a farmácia de cumpadinho
e os velhos gonococos
suspirando pelas tristes samambaias
já apodrecidas

        juventude e saudade

 

 

       CLASSIFICADO

 

       vende-se
por motivo de viagem
oito testículos e dois livros de poesia

 

 

       CRÍTICA LITERÁRIA

 

       a poesia banha-se naturalmente
na fonte eterna do sofrimento humano
eles não sabem disso
e a procuram no circo das pulgas em paris

 

HERA 20 – Abril 2005.  Direção: Roberto Pereyr.  Capa: Juracy Dórea.  ISSN 9191-1065   Ex. biblioteca de Antonio Miranda 

 

 COMO SE FOSSE UM TANGO
(Última versão)

todas as sementes do nada
e a sempre falta.


COMO SE FOSSE UM TANGO
(Segunda versão)

pequenas fantasias dispostas na ferrugem do tempo
tremores de voz, alguns poucos soluços
meias palavras, profundos silêncios
sombra, réstia de luz
segredos por trás da cortinas
todos os pecados do kama sutra
banho e purificação, trezentas ave-marias e quatrocentos
[padres-nossos
fogo, vulcão, tormento, sublimação
palavra escrita, código e permanência
abismo, salto, espera
última chama, adormecer, razão
todas as sementes do nada
e a sempre falta.

 

COMO SE FOSSE UM TANGO
(Primeira versão)

O que quer você?
O estojo das pequenas fantasias
Dispostas na ferrugem do tempo?
Nada a dizer. Larga é a distância.

 

O que quer você?
Sombra, réstia de luz,
Os segredos por trás das cortinas?
Nada a guardar. Larga a distância.


O que quer você?
Todos os pecados do kama sutra,
A purificação no banho ungido em trezentas aves-marias e
Quatrocentos padre-nossos?
Nenhuma salvação. Larga é a distância.


O que quer você?
Ainda o fogo, o vulcão, o tormento
A sublimação pela palavra escrita,
Inodora, comedida e secreta?
Nenhum sinal. Larga é a distância.


O que quer você?
Novamente o abismo, o salto, a espera.
A chama, o adormecer, a razão?
Nenhum nada. Larga é a distância.

 

*
Página ampliada e republicada em março de 2024.

 

 

        

            

 

Página publicada em dezembro de 2018; ampliada em maio de 2020.

 


 

 

 

 
 
 
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